Coitada da Fátima

Não sou um grande usuário do Facebook, e as raras vezes que mexo por lá é como se eu cutucasse um balde d´água com areia no fundo, a coisa fica turva.

Tenho mais de mil “amigos”, mas não me lembro de onde conheci metade deles. Normalmente, quando alguém posta algo que não curto dou unfollow, só que o Facebook não desiste e tal qual um vendedor de óculos da Chilli Beans, ele me sugere novas opções. No caso, aparecem posts dos “amigos” que eu penso onde diabos conheci uma pessoa que compartilha foto de uma gordinha sentada num golfinho moribundo, por exemplo.

Amigos a parte, tem uma funcionalidade curiosa: a Solicitação de Mensagem, uma espécie moderna de Caixa de Spam pra quem acha que te conhece tentar interagir. O Facebook não avisa se alguém mandou mensagem por lá e ai quando me dou conta há dezenas de mensagens de leitoras que me encontraram (até ai ok), alguns robôs querendo roubar minha senha do FB (sabe lá o motivo) e um ou outro maluco. Um caso do último grupo ocorreu nessa semana.

Antes cabe contextualizar como o goiaba me encontrou.

Conheci a Fátima na faculdade. Eu ainda era meio esquisitinho naquela época. Tinha acabado de me mudar de Santos para São Paulo e com a mudança levei todo mau gosto caiçara, como gel de cabelo, regatas, chinelas, colar e demais alegorias praianas. Uma aberração em uma faculdade tão ~sofisticada~ como a que eu estudei.

Pra piorar, eu havia transferido de uma faculdade (ruim) para outra (boa) e como a carga horária e grade curricular tinham um pequeno abismo entre as instituições, tive que fazer várias matérias de adaptação em tempo recorde (um semestre) para não parecer um retardatalho nos anos seguintes. Eu ficava feito um peru louco pulando de sala em sala das 7:00 às 16:00.

Resumindo, eu não tinha o perfil da faculdade, nem me estabeleci em nenhuma classe naquele período. Isso fez com que eu não fizesse nenhuma amizade, exceto a Fátima. Ela era muito gente boa, mas não tínhamos nada em comum, ficou apenas a amizade que o tempo fez com que desaparecesse após o término da faculdade.

Meses atrás ela me adicionou no Facebook, tivemos praticamente uma conversa de elevador, e ela voltou a ser a areia no balde d´água.

Nessa semana Fátima mandou um novo pedido de amizade. Como havia mensagens antigas na sua página, logo deduzi que por algum motivo ela tinha me deletado. Não entendi o motivo, já que ela quem me adicionou e nossa rápida conversa não deu tempo de ela pegar bode de mim.

Eis que aparece o goiaba.

Nessa semana, na minha ronda pela Solicitação de Mensagem, um cara mandou essa pergunta: “Olá amigo. Desculpe perguntar, mas de onde você conhece a Fátima?”. Antes de responder essa mensagem babaca, obviamente fucei o Facebook de ambos.  O dela não tinha resquício algum de namoro (ou compromisso), apenas de um filho de (sei lá) 1 ano de idade. Fui então ao perfil do cara e descobri que ele é o pai da criança (e talvez) o ex dela. Tentei resistir, mas acabei dando um esporro nele (que deve ter uns 40 anos de idade).

Poxa, a Fátima era uma pessoa bacana, fiquei surpreso de ela se relacionar com um tonto. Pensei durante alguns dias se deveria entrar em contato com ela, tinha receio de parecer fofoqueiro. Resolvi visitar o perfil dela e buscar novidades, e pra minha surpresa não éramos mais amigos (de novo). Pensando bem, talvez eles se mereçam. Coitada da Fátima.