Erros comuns cometidos por mulheres na cama

Dia desses estava buscando um livro pra comprar em alguma loja x e me deparei com o Kama Sutra. Quase comprei sem piscar, pois eu tinha em mente que era a bíblia do sexo.

Bom, eu não sei se li as páginas erradas, mas achei uma piada. Parei quando li sobre como a mulher deve se comportar na ausência do marido. Talvez desse livro só preste as dicas de posição, mas vi algumas que eu me sentiria ridículo, como essa:

rid

ou simplesmente no circo:

circ

Tem até algumas posições bacanas, mas pelo pouco que vi não acho que valem horas de leitura.  Esse é o risco de dar dicas, em uma época elas fazem sentido, em outra podem virar piada. Como não escrevo para o futuro, darei dicas de erros comuns e tabus cometidos por mulheres nos dias de hoje:

Preocupação com o cenário – Um dos motivos pelos quais não curto motel é a premeditação do sexo. Não tem clima e naturalidade, as pessoas dirigem-se ao lugar de forma mecânica pra transar. Nada como começar uns amassos no carro e de repente começar a transar ali mesmo, de forma espontânea e irracional, como o sexo deve ser.

Certa vez fui jantar na casa de uma garota e a casa parecia uma igreja de tanta vela espalhada pelos cantos. A cama tinha pétalas de rosa (!) e ela usava um espartilho ridículo. Provavelmente ela seguiu a risca a cartilha da revista Claudia de como tornar uma noite inesquecível e acabou virando uma caricatura.

Óbvio que um cuidado especial na casa e com você dá mais confiança, mas tenha bom senso de não se preocupar mais com o cenário que com a peça;

Sumiu na camisinha – Nunca vi estatística sobre camisinha vs brochar, mas se fizessem uma podem ter certeza que a maioria das brochadas acontece nesse momento quebra clima. Tá lá rolando a pegação, os dois a ponto de bala e de repente para tudo para colocar o pijaminha. Ai o menino dorme. Isso acontece por uma série de motivos, um deles é a completa passividade da garota.

Normalmente a camisinha não está ali na mão. O cara precisa ir atrás da carteira / bolso que nesse momento está em algum canto do quarto (escuro). Ai tem que abrir o envelope que sua praticidade é inversamente proporcional à pressa. A pior fase é achar o lado certo de colocar a camisinha. Enfiá-la do avesso gera complicações, a pior é ela não entrar completamente no pênis e sair durante o sexo, a mais branda é o cara se dar conta que ela entrou errado e ter que buscar outra (se houver). Nesse processo todo, ficar com cara de paisagem torcendo para o cara se virar não é legal. Poucas garotas me ajudaram a colocar ou me estimular nesse processo, as que fizeram foram muito bem vindas e evitaram a pau molência;

Dente no oral – O erro mais comum do sexo oral, conforme já postei aqui. Tenha em mente, dente não faz parte do processo! Sabe aquela brincadeira babaca de criança “você consegue abrir a boca sem mostrar os dentes”? Bom, isso ajuda a evitar um dente roçando onde não deve;

A peru louco – O peru é um bicho gostoso quando inerte, mas vivo tenta fazer tudo e nada sai direito. Seja voar, nadar ou correr. Algumas mulheres são como um peru (louco). Afoitas em querer agradar e mostrar que são boas de cama, logo na primeira noite já queimam todos os truques que aprenderam e apesar de alguns surpreenderem, a sensação que passa é estarem desesperadas.

Oriente – Sigo a máxima que o sexo é sentido, não falado. Por esse motivo não vejo excitação em sexo por telefone / virtual, exceto quando eu era adolescente e não comia ninguém. Isso não significa que ambos fiquem mudos no sexo. Falar a posição que curte, sobre a velocidade, onde gosta que toque, etc faz parte do processo. Cada pessoa tem um ponto frágil, as vezes dá pra acertar de primeira, as vezes é preciso orientar;

Boca suja – Tem gente que sente um tesão imenso em dirty talk, (ou boca suja). Porém, das vezes que presenciei, a maioria soou como algo forçado, um clichê tirado de algum filme pornô. Na minha opinião, é como aquelas pessoas apaixonadas que postam frases prontas para dizer que amam o namorado (tipo letra de sertanejo). Ela realmente pode gostar do cara, mas falta espontaneidade.

