A minha diversão (e pequeno sofrimento) ao despertar e tomar café da manhã é dar uma fuçada nas minhas lembranças do Facebook. Quase 80% das publicações de 5 ou 8 anos atrás me dão um sentimento misto de saudade e vergonha por tanta bobeira publicada e oversharing. Lembro que naquela época eu adorava fuçar blogs, páginas do Orkut, perfis do FB e por ai vai. Hoje me sinto um eremita digital, mas tenho meus motivos.
Minha conta no Facebook está largada. Tenho uma no Instagram que curto postar vez ou outra alguma foto “artística”. As vezes entro na busca do aplicativo pra ver se encontro algo legal, mas tirando alguns perfis interessantes de fotógrafos, sou engolido por uma avalanche de barrigas trincadas, peitos e bundas, menina empoleirada no menino fazendo pose de yoga no meio da areia, brincadeira babacas com ilusão ótica e o menino esmagado no deserto de sal pela gigante menina e por ai vai.
Tirando esse chorume visual, o pior são os ~influencers~. Em muitos casos, pessoas sem nenhum compromisso com o conteúdo que encontraram um bom nicho de mercado para ganhar audiência e consequentemente dinheiro (ou então permutas).
Dia desses dois casos me chamaram a atenção, obviamente que ambos chegaram a mim pela minha janela com o mundo digital, minha namorada.
Semana passada estava na seca de filmes e seriados, na busca incessante no IMDB por algo que preste, quando ela veio cheia de dedos comentando que tinha uma série que todo mundo estava comentando, que é super legal, e blablabla. Chama-se La Casa de Papel.
Li o resumo e me deu aquela sensação de deja vu mesclada com preguiça. Dei uma chance para o primeiro capítulo de 1:20 de duração. Assim que começou a trilha sonora sem fim pra prender a atenção, jogos de câmera e takes típicos de besteirol americano e uma cena que parecia a escolinha do professor Raimundo da bandidagem eu tive que parar. Foram 40 minutos da minha vida que nunca voltarão.
Tentando ser muito amável eu perguntei aonde ela tinha lido que aquilo era bom e ai surgiram nomes de influencers. Como já trabalhei com isso, provavelmente eles ganharam uma grana para fazer a “recomendação”, ou pior, simplesmente não possuem critério algum para recomendar uma série/filme.
Porém, o caso que mais me incomodou foi o de Bonitinho (esconderei sua verdadeira identidade) que certa vez minha namorada comentou ser um perfil que eu deveria analisar.
Por obra do destino, trabalhei com Bonitinho muuito tempo atrás. Naquela época ele fazia um sucesso absurdo com o sexo oposto. Levava pra cama quem quisesse. Não era muito afeito ao trabalho e gostava de um pó, mas sua beleza animava reuniões e fechava muitos contratos.
Bonitinho decolou na vida e até na TV foi parar. Só que a vida nos manda boletos pelos excessos que cometemos quando novos e com Bonitinho não foi diferente. O vício consumiu Bonitinho que depois de 10 anos já não era mais bonito, ficou balofo e depressivo.
Porém, Bonitinho deu uma virada de mestre. Conseguiu se livrar do vício, mas não do peso. Foi então que ele levantou a bandeira Dove da real beleza. Hoje, Bonitinho é um ~influencer~ que posta fotos barrigudo, de como devemos gostar do nosso corpo e não virar escravos da ditadura da beleza.
Eu não poderia concordar menos, se não conhecesse o histórico de Bonitinho. Hoje me soa um pouco oportunista e hipócrita.
Bonitinho não tem biótipo obeso, com reeducação alimentar e exercício ele poderia estar em seu peso ideal/normal. Porém, seja por preguiça ou pela conveniência de ter achado um nicho tão rentável e com audiência, ele induz seus seguidores a aceitar seu corpo como estão e não como são. Ao invés de estimular a pessoa buscar a solução para o seu problema, Bonitinho vende uma fórmula barata de auto aceitação que resolve o problema apenas nos 30 segundos que seu público engole a publicação.
Talvez eu esteja sendo rabugento de mais e devo entrar na onda dos influencers. Vou criar uma série de vídeos trajando sunga branca e máscara do Zorro e cagarei dicas de como atrair o homem perfeito pela força do pensamento. Aceito permutas.