Crise dos 30

Depois da volta ao mundo tenho refletido bastante sobre minha vida, ainda mais agora na casa dos 30 em que se espera que ela esteja “encaminhada” e definitivamente, no meu caso, está longe disso.

Na real, logo que nascemos recebemos um script da sociedade. Basicamente é: estude, entre em uma boa faculdade, tenha um bom estágio/emprego, encontre um bom parceiro, case, compre uma casa/apartamento, tenha filho(s) e morra. Pronto, sua vida teve sentido.

Só que hoje, quando você chega na casa dos 30, e tem algo na cabeça, esse script começa a ser questionado. Na minha opinião,  ele faz sentido apenas nas duas pontas, estudar e morrer. Quando você estuda, (e isso não significa apenas estudar no sentido acadêmico, mas ter curiosidade sobre o desconhecido, ler sobre diversos assuntos) sua mente expande e você passa a ver o mundo e as relações de uma forma mais madura e consciente, sem cair em padrões de comportamento que aquele seriado americano idiota apenas replica.

Já imagino muitas me questionando se não é bom entrar numa boa faculdade, ter o homem dos sonhos, um puta emprego, comprar um apartamento, ter filho e tal. Até é, mas o problema é perseguir algo apenas pra cumprir um objetivo que as vezes não faz sentido para você, apenas social. Além disso, há o risco de frustrar-se tentando alcançar algo impossível e/ou com um custo emocional e financeiro alto.

Falarei um pouco sobre minha experiência em cada um deles. E não, não virei um riponga esquerdista que acredita que o sentido da vida é se enfiar numa comuna e fumar maconha pra se aproximar de Jah (apesar de eu adorar Bob Marley).

Vamos lá:

Entrar numa boa faculdade – Esse é o primeiro desafio que nos cobram. Pra você despontar entre os demais, é fundamental entrar na ~federal / estadual~ ou naquela faculdade particular de ponta. Só que tomamos a decisão de escolher nossa profissão, quando mal temos discernimento e maturidade para qualquer escolha de longo prazo. Ai não raro há um número absurdo de pessoas que abandonam a faculdade, outras que desistem da carreira após anos ou que vivem amarguradas em um emprego odioso, mas que sustenta um bem estar material/social.

Não sou contra a faculdade, mas um número considerável de pessoas “bem sucedidas” (que na minha opinão são “felizes no que fazem”) não se graduaram.  E na minha experiência, meus companheiros de classe “bem sucedidos” hoje, eram medianos (ou péssimos) alunos. Quando eu era diretor na agência que trabalhava, os melhores funcionários que tive e os mais promissores não eram da faculdade A, mas da B. A faculdade na real não fazia muita diferença e sim a garra da pessoa, que normalmente faltava nos alunos da faculdade A.

Ter o homem dos sonhos – Esse ideal sempre foi reproduzido pela Disney nas suas princesas, que eram sonsas, dependentes e medrosas. Agora eles deram uma evoluída no padrão, mas o ideal de encontrar a cara metade ainda segue (por mais que seja um ogro verde fofo). Mas veja ao seu redor, seus pais, os pais dos seus amigos, casais de amigos, quem tem o homem dos sonhos? Muito menos da metade e pode ter certeza que nesse grupo “privilegiado” há apenas aparência.  Então coloque na cabeça que seu príncipe não existe, se existir será por um prazo e se você tiver muita sorte, mais muita sorte o prazo será longo (e nessa esperança todas as mulheres se agarram).

Um puta estágio/emprego –  Nos últimos anos da faculdade eu consegui aquilo que todos chamavam de “puta estágio”. Era numa multinacional americana que pagava uma baita grana para estagiário, mas era um baita trabalho de macaco. Depois de um ano e meio lá, comecei a ter bruxismo, engordei horrores, passei a ter pesadelos terríveis e vi que eu estava me prendendo em um lugar que eu odiava apenas por conta de um salário e status. Foi então que tomei a decisão de ir para uma agência brasileira onde eu seria o primeiro funcionário. Na época meus colegas de classe desestimularam, minha família ficou preocupada, meu mentor profissional sugeriu que eu pensasse melhor. Porém, segui meu instinto, acreditei e virei diretor. Só que, após 6 anos, quando aquele sonho começou a virar um pesadelo, o peso do “puta emprego” me manteve numa inércia que só mudou, quando eu me dei conta que novamente eu estava preso a um lugar por conta de um status social e material, como eu já falei em um post aqui.