Certa vez sai com uma garota que mal eu estava tirando a cueca e ela lançou “vem que eu quero quicar nesse caralho”. Eu quase explodi de rir, mas me contive e enquanto ela estava por cima perguntei se ela estava gostando de quicar, ela se animou e ai usou tudo o que tinha aprendido em algum filme b. Entre as pérolas estava “me come paizinho”, “enfia esse caralhão no nabo”, “come a tua puta” que só de lembrar até hoje dou risada.

Remexendo o quadril – Esse é um erro comum nas iniciantes ou com pouca experiência. Quando estão por cima cavalgando, ao invés de remexer o quadril, usam apenas a perna pra subir e descer. Não que isso atrapalhe, mas dá uma engessada no movimento e não encaixa tão bem quando o movimento é com o quadril. Use ambos, mas não se esqueça do quadril. Como base de comparação:

O erro de movimento está na menina da esquerda.

Romance pós-coito? – Hoje ir pra cama com alguém não necessariamente significa que há amor envolvido, basta os dois estarem com tesão. Óbvio que quando você gosta da pessoa além do físico, o sexo é muito melhor e blablabla. Mas esse não é o ponto aqui. O incômodo são mulheres que misturam a bola, se apaixonam pelo cara depois do sexo e ai querem romance (como fazer carinho, planos para o futuro, dormir junto , tomar café da manhã, etc). Se desde o primeiro contato a única atração foi física, dificilmente depois do sexo haverá um grande amor.

Ele sumiu – Esse é o que da mais preguiça das histórias que recebo ou escuto. Como há ainda mulher que acredita que o único objetivo do cara era comê-la uma vez e descarta-la?! Se a foda foi boa, por que diabos ele não voltaria? Se o cara sumiu foi simplesmente por que ele não gostou do sexo ou porque ele arrumou algo melhor.

Desventuras na Australia (parte III)

O verão finalmente chegou do outro lado do mundo, mas o inverno da minha vida ainda está demorando pra passar. Após tantas dificuldades que relatei nos dois últimos posts, achei que nada pior pudesse acontecer, mas a vida sempre encontra um jeito de me surpreender.

Começo da semana passada aproveitei que fazia 30 graus em Sydney, peguei minha bicicleta e fui até a praia, um percurso que leva uma hora. Lá aproveitei para deixar alguns currículos em hostels e fui tomar sol. Assim que deitei na areia senti algo de errado com as minhas costas. Depois de algumas horas lendo e descansando, levantei pra ir embora e senti uma fisgada na coluna. Peguei a bike e voltei. Dormi na minha cama pula-pula (tem mais mola que estofado) e acordei completamente travado, com uma dor insuportável. Tomei café tal qual o Joaquim Barbosa do STF e fui até a farmácia.

Lá comprei um anti-inflamatório que me deu uma reação alérgica e ganhei três aftas na boca, uma na ponta da língua que fez com que eu ganhasse um sotaque meio gay. A minha nova cama era o chão do meu quarto até que eu melhorasse (o que ainda não aconteceu). Pelo menos naquele dia eu fui chamado por uma agência de eventos e teria trabalho para o próximo final de semana.

Junto da marola da sorte, um hostel em frente à praia me chamou para um “trial” no dia seguinte. Lá seria uma baita oportunidade, pois além de acomodação eu ganharia um salário e conseguiria praticar outras línguas.

Cheguei no hostel e o gerente parecia uma mistura de Patropi com o Morto Muito Louco. Quando ele não estava brisando, falava coisas completamente sem sentido e/ou desconexas. Ele me levou para apresentar a estrutura do lugar e quase cai duro com a imundice. O lugar tinha o charme do Carandiru, mas habitado por ingleses e suecos (porcos). Era resto de comida e roupa por todos os cantos e a maioria dos quartos cheirava a mofo. Questionei qual era o quarto do staff (ou seja, o meu) e ele disse que variava toda semana, de acordo com a disponibilidade. Ali já dei uma brochada, mas esperei para ver como seria o trabalho.

Patropi me levou pra recepção e começou a explicar a operação do lugar. Fiquei feliz e aterrorizado. Feliz, pois como a minha última experiência na empresa que trabalhava era na área operacional, e já tinha identificado um monte de oportunidade de melhoras por ali sem nenhum custo. Porém, aterrorizei com tanta gambiarra que o cara fazia. Nada era centralizado. Parte das reservas ficava num excel (desatualizado), a outra em um livro e a outra na cabeça dele.

