Relacionamentos falidos, até que a morte os separe

Lá na casa dos 20 anos, a acomodação em um relacionamento parece algo distante, que acontece na idade dos nossos pais. Porém, a verdade é que nos 30 ela já assombra um monte de relacionamento. Particularmente de dois anos pra cá eu conheci uma cacetada de casal acomodado vivendo uma relação falida.

Um deles me intrigava. É um ex-colega de trabalho que também morava na Austrália e “juntado” com uma russa. Ele é chef em um restaurante e ela psicóloga, ambos na casa dos 35/40. O cara é um batalhador, nasceu na miséria no Brasil, mas correu atrás, estudou e hoje tem uma estabilidade bacana; ela teve mais oportunidade na vida e foi pra Austrália transferida de uma multinacional na Alemanha. Eles se conheceram há três anos em um desses aplicativos de relacionamento e depois de alguns meses já estavam morando juntos.

Não sei qual foi a atração mútua (talvez sexual), mas parece um casamento de uma garça com um burro. Ela delicada e educada (não que uma garça tenha educação, mas deu pra entender, né?), ele um brutamontes teimoso. Nunca vi uma troca de carinho, elogio ou palavra de admiração. Pelo contrário, sempre que saíamos de casal, eles brigavam ou tinham opiniões conflitantes. Quando saíamos apenas os homens, ele azarava a mulherada. E não era uma coisa discreta ou apenas um comentário de “olha essa gostosa”, era algo bem pedreirístico e ofensivo. Eu perguntava por que ele simplesmente não terminava e aproveitava a sua solteirice, ele dizia que ia tomar uma decisão em breve, mas nada acontecia. E até hoje nunca aconteceu.

No segundo caso, algumas semanas depois que cheguei à Espanha, minha namorada e eu alugamos um quarto em um apartamento que dividíamos com um casal venezuelano na faixa dos 30. A garota era bastante boazinha, mas parecia que namorava uma negação, ele não tinha expressão, não trabalhava, não cozinhava, não montava a mesa, não lavava um copo. A coitada fazia tudo para ele e nenhum elogio tinha em troca. A comida ficava pronta e ela gritava da cozinha “Orr” (de Orlando) e as vezes ele fazia malcriação, pois queria comer no quarto e ela insistia para que fossem pra sala. Certa vez o bebezão não quis jantar, pois a empanada pronta que compraram tinha cebola e ele não suporta o tubérculo. É um cara boa pinta e atlético de 28 anos, mas suas atitudes eram de um adolescente mimado e bobo.

Não colocarei aqui todos os casos, mas como eu disse, foram muitos. Parece que as pessoas depois de certa idade tem medo de ficar sozinhas e ai caminham a vida arrastando a corrente de um relacionamento moribundo.

Eu nunca fui fã de cerimônia católica de casamento, aquele ritual brega, exagerado e caro pra casar em uma igreja onde o padre repete um monte de lugar-comum e frases bíblicas sobre o matrimônio. Cansativo, repetitivo e inútil. Porém, certa vez fui a um casamento anglicano, em que o padre não era um mero ventríloquo, falava coisas autênticas. Uma me marcou bastante. Logo no final da cerimônia ela repetiu o bordão “até que a morte os separe”, mas complementou que a morte não necessariamente seria a do corpo, mas (e principalmente) a do sentimento. O dia em que o respeito e consideração pelo outro não existisse mais, essa seria a morte e a separação o caminho.

Por um mundo com menos correntes arrastadas, mais sinceridade, até que a morte os separe.