O ponto é, eu tive um puta emprego não porque eu queria ser diretor, mas porque eu gostava do que fazia e o puta emprego foi consequência, não causa. Muitos profissionais que conheci buscavam um cargo e não uma realização profissional, ai a receita da infelicidade é certa, pois há centenas de outros querendo chegar no topo da pirâmide que só cabe um.

Comprar um apartamento – Se você não recebeu um pai-trocínio ou não pertence  a uma minoria da população, você não tem a mínima condição de comprar um apartamento/casa a vista (a não ser que seja uma palafita no interior do sertão). O sonho da casa própria vira um programa (ruim) da Dilma, e ai ou você assina um contrato quase escravocrata para financiar o apartamento em 532 anos ou fica pagando aluguel e muitas vezes jogando dinheiro no lixo. Tive uma educação fortemente lusitana e sempre fui incentivado a comprar um apartamento, mas não cedi e tudo o que sobrava de salário eu investia no banco. Se fosse seguir o conselho dos outros, mesmo que eu comprasse um apartamento, o aluguel desse imóvel seria metade do que consigo de rendimento hoje nas minhas aplicações.

Ter filho – Ser pai/mãe deve ser o máximo, mas colocar um filho no mundo hoje não é fácil. E isso não é um clichê de conversa de elevador. Veja o histórico da sua família e entenderá o que quero dizer. Meu avô, por exemplo, veio de Portugal sem nenhum estudo, virou estivador e teve onze filhos. Não tinha uma vida luxuosa, mas criou os onze numa boa. O meu pai conseguiu se formar na faculdade e mesmo com um inglês que aprendeu em fita K7, formou-se engenheiro, mandava muito bem no que fazia e conseguiu dar uma vida confortável para sua família.

Eu tive um emprego melhor que o do meu pai e mesmo com o salário que eu ganhava, eu jamais conseguiria manter dois filhos com todos os benefícios que meu pai proporcionou.  Hoje, eu não teria filho se tivesse que passar necessidade ou não ter condição de fazer o que mais gosto, que é viajar.

Como eu disse, não quero passar a mensagem aqui que defendo uma ruptura do modelo social, só que esse modelo está com defeito e a ferramenta pra arrumar não está em livro de auto-ajuda, nos conselheiros pessoais, ou no último nobel de Economia, mas em você. Cabe apenas você fazer uma autocrítica e lá dentro, sem ninguém julgando ou dando conselho pensar “É, eu estou satisfeita”.  E talvez tudo o que falei seja uma bobeira pra você.

Retomando o último ponto, todos iremos morrer. Eu quero chegar no final da trilha, olhar pra trás e pensar “Foi do caralho”. Sempre quando hesito nas minhas decisões ou tenho receio do futuro, penso em um poema do Robert Frost. Deixarei o final dele, se quiserem ler o integral, só clicar aqui.

“Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,
nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:
a estrada divergiu naquele bosque – e eu
segui pela menos viajada,
e foi o que fez toda a diferença”

Espelho, meu…

Nunca me achei um cara feio, mas também nunca tive a ilusão de ser um baita gato. Sempre me enquadrei no padrão “normal” de homem com uma leve desvantagem por conta da minha altura e uma leve vantagem por ter algo a mais na cabeça que a média de homens da minha idade.

Se a pessoa não é um demônio de feia, acredito que a beleza vá além da questão física. Já me envolvi por mulheres que todos meus amigos (e até família) diziam ser sem graça (o diminutivo pra feia), mas que por terem personalidade, inteligência e humor ficavam bonitas para mim.

Hoje, vivencio algo parecido.

Por conter gastos e evitar viajar com um monte de mala, vim pra Australia apenas com duas malas sendo que uma quase cheia de camisa social e calça jeans, que eu praticamente nunca uso. O que sobra é alguns pares de camisetas e bermudas que me trazem a versatilidade estilística da Mônica e do Cebolinha.