Achei que a bagunça fosse apenas pelo jeito doidão do cara, mas depois observei que ele utilizava a desorganização para fazer reservas sem registro e assim embolsar o dinheiro. Pensei em conversar diretamente com o dono do lugar, mas não iria arrumar essa briga recém chegado no país. Resolvi não ficar lá e seguir na minha busca.

Saindo desse hostel, vi um restaurante brasileiro, entrei e perguntei para a gerente (uma brasileira) se ela estava precisando de garçom. Ela respondeu que lá só trabalhava garçonete, mas que havia vaga na cozinha. Topei e ela me chamou para um trial no dia seguinte.

O dia do trial foi um dos mais quentes do ano, quase 40 graus. A cozinha era minúscula e a minha função qual era? Cuidar das frituras e louça. Juro, devia fazer mais de 45 graus naquele lugar. E presenciei na pele a velha máxima de não visitar cozinha de restaurante.  O óleo não devia ser trocado há semanas, o sal da batata parecia um pó químico que a menor brisa fazia todos na cozinha tossir de tão forte e refinado que era. Quando tirei a louça da máquina, os pratos e talheres continuavam engordurados, mas o “chef” respondeu que era só eu passar um pano que eles ficavam limpo. Visualmente estavam limpo, mas devia ter um monte de zica não visível.

Terminei o trial e fui conversar com a gerente. Ela perguntou quando eu poderia começar. Fiquei feliz, disse que na próxima semana, mas que gostaria de saber o salário. A mulher surtou. Disse que daquele jeito eu não arrumaria nenhum trabalho, onde já se viu eu atrelar meu início ao salário, que devia estar sobrando emprego pra mim e blablabla. Não entendi um cacete, será que eu deveria falar que sonhei a vida inteira em trabalhar numa cozinha minúscula fritando batata e que o salário é apenas um detalhe?

Respirei fundo mais uma vez e mentalizei que fim de semana haveria dois trabalhos bacanas que eu faria para a empresa de eventos.

O de sexta-feira foi legal. Era uma festa de confraternização de empresa e minha função era apenas servir champagne e polir taça. Moleza. Sai de lá feliz da vida, finalmente com grana no bolso e ansioso para o evento no dia seguinte.

Inicialmente o evento do sábado era um dos maiores festivais de música eletrônica da Australia. Mas um dia antes me realocaram para o show da Taylor Swift e no último minuto realocado para um evento de Motocross. No lugar só tinha homem esquisito e motoqueiro bebum. Ali eu iria trabalhar como caixa.

Uma das mentiras no meu currículo é que eu tinha experiência em caixa. Poxa, não seria tão difícil inserir o pedido no sistema, pegar o dinheiro e dar o troco, mas foi.

Eram apenas dois caixas e assim que cheguei a minha supervisora perguntou onde estava o meu dinheiro. Estava quase falando que na minha carteira, dentro da mochila, mas por sorte ela falou logo na sequência que eu precisava ir até o escritório pegá-lo. Era o dinheiro trocado para colocar no caixa. Peguei o dinheiro e comecei a trampar.

O sistema não era difícil de operacionalizar, mas sempre que alguém saia do convencional (como pedir para mudar o pedido depois que fechou a compra) eu tinha que consulta-la e sempre era um tormento. Ou ela respondia com grosseria ou não sabia e eu tinha que me virar.

Passavam-se as horas e o pessoal ia ficando bêbado e o sotaque mais carregado. A pressão pra entendê-los, uma supervisora mal educada do lado e horas em pé lidando com dinheiro foi mais uma lição de vida. O fechamento de caixa deu tudo certo e voltei pra casa morto.

Dia seguinte eu só queria ir pra praia,  beber e esquecer todos os perrengues. Fui com uma amiga do Brasil mais uns brasileiros e gringos. Acabei bebendo umas duas garrafas de vinho branco e fiquei pra lá de Bagda. Já era quase 20:00 quando eles decidiram ir para um barzinho, e eu achei melhor ir pra casa. Dormi dentro do trem e fui parar quatro estações de onde eu deveria descer.  Como o bairro que moro há uma limitação de trens no fim de semana, o que eu estava era o último daquela noite e tive que pegar um Uber pra voltar pra casa. Por sorte todos em casa dormiam, mas acordei as 5:30 da manhã com a cabeça explodindo e uma das crianças na casa chorando porque o fim de semana tinha acabado. Por pouco não abri minha porta e fui chorar com ele.

