Diário de viagem (parte 1) e alguma coisa de relacionamento

Vez ou outra algum conhecido me pede dica de país pra visitar.  Algo tão genérico como pedir indicação de um “filme bom”. Sempre retorno com algumas perguntas mais especificas como qual o objetivo da viagem, se gosta de natureza, culinária, se está disposto a choques culturais/sociais, se está com grana, etc.

Porém, considero alguns países como clássicos Blockbuster, conseguem agradar a quase todos (como Espanha, que tem praia, comida/bebida, museu, montanha impecáveis), e alguns são como filmes da Sessão da Tarde, não tão ruins, mas você poderia estar assistindo algo melhor. Nesse último quesito eu enquadro a Indonésia. Sempre ouvi que Bali era um lugar incrível, lindo, cheio de energia e tal.

O que encontrei, porém, foi um trânsito caótico, locais vendendo até corda de varal pra turista, povo pouco cortês e praias meia boca. Fui na indicação de guias de viagem e me hospedei na praia de Seminyak, na cidade Ubud e a ilha Gilli Air. A primeira é completamente descartável, a atração mais famosa é um templo que mais parece uma casa de árvore (e eu já vi casas mais bonitinhas); Ubud é o ponto alto, a culinária é incrível, a cidade charmosa e o povo mais simpático; Gilli Air é tranquila e até tem umas paisagens bacanas, mas ela faz parte da parte islâmica da Indonésia e minha namorada sofreu um pouco por lá, desde recusas a entrar em estabelecimentos (por estar de regata) até homens querendo beijá-la por andar sozinha e vulgar com seus ombros de fora e saia.

Talvez eu não tenha visitado as melhores partes do país, mas dos sete países que visitei do sul asiático, Indonésia está no fim da lista.

Por outro lado, Filipinas me surpreendeu.  A hospitalidade do povo, alegria, e as praias são incríveis. É um dos poucos países na Ásia majoritariamente católico e com a ocupação de espanhóis e americanos por séculos, eles ficaram mais ocidentalizados, o que traz uma sensação de familiaridade e identificação maior.

Porém, há problemas que valem menção. Filipinas me lembra o Brasil de 30 anos atrás, com pessoas penduradas nos ônibus, nenhuma lei de trânsito e nego jogando lixo no meio da rua.

Contudo, a prostituição desenfreada é o pior deles. É comum ver um monte de velho europeu com meninas novinhas, que sem muita opção pra melhorar de vida, encontram nessas múmias uma salvação. Um caso me chamou a atenção.

Certa noite, estava minha namorada e eu no bar, quando apareceu um canadense de 63 anos que parecia um cruzamento do Felipão com uma coruja. Ele era até que simpático e perguntou se podia sentar na mesa conosco, aceitamos e ficamos conversando sobre generalidades. Cerveja vai, cerveja vem, ele quis nos mostrar fotos de como estava a neve no Canada. Só que ao abrir o álbum apareceram as últimas fotos que ele tirou com umas garotas de cerca de 20 anos na cama, banheira, e até do lado de uma árvore de Natal. Uma coisa assombrosa e nojenta. A conversa deu uma esfriada e minutos depois apareceu outro canadense, esse mais “novo” (49 anos), mas aparentava 60 e era imenso. O cara é bem sucedido na sua área, gerenciava pequenas construções.

Os dois canadenses não se deram muito bem e o gordinho me chamou de canto pedindo desculpas para eu não considerar os canadenses toscos e chucros como o Felipão-coruja. Levei numa boa e depois de um tempo o coruja foi azarar umas novinhas na pista (uma cena macabra) e a conversa seguiu com o gordinho.

Lá pelas tantas ele começou a abrir o coração. Disse que possui um filho maravilhoso, que o ama e tal, mas tem um arrependimento na vida, de não ter casado com uma mulher inteligente. Então ele me mostrou uma foto do garoto, e apesar do gordinho ser loiro de olho claro, o menino era moreno e com os olhos levemente puxados. Minha namorada, pouco discreta, indagou-o a respeito da aparência, foi então que nosso amigo respondeu que sua mulher era filipina.

Reitero que o povo filipino é extremamente educado e simpático, mas parte das mulheres pensa apenas em casar com alguém bem de vida para sair da pobreza, e pelo visto foi o que ocorreu com o canadense. Ao abrir seu coração, ele falou que a mulher é maravilhosa (ela tem 27 anos), mas que casou cedo (quando ela tinha 19) e que ele tinha vergonha de leva-la em eventos sociais, pois sempre passava vergonha.

Ficou um clima chato, mas seguimos na conversa e ai o cara se mostrou uma pessoa egocêntrica, materialista e pedante. Esfriei a conversa e fomos embora.

Nessas horas eu me lembro de uma frase de um tio que dizia que macaco anda com macaco e girafa com girafa. Muitas pessoas se fazem de vítima por ter um relacionamento meia boca e colocam a culpa no parceiro. O que poucas percebem é que elas atraem trastes, pois são tão piores quanto o parceiro. É óbvio que há casos que simplesmente rola uma decepção depois do convívio, mas ter essa percepção depois de casar e ter filho soa hipócrita.