Como se não bastasse, cortar o cabelo por aqui é uma tremenda de uma facada. Para ir a um lugar decente não sai por menos de R$100,00. Como meu cabelo cresce que nem moita e preciso podá-lo quase duas vezes por mês, não pago R$ 200,00 nem morto. Muitos por aqui compram máquina de cortar e se aventuram no self-coiffeur. Como tenho muito redemoinho, cortar em casa sairia uma bela merda, não arrisco. O que resta é me aventurar nos salões de bairro e que a cada investida é uma caixinha de surpresas desagradáveis.  Na semana passada deixaram minha cabeça parecendo um Rapa Nui.

Mas como eu disse, a aparência física pode ser relevada se você possui auto-confiança e atributos internos que compensam “falhas” externas.

Só que como vocês podem ter observado pelos últimos textos, apesar de muitas coisas estarem dando certo, meu estado de espírito definitivamente não estava dos melhores.  Então, isso somado com roupas limitadas e cabelo mal cortado, exalo uma energia negativa que nem os bebes do metro, sempre muito simpáticos comigo, não olham pra minha cara.

E isso vira uma bola de neve que se você não para pra analisar a situação com calma, cai na depressão e tudo parece agir contra você.

Ontem mesmo, olha que situação ridícula. Tive um pesadelo terrível e acordei no meio da noite sem sentir meu braço direito. Levantei-o com o esquerdo e ele estava mole e inerte. Fiquei preocupado. Sacudi a minha mão direita dormente para  ver se o sangue descia e senti os calos e quão grossa ela esta. Na mesma hora pensei que isso devia incomodar as pessoas. Levantei da cama e minha coluna travou, fui ao banheiro, esvaziei o joelho e olhei pra mim no espelho. Estava torto, com o cabelo do Rapa Nui e o shorts do Cebolinha. Fiquei abatido.

No outro dia, um domingo, resolvi não trabalhar e tirei o dia pra mim. Fui pra academia, me alonguei bastante, comprei um bom vinho e fui pra praia sozinho ler e relaxar. Depois de virar uma garrafa, pegar um bronze e estar com o cérebro menos crítico. Mentalizei coisas positivas, voltei pra casa a pé e cheio de confiança. Não peguei ninguém no caminho, mas recebi bastante olhares interessados e isso já fez muita diferença.

Vejo um pouco desse “problema” nas histórias da Sexta das Leitoras, em que as garotas fazem questão de falar que são maravilhosas e perfeitas fisicamente, mas são tão vazias e bobas que não me admira os caras não as levarem a sério, apenas como uma trepadinha casual, pois apenas possuem a oferecer uma lataria bonita. Por outro lado, outras se colocam pra baixo, que estão fora de forma e tal. Obviamente que ter a autoestima alta não vai fazer você emagrecer ou diminuir o nariz, mas fará com que outras qualidades apareçam. E pessoas auto confiantes sempre chamam atenção.

Marla e eu (e a crise moral)

Para não ficar completamente por fora do que acontece no Brasil, costumo diariamente ler notícias do país, mas tenho vontade de chorar a cada matéria. Como se não bastasse tanta incompetência gerencial da nossa querida presidente, o país vive uma crise moral que excede partido. Além de todos escândalos em que o PT estuprou o Brasil, agora aparece desvio de verba de merenda do Alckmin. É de cair o cu da bunda.

Isso foi reforçado por um texto que bombou recentemente, daquele gringo (Mark Manson) que, apesar de algumas groselhas, falou uma verdade sobre a crise que passamos: a culpa por tudo isso é sua, é minha, é nossa.

Bom, na real não é algo tão revelador. Sergio Buarque de Holanda já tinha comentado em Raízes do Brasil que as nossas atitudes são uma consequência da nossa colonização, e nosso erro é não refletir sobre ela e parar de reproduzir padrões de comportamento e valores que nos afundam ainda mais. Porém, todo reforço é válido.

Fiz toda essa introdução, pois ontem eu agi exatamente como não deveria. Ao saber do ex-presidente FHC e sua amante, pensei: “Mas que caralhos, até o cara que eu sempre considerei foda está sujo”. E ai refleti com mais calma e lembrei da Marla e eu.

Na época que a conheci, eu já namorava, mas o namoro seguia com picos e baixas, com um excesso de química e uma falta de respeito de ambos os lados, como já falei aqui.

Marla era da minha classe do MBA e assim que a vi pela primeira vez, não conseguia imaginar outra coisa a não ser eu dentro dela. Ela era meu número, tinha estilo, mas quando abria a boca saia tanta asneira que dava pena daquela Ferrari com chassi de Fusca.