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Essa semana volto com a programação normal do blog. Sugestões, rapidinhas do cafa, sexta das leitoras? Só mandar para cafa@manualdocafajeste.com

Desventuras na Austrália (parte 2)

(continuação do post anterior)

Pra poder trabalhar como garçom na Australia é preciso fazer um curso de “Serviço responsável de álcool”. Uma estupidez de 8 horas que basicamente lhe ensina que você não pode servir menores e pessoas alcoolizadas. O valor? Quase R$300,00. Mas considerando que um garçom faz cerca de R$450,00 por dia, até que é não é tão doloroso.

Terminei o curso e lembrei-me de uma rua simpática cheia de restaurantes que poderia ser um bom ponto de partida para despejar currículos (que obviamente estão cheio de experiências falsas em restaurantes brasileiros). Só que cheguei lá por volta das 16:00 e quase todos os restaurantes estavam fechados. Vi que dentro de um mexicano uma mulher varria o chão e toquei na porta.

Era a gerente, uma alemã. Ela olhou o meu currículo e ficou feliz de ver que estou estudando alemão e puxamos assunto. Ela comentou que no momento não havia vagas, mas que me avisaria caso surgisse. Dia seguinte, uma quarta-feira de manhã, ela me ligou pedindo para que eu fizesse um “teste” na sexta-feira e viesse com uma camisa branca. Ah, esses testes quase nunca são pagos, mas tudo bem.

Sempre subestimei a função do garçom. Especialmente nos botecos quando eles me ignoram pra trazer uma simples cerveja. É tanto detalhe, pedido, processo, regras, etc que você só passa a valorizar o trabalho quando entende os bastidores. “Aprendi” todos os truques da função com vídeos no Youtube e já me sentia preparado para arrebentar.

Na sexta-feira, dia da minha triunfal estreia, chovia muito em Sydney. No caminho para o restaurante lembrei da caralha da camisa branca, que eu não trouxe do Brasil, e por sorte tinha uma loja de departamento (tipo C&A) perto. Havia três tipos de camisa branca, uma que custava R$400,00, outra que parecia ter sido guardada dentro de uma caixa de fósforo e a terceira que eu parecia um vendedor de morangos (comprida na cintura e manga curta).

Bateu um desespero, pensei em ir com a amassada e falar que era o estilo da camisa, mas acho que não ia colar. Por uma luz divina, observei umas polos brancas em um cantinho da seção que eram bem baratinhas, comprei uma e um guarda-chuva para não chegar transparente no lugar.

Ao abrir a porta do restaurante, creio que tinham uns quatro pessoas lá dentro, além dos funcionários. Como é uma rua sem lugar pra parar (e sem vallet) a chuva afugentou boa parte da clientela. Encontrei a alemã, ela mal olhou na minha cara. Tive que relembrá-la sobre o “teste” e com a maior cara de pau ela disse que o combinado era sábado. Foi então que descobri o truque do “teste”, em que muitos gerentes pedem para as pessoas trabalharem de graça para dar vazão aos dias mais cheios e logo na sequência dispensam sem nenhum custo para o negócio. Ela poderia ter me explicado o funcionamento do restaurante já que não tinha quase cliente, mas como o objetivo era apenas dar vazão aos pedidos, eu não servia.

Sai de lá, respirei fundo e não deixei me abater pela derrota. Lembrei-me de uma churrascaria brasileira que um amigo havia comentado que eles sempre contratam brazucas. Cheguei no lugar e fui bem recebido por um garçom brasileiro que me explicou que provavelmente haveria vaga na próxima semana. Nisso apareceu o gerente, um chinês, que parecia o Cebolinha falando inglês. A entrevista foi bizarra porque eu mal entendia o cara e pelo visto ele deve ter pensado que meu inglês é uma merda.

Por fim, fui até uma agência de “hospitalidade” que recruta pessoas para trabalhar em grandes eventos. Chegando lá a atendente perguntou se eu dominava a técnica dos “três pratos”. Como eu já tinha assistido no Youtube um vídeo a respeito, falei de peito cheio que sim. Ela me chamou para uma salinha que havia uma caralhada de copos, talheres e pratos e pediu que eu apresentasse a técnica. Fiz daquele jeito, meio nervoso. Na sequência ela pediu que eu levasse taças para uma mesa fictícia e servisse vinho e depois que eu montasse uma mesa (com aqueles milhares de talheres). Nessa hora falei que não tinha ideia de como montar. A mulher foi complacente, disse que eu preciso de mais prática e que voltasse lá depois de três meses.

Completamente derrotado, sem conseguir trabalhar como pedreiro e inexperiente para garçom fui naquela sexta para a casa preparar o meu jantar sozinho, já que a família tinha saído para uma festa em outra cidade. Comprei um vinho no caminho e liguei o som pra cozinhar o prato que venho comendo há um ano, frango com salada e arroz integral.

Mal piquei a cebola e começou a tocar “Garota de Ipanema” na rádio. Nessa hora lembrei-me de tudo o que tinha deixado para trás, a situação que eu estava e confesso que a cebola ardeu meus olhos. Respirei fundo de novo, tomei um bom gole do vinho e voltei a cozinhar. No final do jantar só tinha um quarto da garrafa e fui tomar banho pra baixar o álcool.

Cheguei no banheiro e vi que o suporte do papel higiênico tava meio triste, pendendo pra baixo, quase derrubando o rolo. Tentei coloca-lo pra cima e o suporte quebrou na minha mão. Nem objetos inanimados estavam me ajudando.

Aproveitando que estava sozinho, dirigi-me à banheira pra ficar lá de molho e sem querer chutei o ralinho do banheiro, que era mal desenhado, e caiu dentro do buraco. Coloquei um saco plástico na mão e resgatei a tampa do ralinho. Veio tanto cabelo com nojeiras grudadas nele que parecia que eu segurava uma Barbie do inferno. Limpei aquilo, coloquei-o no lugar e finalmente tive o descanso que precisava.

Eu nunca me iludi sobre morar fora. As fotos de cangurus fofos, as praias maravilhosas, o céu incrível, etc, etc é a ponta mais bonita do iceberg que boa parte das pessoas que tentam a vida no exterior mostram no Instragram/Facebook. Quase ninguém tira foto da maloca que dormem, quebrando calçada com britadeira, trabalhando de madrugada, dos pratos de comida paupérrimos e por ai vai. No fundo até entendo essas pessoas, pois sempre tem alguém julgando quem saiu do país e mais atrapalhando que ajudando com o discurso de dó travestido de motivacional.

Abandonar o seu país para viver fora é como romper um casamento que não tá legal e voltar ao clube dos solteiros. É ter coragem de reconhecer que a relação não está boa, que a zona de conforto não compensa todos os problemas diários, romper, e como diz o Dinho, reaprender a andar descalço em um mundo de asfalto. O mais importante é ter um objetivo em mente e prazo (razoável), ter paciência com a readaptação e ir superando cada fase. No final, se não der certo, é só redefinir o objetivo, mas a jornada já valeu a pena.

Desventuras na Australia

Desculpem o sumiço, mas ultimamente ando sem tempo e inspiração pra escrever sobre relacionamentos. As minhas primeiras semanas na Australia não foram fáceis e até hoje ainda mato um leão por dia para recomeçar a vida. Preciso desabafar um pouco e por isso escreverei sobre o que rolou recentemente. Já aviso que o post de hoje não tem romance.

Mentira. Até tem um pouco de romance. Deixei no Brasil uma pessoa que curti bastante e fazemos planos de nos reencontrarmos em breve, por isso estou no modo inativo do outro lado do mundo. Mas não por isso que meus dias tem sido menos tumultuados. Tudo começou antes mesmo de embarcar.

Um dia antes da viagem me dei conta que a empresa de seguro de saúde (item obrigatório para entrar na Australia) fez lambança na minha reserva e eu estava descoberto por duas semanas. Tentei entrar em contato com eles, mas era uma sexta-feira a noite e o escritório já tinha fechado. Peguei o avião com o risco de ter dor de cabeça na alfândega e não conseguir entrar no país.

Tentei relaxar no avião, mas a todo momento vinha na cabeça a preocupação com a fronteira. Depois de uma hora de vôo, tentei relaxar e pedi duas garrafinhas de vinho. Coloquei meu sapato embaixo do banco da frente, estiquei as pernas e coloquei uma música pra descontrair. Tava gostoso. Mas de repente começou uma muvuca de comissários na minha frente, sendo que um deles trazia um cilindro de oxigênio. A senhora que estava na poltrona da frente apagou. Uma das comissárias pediu a gentileza que eu saísse da minha poltrona para ajudar na movimentação e quando eu peguei meu sapato, estava embebido em vomito da mulher. Morrendo de nojo sai correndo para lavá-lo no banheiro, mas era de camurça e a senhora tinha vomitado vinho. Não aconteceu nada com a velhinha, acho que passou mal com o vinho, já eu pisei na Australia com os pés sujos.