Porém, na época era aquilo que eu buscava. Uma diversão para dar umas escapadas, sem nenhum risco de compromisso.

Na segunda semana de aula a classe já estava mais integrada e combinamos um happy hour depois da classe. Fomos para um bar, todos começaram a beber bastante e não parávamos de trocar olhares. Ali mesmo na mesa a adicionei no Facebook e enquanto interagíamos friamente no mundo off-line com nossos amigos de classe, a coisa começava a pegar fogo no mundo on-line.

A conta chegou, pagamos e todos começaram a voltar ao estacionamento. Nós andamos em marcha lenta, viramos em uma rua deserta e ali começamos a nos pegar de uma forma irracional. Era uma química absurda. Levei-a para casa e transamos ali no meio da sala, sem preocupação com banho e tal.

Nosso caso durou uns dois meses. O ápice foi uma vez que a levei para a casa dos meus pais (quando eles não estavam lá) para curtir um fim de semana na praia. Encontrei com uma tia na orla da praia, que feliz(ou infeliz)mente a confundiu com a minha namorada e não deu nada. Naquela noite teve uma situação que me fez cair na real do que fazia.

Estávamos nas preliminares, e o ventilador de teto bombava para dar conta do calor africano e da nossa atividade. Por uma obra do destino, segundos depois dela mudar de posição e virarmos de lado, o lustre da lâmpada do ventilador soltou e caiu na cama, onde ela estava com a cabeça. O cobertor amorteceu a queda e não deu nada. Porém, dia seguinte fiquei pensando a merda que seria se aquilo tivesse acertado a cabeça da garota. Além de uma lesão grave, minha família e ex tomariam conhecimento do que eu estava fazendo. Não seria legal.

Depois daquele final de semana resolvi por um ponto final na história e na segunda-feira chamei-a para conversar. Não revelei que eu namorava, pois não queria que ela fizesse uma besteira. Apenas disse que não queria uma relação séria naquele momento e achava melhor sermos apenas amigos (uma desculpa idiota, mas nessas horas não tem muito o que falar a não ser uma idiotice).

Hoje, com mais maturidade e depois do episódio que citei acima sobre o FHC, reflito melhor sobre a minha atitude saindo com Marla. Eu agi como mais um daqueles que sempre critiquei. Não pensei em ninguém, apenas em mim. E esse defeito não é algo exclusivo meu, mas o pensamento dominante no Brasil. Quando não é o egoísmo pessoal, tendemos a pensar primeiro no nosso grupo de amigos ou família ao invés da sociedade no geral. Isso numa esfera maior, como é o caso dos nossos políticos, toma um efeito ainda mais nocivo.

Enfim, hoje misturei política, vida pessoal, antropologia e relacionamento, mas eu precisava dar uma desabafada sobre esse assunto, pois um dos motivos para abandonar o país foi essa crise moral (que inclusive fiz parte) e não tem fim. Espero que o post sirva de reflexão para você também repensar as suas atitudes. Começando por baixo a gente muda lá em cima.

Sexta das leitoras – Ele ficou frio

“Já estou solteira há uns 2 anos, me envolvi com vários homens, conheci alguns bacanas mas que simplesmente não vingaram em relacionamentos.

Conheci recentemente um rapaz no Tinder (sim, é ridículo). Me pareceu interessante. Temos alguns amigos em comum o que facilitou a aproximação.

Cafa > Por que “ridículo”? Acho que se a pessoa não tem saco pra sair a noite e o círculo social dela só tem gente sem graça / desinteressante, o Tinder pode ser uma boa opção. E como qualquer coisa na vida, cabe você utilizar da melhor forma possível. Não culpe o aplicativo pelo seu dedo podre.

Certo dia, ele sabendo dessas pessoas em comum, me achou no facebook. Fiquei surpresa e até feliz de certa forma, pois sempre sou eu a dar esse passo de contato a mais.

Conversamos muito nos dias seguintes, havia (ou existiu só na minha cabeça) um carinho forte trocado entre nós. Ele queria uma relação, deixava explicito algumas vezes mas nada abusivo. Chamei ele pra sair então porque eu percebi que faltava aquele empurrão. Marcamos de sair na mesma semana.