Por sorte a polícia não me parou, nem questionou os pés-de-moleque e espumante que eu trazia para a família que me hospedaria. Que vale uma menção à parte.

Eu estava procurando apartamentos para dividir, mas uma amiga disse que a melhor coisa seria ficar em algum lugar provisório para que de lá eu fosse fazer vistorias no lugar definitivo. Por recomendação dela, que já tinha ficado com essa família, acabei me programando pra passar um mês com eles. A experiência tem sido boa, mas com seus altos e baixos.

Eles são um casal na faixa dos 40/50 e possuem dois meninos na casa dos 10. Assim que cheguei, fui todo feliz dar pés-de-moleque como se fosse uma grande iguaria e ao olharem o doce, agradeceram com um riso amarelo e nunca ninguém tocou (só eu escondido para acompanhar meu café da tarde). Depois descobri que a minha amiga já tinha levado o doce certa vez e ninguém gostou por ter muito açúcar e grudar no dente.

Com o espumante foi um pouco pior. No dia seguinte eles fizeram um jantar para receber um casal de amigos mega finos e expert em vinhos. Eu tinha comprado o espumante no Brasil, em uma loja especializada , mas deixei-me levar pela opinião da vendedora, não olhei o rótulo direito e só me dei conta da porcaria que tinha comprado quando ao servir, as bolhas pareciam de água com gás e o gosto de suco de uva. Novamente risadinhas amarelas foram dadas e a convidada mal bebeu.

Passado esse trauma inicial, comecei a me entrosar melhor na casa. A “mãe” cozinha incrivelmente bem, é muito gente boa e pelo menos duas vezes por semana há festinha na casa deles ou de alguém da vizinhança para beber e conversar. Uma excelente oportunidade para afiar o inglês, integrar e fazer amizade.

Porém, as vantagens acabam por ai. Por mais que eu tenha o meu quarto e pague uma grana semanal, eu preciso seguir o ritmo da casa. Isso quer dizer, acordar as 6:30 da manhã com criança brincando, jantar as 18:30 (e morrer de fome as 21:00) e ter que ir deitar as 22:00 pra não fazer barulho. Fica difícil escrever nesse ritmo.

Como disse, estou inativo sexualmente, e nem sozinho eu consigo me aliviar. O banheiro e meu quarto não possuem tranca, logo não dá pra correr o risco de uma criança me pegar descascando banana. Resumindo, estou há 3 semanas castrado e com o risco iminente de uma polução noturna.

Mas acordado consigo me conter. O meu foco é encontrar um emprego e uma casa com pessoas da minha idade/situação, depois resolvo a abstinência. Só que até casa e emprego são um desafio a parte.

O problema com a casa é que estamos em alta estação e o preço do aluguel sobe absurdamente, mas com trabalho isso dá pra resolver. Só que isso é o que mais pega.

Sair do Brasil com um visto de trabalho australiano é tão raro como alguém vomitar no seu sapato e você lambuzar os dedos em vômito alheio. A diferença é que apenas o segundo aconteceu comigo. Nenhuma empresa patrocina alguém a distância sem conhecer o trabalho dela.

O caminho mais fácil é entrar com um visto de estudante, que permite trabalhar 20 horas por semana, e ai mostrar serviço nesse período e achar uma boa alma que pague o visto de trabalho. Com esse visto, é mais que meio caminho andado para pegar uma residência e cidadania.

Meu inglês está muito bom, mas quero deixa-lo excelente antes de aplicar para vagas na minha área. Por isso, estou buscando qualquer emprego braçal que me permita praticar o idioma. Além disso, um dos objetivos que estabeleci desde que sai do Brasil é não tocar nas minhas economias, então arrumar um trampo e zerar meus custos é o meu esforço diário.

A primeira oportunidade surgiu para ser pedreiro. A ideia inicialmente não me agradou, pois imaginem de diretor de operações há um ano e pouco, agora virar pedreiro no exterior. Porém, viver fora do país requer um exercício constante de humildade e quebra de preconceitos. E aquilo que não mata, vira experiência de vida. Lá fui eu pra obra.