Cafa > “Ele queria uma relação”. Morro de preguiça de pessoas que anunciam isso. Sempre me soa desespero ou mentira. Em ambos os casos, prefiro nem seguir em frente.

E cara, “carinho forte” no mundo on-line não existe. É muito fácil mandar um emoticon fofo enquanto faz coco, mas mostrar real sentimento no mundo off-line é beeem diferente. 

Em resumo desse encontro: foi estranho! Foi incomodo pra mim. Sou uma pessoa total espontânea, que fala com todo mundo e tal. Porém ele não. Ele já é aquele cara mais retraído, conversamos bastante porque eu tinha assunto, pois acho que se fosse esperar por ele a coisa ia fluir pior do que já foi.

Cafa > Tento entender mulheres como você. A princípio parecem decididas e cheias de personalidade, mas diante de alguns homens  (como esse) parecem que deixam o cérebro em casa e dão carona para a burrice. A única explicação que vejo pra isso é o cara ser boa pinta. Um bobo as vezes tem sucesso com as mulheres, agora feio e bobo só com as coitadas.

Disse-me inclusive que se sentia incomodado com o local porque não gosta de muita gente e que era tímido. O cara demorou pra me beijar, eu já não tava mais curtindo ficar no bar e esperando uma atitude a mais dele.

Na semana seguinte ele me questionou diversas vezes se eu havia gostado dele, do encontro e eu claro disse que curti mesmo não tendo sido lá aquelas coisas por causa da tal “timidez” dele que me incomodou.

Cafa > Veja só. Mais pra frente você reclama que ele não quis saber como você se sentia, mas ao respondê-lo você mentiu. O que vale então aqui? Omissão ou mentira? Já que sinceridade não existe.

Ele continuou com o carinho habitual de demonstrar que havia gostado de mim. Convidei ele pra vir até minha casa pois estava fazendo uma reunião com uns amigos, ele disse que não viria pois tinha vergonha e que com o tempo isso iria passar e que queria exclusividade minha atenção só pra ele.

Cafa > Eu entendo o cara em partes. Não há desgaste social maior que mal conhecer uma pessoa e ter que interagir com o os seus amigos. O “casal” mal possui histórico para ser compartilhado, que normalmente é um dos primeiros assuntos a serem abordados ao conhecer amigos. Ai sobram assuntos babacas ou frios para conversar, como a loucura do tempo ou o Zika vírus.

Saímos no domingo. O papo fluiu melhor, pude conhece-lo melhor e até achei mais agradável. Porém, lá pelas tantas fomos embora. Começaram as mãos bobas e eu deixei até certo ponto. Bom, pedi pra ele me levar a algum lugar pois não estava bacana ser afagada dentro de um carro. Ele me olhou com um jeito assustado,mas ligou o carro e fomos. Rolou sexo, obvio. Foi bacana,acho.

Cafa > Credo. Pela sua descrição não me pareceu nada bom. “Deixei até certo ponto”, “não estava bacana ser afagada”, “olhou com jeito assustado”, “Rolou sexo, obvio”, “Foi bacana, ACHO”. Esse final você coroou. Não senti uma entrega dos dois e sim uma frieza calculada. 

Mas não usamos camisinha (erro grotesco). Quando o ato acabou eu já senti ele estranho, quando me trouxe em casa mais ainda. Perguntei o que tinha de errado, insisti muito e ele me perguntou se eu tomava algo pra não engravidar. (Claro que eu tomo. Sou solteira, a probabilidade de eu conhecer gente nova é razoável então tenho que estar preparada). Mas só disse que sim.

Cafa > Não vou prolongar-me a respeito da camisinha, pois já escrevi a cagada que isso é (não usar). Mas faço uma observação sobre essa preocupação pós-coito. Na hora do vucu-vucu quase ninguém pensa na camisinha. Na cabeça de muitos homens, a preocupação é ainda menor, pois no final muitos sugerem que a menina tome uma pílula do dia seguinte. É uma atitude bem egoísta e inconsequente, pois pro gostosão não vai acontecer nada (se não pegar uma DST), mas a garota vai enfiar uma bomba de hormônio no corpo e desregular a porra toda.

Ele mudou comigo desde então. Me questionou de novo se surgiria algum problema termos transado sem camisinha. Começou a me evitar nas conversas, do tipo de estarmos falando de algo e ele vinha com vou ali, vou jantar,vou buscar nao sei o que e já volto. Ele voltava, mas só pra me dar boa noite. Ele me procurou dois dias mas continuava frio.