Era uma baita mansão e no fundo havia uma montanha de terra. Eu era o único pedreiro no lugar e a missão era espalhar aquela montanha ao redor da casa em dois dias. Mentalizei que aquilo seria uma boa academia e eu ainda receberia pelo exercício. Coloquei uma música, tirei a camisa e fui com sangue nos olhos. No final do dia eu tipraticamente finalizei o trabalho de dois. Estava orgulhoso da minha produtividade, mas foi uma tremenda estupidez por dois motivos.

Primeiro que o pagamento é feito por horas trabalhadas, ou seja, eu poderia ter dado uma enrolada e dobrado o meu rendimento; segundo, eu arrebentei as minhas costas. Desde pequeno tenho uma zica que se eu faço muita força na coluna, fico todo torto. Para colocar a cereja no bolo de merda, tinham me falado um valor por hora e depois revisaram pra baixo como se eu não tivesse entendido o combinado. Esse tipo de desrespeito é comum por aqui.

Pelo menos em um dia consegui pagar o aluguel da semana, mas dia seguinte eu mal conseguiria levantar da cama. Deixei a ideia de pedreiro de lado e fui tentar a de garçom, onde ganha-se menos, mas usa mais o inglês. Achei que seria inofensivo, mas tive experiências piores que a de pedreiro.

(continua no próximo post)

Sexta das leitoras – Pulando etapas

Antes de iniciar a história, gostaria de deixar claro que não faço aqui um papel de psicólogo, nem que a minha resposta seja a solução definitiva para os problemas amorosos. Mas uma vez que pedem a minha opinião, eu não vou ser politicamente correto e evitar assuntos polêmicos. Dou a minha impressão com base nas informações passadas, o que eu pego nas entrelinhas, e claro, com as experiências que possuo sobre relacionamento.

Vamos lá:

”Oi Cafa! Descobri seu blog no meio da minha adolescência e ele me ajudou muito na época. Hoje tenho 23 anos, casada há 5 anos e com alguns problemas.

Quando conheci meu marido, tava numa fase de pegação total. Tinha 18 anos e no segundo ano de faculdade. Mas quando o conheci me deslumbrei, foi amor à primeira vista

Cafa > Já falei isso em outra Sexta das leitoras e volto a repetir. Essa fase dos 18 aos 24 é uma das mais bacanas para curtição (como festas, relações casuais, etc). E no meu ponto de vista, fundamentais para a pessoa acumular experiência, estar mais madura para um relacionamento sério e não se arrepender depois de não ter vivido essa fase.

No seu caso, você interrompeu-a praticamente no início. Não apenas há certo arrependimento de não ter curtido mais, mas aos 18 você não tem maturidade suficiente para um plano de vida a dois e outras decisões mais sérias (como carreira).

Ele é 14 anos mais velho que eu, mas nunca me importei com isso, sempre me interessei por homens mais velhos. O cacei no facebook, joguei meu charme e consegui ‘laçar’ ele. Duas ‘ficadas’ depois me pediu em namoro, aceitei e cinco meses depois estávamos nos casando na Igreja de véu e grinalda e tudo que eu tinha direito. Após me casar larguei a faculdade e meu emprego para poder me mudar para a cidade dele. Atualmente trabalho com ele.

Cafa > Desculpe, mas tudo errado. Entendo que paixões possam ser avassaladoras, mas primeiro você, depois o resto. Paixão passa, a sua vida fica.

O cara está com a vida estabelecida, formado e com experiência/vivência. E você? Não é independente (ou melhor, agora depende indiretamente do cara), não se formou e largou o emprego pra viver em função de um amor.

Para um cara (que na época tinha 32 anos) casar-se com uma menina de 18 anos em 5 meses, a sua principal moeda de troca era a cama (e provavelmente um bom corpo). Só que isso não sustenta nenhuma relação.

No primeiro ano de casamento era as mil maravilhas. Não dizendo que hoje não seja, ele sempre faz tudo o que quero e me da de tudo também, mas em relação a nossa vida amorosa tá lá em baixo. Nos últimos anos posso contar nos dedos às vezes que tivemos relações sexuais, e beijos então nem se fala.