Já não era mais a mesma coisa, não existia mais carinho, as conversas mais curtas. Claro que numa burrada o questionei sobre o que havia de errado do porque tanta mudança de um dia pro outro, que se o que achava e sentia sobre mim havia mudado tão de repente, que se a vontade de estar comigo não existia mais que fosse sincero. As pessoas não precisam mentir pra gente, se quer beleza, se não quer beleza também mas que diga que ai ninguém perde tempo que tudo bem se o sentimento fosse só amizade. Ele disse pra eu não me preocupar, que deixássemos rolar (a tal amizade que eu perguntei?!)

Cafa > Olha a hipocrisia sambando na passarela. Já que você pregoa tanto a verdade, por que lá atrás não disse que o encontro tinha sido uma merda e que se ele não fosse mais sociável, era pra avisá-la de uma vez assim você não perderia seu tempo?

Já respondendo essa pergunta, por que simplesmente não tem cabimento. Há coisas que não precisam ser ditas, atitudes e sentimentos são um holofote na cara da pessoa dizendo “não temos nada a ver“ ou “eu não estou mais a fim de você”. Conversas curtas, falta de palavras de carinho, desinteresse pelos assunto do outro são evidências que falta sintonia ou que algo mudou. Não será uma cobrança ou encheção de saco que fará o amor voltar.

Resumo da ópera: ele não quis sair comigo no sábado, no domingo foi viajar pra cidade vizinha com uns amigos, não me mandou mensagem, nem sinal de vida. Hoje venci o orgulho e o procurei. Demorou pra me responder (estava trabalhando), as demais mensagens demorou pra ler pois eu via que ele estava online e quando respondeu não deu muita bola,  um smile pra ele foi o bastante. Eu disse que precisa sair e me despedi.

Porra, o cara me comeu e perdeu toda a graça? É isso mesmo? Ele pode me perguntar 500 vezes se eu havia gostado dele e do sexo, mas da parte dele Ok agir assim comigo?!  Quando eu o deixava minutos esperando no facebook ele vinha dizendo que o ‘abandonei’ e o deixei falando sozinho. Ele pode agir assim então, eu não?  Ele é do tipo que fica mais em casa, eu fico mais por aí. Não sou caseira, não omiti isso em nenhum momento. Saio mesmo, bebo sim, falo com todo mundo sim mas sou uma pessoa direita, não sou biscate que dá pra um hoje e outro amanhã caso ele tenha pensado isso.

Cafa > Não fique tão zangada. Entendo quão frustrante seja para algumas mulheres depois que transam com um cara, ele simplesmente desaparece ou fica frio. Tirando poucas exceções, isso acontece porque faltou encaixe. Olha só como você descreveu a primeira noite com o cara. Parece uma notícia (ruim) de jornal. Se eu, que não vi nada achei ruim, posso imaginar para o cara.

Deletei o Tinder, e me pergunto, e se eu não tivesse transado já no segundo encontro ainda estaria tudo bem, ou se mesmo que demorasse pra transar a frieza dele seria a mesma depois ?! Nunca me relacionei com homens que fossem retraídos igual ele, mesmo eu achando que ele também é inseguro.

Cafa > Na sua cabeça o cara pensou “ah, essa dai é uma safada, vou comê-la e me mandar” , certo? Por que mulheres tem tanto essa neura?

Enfim, seguindo esse raciocínio de que ele só quer te usar, pois te vê como uma tremenda piranha, por que raios do céu ele só comeria uma vez?? Já que você gosta da coisa, dá pra continuar comendo mais vezes sem compromisso. E ai quando você cobrar, hora de abandonar o barco.

Talvez por estar solteira há algum tempo, você já deve estar buscando uma relação séria e começa a olhar pra si para corrigir eventuais erros que lhe impedem de encontrar alguém. Só que aprenda a lidar com frustrações. Por mais que pra VOCÊ o sexo tenha sido bom, que a companhia do cara é agradável ou que ele te faz bem, de repente para o outro lado o sexo é meia boca e que com a convivência, você não era a pessoa que ele idealizava no início. Isso é normal, mas raramente você ouvirá isso da boca de um homem.