Cafa > Há um estudo que diz que a paixão (essa coisa carnal, de cama) dura até dois anos. Não é que depois disso cessa e ninguém mais transa, porém o que sustenta uma relação é o carinho, a admiração mútua e respeito. A frequência do sexo diminui, mas a qualidade aumenta. Creio que foi aqui que a sua relação começou a tropeçar, pois pelo visto ela sempre esteve calcada apenas na paixão.

Uma coisa me chamou a atenção na sua frase: “E me dá de tudo também”. Se a vida amorosa não está legal, entendo que esse “dar” esteja relacionado a bens materiais. Espero estar enganado, mas se for esse o sentido, não acho que é uma forma saudável de mensurar a qualidade de uma relação ou pessoa.

Estou tendo problemas para engravidar, então toda vez que estou ovulando eu falo com ele e fazemos sexo, mas parece que ele está ali só como doador de esperma, não sinto nada, e ele não parece à vontade essas vezes. Eu sei que é uma pressão e tal, mas é o único jeito. Não sei mais o que fazer com relação a isso. Faço jantar romântico, durmo com lingerie sexy, fico provocando ele, me jogo pra cima dele e nada. E quando eu pergunto a ele só diz que está cansado.

Cafa > Você não acha que está pisando muito forte no acelerador da sua vida? Você mal cursou a faculdade, saiu e foi casar. Você mal se casou, passou a enfrentar problema na relação e agora quer engravidar (com 24 anos). Não ficaria surpreso se daqui 4 anos você quisesse se aposentar.

Por que você não resolve um problema para não ter que cuidar de dois? Com um filho, a sua relação provavelmente vai piorar (já que a atenção será dividida com a criança).

Jantar romântico e lingerie sexy apimentam apenas a venda da revista Claudia. Vejo um problema e solução mais estrutural aqui.

Eu sei que ele não me trai, mas queria saber o que pode estar acontecendo. estou ciente que ele trabalha demais é do escritório para a fazenda e vice-versa. Mas isso cansa. Estou nova, com os hormônios à toda e não posso dar aquela ‘aliviada’ do jeito certo. Fico vendo minhas amigas todo final de semana com caras e indo para motéis, e fico com saudades dessa minha fase e com inveja delas. Já dormi com muitos caras e sinto falta à beça, será que to errada em ficar sentindo falta de outros caras??

Cafa > Claro que não, tu é nova, mas está errada de conduzir e encarar uma relação com uma miopia que raras vezes vi no blog.

Ai Cafa, por favor me ajuda! Me dê umas ideias pro meu marido voltar a ser o quer era, estou quase voltando a ser virgem de novo, rsrsrs. Sei que todo mundo pensa que casa para não ficar sem sexo, mas no meu caso está sendo o contrário.

Cafa > Pelos fatos apresentados, na minha opinião quem precisa mudar aqui é você, não o seu marido. Essa desculpa de “estar cansado” é a versão masculina para o “estou com dor de cabeça”.

Como eu disse, o cara te conheceu muito nova e por mais que você seja uma pessoa super agradável, o que chamou a atenção dele provavelmente foi o teu físico e sexo. E novamente, não sustentam relação no longo prazo.

Outra possibilidade menor, eu não vi sua foto, mas se ele casou com uma garota magra e nesses 4 anos você ficou obesa, isso também influencia na falta de apetite sexual. Porém, não me apegarei a esse fator, pois não tenho informação. Fica apenas como possibilidade.

As coisas aconteceram rápido demais. Cinco meses entre conhecer uma pessoa e se casar é pouco. Você mal conhece os defeitos, não teve convivência, não viu como é a rotina.

Talvez haja alguma qualidade que ele viu em você na época que se conheceram que agora não existe mais ou algum defeito que ele descobriu e tem o desgastado. Ela conheceu uma garota cheia de energia, que não estava próxima fisicamente, que tinha o seu emprego próprio e estudava; e agora tem uma esposa-funcionária que está o dia inteiro ao lado dele inovando no jantar para seduzi-lo. É uma mudança imensa.

Minha sugestão é que você segure um pouco essa ideia de ter filho até que a relação esteja melhor e termine a faculdade. Feito isso, seria bacana arrumar um trabalho que não seja com o cara. Você precisa desvincular-se um pouco dele, pois essa relação está mais para pai e filha que esposa e marido.

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Quer mandar a sua história para a sexta das leitoras? Não posso garantir que responderei todas, mas se for algo interessante e resumido, as chances aumentam. É só enviar para cafa@manualdocafajeste.com