Não estou apaixonada, gostava da companhia dele e do fato de que talvez pudesse ser o ultimo homem da minha vida”.

Cafa > Não entendi essa última frase. Reli umas 4x, mas ainda me sinto meio burro. Bom, não é o último homem da vida no sentido de casar, pois você não está apaixonada. O que me faz pensar que você está querendo jogar no time da Tami. Confere? Se positivo, definitivamente o problema não é o cara. Se negativo, eu preciso tomar menos vinho antes de ler essas histórias.

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Quer mandar a sua história para a sexta das leitoras? Não posso garantir que responderei todas, mas se for algo interessante e resumido, as chances aumentam. É só enviar para cafa@manualdocafajeste.com

Diário da Austrália

Após alguns meses de perrengue para recomeçar a vida do outro lado do mundo, finalmente algumas coisas começaram a dar certo (outras nem tanto). Porém, no geral a experiência está valendo muito e posso dizer que a minha estadia até agora tem sido produtiva.

Meu primeiro objetivo finalmente foi alcançado. Consegui zerar meus custos aqui e ainda guardar dinheiro suficiente para me bancar por dois meses sem trabalhar (caso seja necessário).  Só que teve seu preço.

Há um trabalho muito popular por aqui que se chama “functions”. Basicamente é trabalhar em grandes eventos ou festas de empresa fazendo as mais diversas funções (como garçom, bartender,  auxiliar de cozinha, etc).  O valor pela hora de trabalho fica em torno do R$ 75,00. Dois dias que você trabalha nisso, já consegue pagar o custo da semana, o que entra depois é lucro. Além da grana razoável, é possível conhecer muita gente e treinar o inglês. É legal para um trampo temporário.

Bom, comecei a pegar uns 3 turnos desse trabalho na semana e já estava achando que era o craque e sabia tudo.

Na metade de uma festa de banco, eu estava carregando uma bandeja cheia de cerveja, quando um dos garçons me cutucou para mostrar uma garota. Quando fui virar pra olhar, as cinco cervejas tombaram e fizeram uma cascata de Pale Ale em mim. Duas tombaram no chão. Fiquei cego de vergonha e a única coisa que consegui pensar foi em sair correndo até cozinha para me limpar. Como não tinha roupa extra, tive que me secar e ficar melado (e fedendo) por mais três horas.

Dois dias depois algo parecido ocorreu. Era uma festa de formatura, já estavam todos (os convidados) bêbados e a nossa função era distribuir água pra galera ficar de boa. Já estava no fim e essa família que parecia do desenho “Family Guy” fez uma pilha de bolsas em frente da mesa, como estava escuro eu não as vi, tropecei nelas e as duas garrafas d´água fizeram outra cascata. Dessa vez dentro das bolsas. Devo ter ficado roxo, alguns garçons me ajudaram, a família não ficou muito feliz e eu ganhei o apelido de Cachoeira entre meus amigos.

Porém, nem tudo foi desastre. Em um dos trabalhos nos colocaram para atender as salas VIP´s dos camarotes do Jockey de Sydney. Nesse lugar a bebida e comida é a vontade. E tudo é da melhor qualidade. Na cozinha podíamos provar a comida, já a bebida é proibido o consumo em serviço. Porém, assim que todos os convidados foram embora da sala, havia várias garrafas de excelentes vinhos e champanhes praticamente cheias. Meus amigos espanhóis e eu nos trancamos em uma para “arrumá-la” e fizemos até degustação de Moet com queijo de cabra e geleia de frutas silvestres.

E nisso começa a formar um círculo ~virtuoso~.  Quanto mais você trabalha, mais conhece pessoas, mais contatos faz e mais oportunidades aparecem. E já na segunda semana nesse trabalho arrumei uma vaga de auxiliar de cozinha. No meu pensamento seria uma ótima oportunidade para ampliar meus dotes culinários. Só que auxiliar de cozinha é um eufemismo para piloto de louça.

Cheguei ao restaurante e tinha uma pilha pra lavar. Cozinhar não era nem 95% do meu tempo. Depois de enfiar a mão em ralinho cheio de comida, perder controle do esguicho de água e resto de comida parar na cara, em duas horas já estava dando conta e pedindo para o Chef me ensinar alguns pratos. Pela minha boa vontade, ele sempre me oferece para provar algo diferente e já tenho preparado alguns pratos. Culinária árabe em breve será parte do meu currículo pessoal. E o mais importante, mais uma fonte de renda.

O meu terceiro trampo foi novamente uma tentativa de trabalhar em obra. Mais especificamente em arrumar a bagunça de fim de obra e alguma coisa de carpintaria. Nunca tinha usado um serrote e depois de furar a perna e cortar algumas madeiras tortas, adquiri mais essa habilidade. Estava feliz com esse trampo, mas no último dia tive que carregar uns 80kg de ardósia pra lá e pra cá e novamente minha coluna foi pro saco novamente. Agora estou tomando cuidado, pois não seria muito inteligente fazer toda reserva pra depois gastar com fisio.

Bom, como eu disse a questão financeira estava finalmente resolvida e agora eu precisava resolver meu segundo problema/objetivo de curto prazo, moradia. Estou em uma homestay que estava bacana até primeiro mês, mas agora começou a dar sinais de saturação.

Quando cheguei aqui fui convidado para vários jantares que os vizinhos organizavam uma vez por semana. Era uma excelente oportunidade para fazer amizade e treinar o inglês. Porém, em um desses jantares a mulher de um dos convidados deu em cima de mim de forma abusiva e desrespeitosa a ponto de perguntar para o dono da casa que estou se ele não tem ciúme de hospedar um brasileiro sensual. No final da noite, de volta pra casa, eles pediram desculpas por ela. Porém, eu nunca mais fui chamado para os jantares.

No segundo mês a minha individualidade começou a ser estuprada. Coisas como uma simples saída de casa ou ida ao banheiro eram monitoradas.

Minha agenda passou a ser controlada de uma forma velada, pior que a época que eu morava com a minha mãe. Se eu acordo mais cedo pra ir na academia ou chego mais tarde porque estava trabalhando, vem uma voz lá de cima da casa como se fosse um entidade perguntando “Cafa, é você? Está tudo bem?”. Caso eu consiga sair ou entrar em completo silêncio, no dia seguinte no café da manhã vem a pergunta “Nossa, não te vi chegar ontem. Você se divertiu?”.

Já o banheiro é o recinto que eu passo os principais dissabores.  Como eu disse anteriormente, não há tranca no banheiro. Logo, preciso ficar segurando a maçaneta. E parece que há uma sintonia entre eu ter vontade de fazer o número dois e alguém querer usar a porra do banheiro no mesmo momento. Não importa se as 6 da manhã ou 4 da tarde. Eu apenas fico em silêncio, seguro a maçaneta esperando que a pessoa perceba que sim, há alguém ali dentro, mas nunca é suficiente e vem a pergunta: “Tem alguém no banheiro?”. Com a minha resposta todo mundo sabe que estou lá, o que me trava.  Isso sem contar a tampa da privada que os filhos do casal sempre mijam e a minha toalha que sempre vai parar no chão (sujo) sem nenhum motivo aparente.

No outro dia foi o golpe de misericórdia. O banheiro possui uma janela grande e comprida que dá para uma espécie de jardim de inverno da casa. É relaxante.  Mas um dia estava apenas eu e a dona da casa em casa. Foi então que ela decidiu regar as plantas do jardim de inverno. A janela estava aberta, e não dava tempo de eu fechar, pois faria barulho e chamaria a atenção dela. Pelo ângulo da janela, não era possível ver o meu rosto, mas do meu pescoço pra baixo. Ainda assim algo vexaminoso. Pra não ser visto sentado no vaso, levantei e me encostei no canto do banheiro em uma tentativa frustrada de me esconder. Quando ela foi regar as plantas ao lado da janela, deve ter sido inevitável ver alguém de pé com o pirulito murcho de fora encostado no canto do banheiro. Ela deu um berro, saiu correndo pedindo desculpa e eu morri de vergonha por uma semana.

Depois de tanto perrengue, nessa semana finalmente eu fechei contrato para morar em um apartamento próximo à praia e que será dividido com pessoas da minha idade. Agora é partir para o próximo e maior desafio, encontrar trabalho na minha área.

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Gostaria de fazer um post nesse semana de “Rapidinhas”, ou seja, perguntas simples/curtas das leitoras. Só mandar para cafa@manualdocafajeste.com ou enviar nos comentários ou na mensagem privada do Facebook.