Reviravolta na minha vida e despedida

Era mais um sábado na minha rotina mista de adolescente com aposentado, isso é , vivendo como um jovem sem responsabilidade com hábitos de um idoso usando samba-canção 80% do dia e lendo jornal todas as manhãs.

Naquele fim de semana fazia o típico inverno santista, chuvisco e vento que duram dias. Eu estava sem paciência pra balada, caçar mulheres em aplicativos ou ativar algum contato cansado no meu Whatsapp. Preferi pedir pizza com meus pais e bater um papo com a minha mãe ao longo da noite. Eis que dois emails vieram agitar a nova temporada da minha vida.

O primeiro email recebi naquela noite, de uma leitora simpática que pedia indicações de bares para solteiros em São Paulo. Saquei a segunda intenção e com o email dela fucei seu Facebook. Gostei do que vi e sugeri de apresenta-la pessoalmente algumas opções no final de semana seguinte. Ela topou.

Já havia planejado todos os dias. Sexta sairia com ela, sábado com meus amigos solteiros, domingo ressaca e segunda resolver algumas pendências pessoais e depois voltar à Santos. Mas as coisas saíram do planejado.

Eu não tinha mais onde ficar em São Paulo, havia me desfeito da Cafa House semanas antes de começar minha viagem pelo mundo. Porém, um amigo disse que eu poderia ficar na casa dele, já que havia três quartos e ele desceria para a baixada no sábado de manhã.

Além do apartamento, eu também tinha desfeito do Cafa Móvel. Só que vendi para o meu pai e seria com ele que pegaria a estrada. Acontece que na venda eu descontei valores de revisão periódica e dos pneus que precisavam ser trocados. Meu pai, como bom mão de vaca que é, só tinha trocado o óleo do motor.

Chovia forte e o estado dos pneus era lastimável, não dava pra pegar estrada. Fomos trocar os pneus, o que me fez perder duas horas.

Já na estrada, me dei conta que o combustível estava na reserva e tive que entrar em Diadema para encher o tanque. Cheguei no horário do rush em São Paulo e me atrasei em mais de três horas do combinado com a garota. Pelo menos era uma sexta e ela acabou me esperando em um happy hour da empresa que trabalha.

Busquei-a no bar e o combinado era passarmos na casa do meu amigo para eu me arrumar (e claro, já tentar uma investida nela lá mesmo). Só que assim que cheguei ao prédio, dei de cara com meu amigo na portaria, sua namorada e um casal de amigos dela.

Foi uma situação chata, pois eu mal conversei com a garota e já tinha que apresenta-la a dois casais. Sem contar que ela teria que ficar conversando com eles, enquanto eu me duchava. Uma forçação de intimidade que eu não queria, mas não tinha o que fazer. Pelo menos, além de paciente, ela não é tímida e se virou bem.

De lá fomos para à casa dela. Esperei-a no sofá, enquanto ela se maquiava e fiquei pensando se deveria ataca-la ali ou não, mas seria forçar demais a barra e achei melhor esperar um pouco, pelo menos até nos conhecermos melhor. Sim, com a idade fiquei mais devagar e romântico.

No bar o papo fluiu muito bem e o beijo melhor ainda. Um excelente encaixe. Depois de uma garrafa de vinho voltamos para a casa dela e rolou uma boa pegação na sala. Transamos. Na manhã seguinte eu já não tinha vontade alguma de sair com meus amigos solteiros e acordar de ressaca no domingo. Ela também tinha curtido e combinamos de ficar juntos no final de semana.

Fui até a casa do meu amigo pegar minhas coisas. Já de volta na casa da garota, fiz uma Cafarronada e dormimos. Ao despertar, olhei meu celular e vi que tinha mais de dez ligações do meu amigo. Ele desistiu de ir pra Santos, e como eu estava com a única chave do apartamento e na impossibilidade de abrir a porta, chamou um chaveiro. Como se não fosse pouco, ao entrar no apartamento mais uma peraltice minha. A cozinha estava completamente alagada. Quando fui ao apartamento dele naquela tarde, tinha pegado um copo d´água e não fechei a torneira direito. Como a pia estava entupida, a cozinha virou uma lagoa. Para coroar, a água que vazou apodreceu os pés do movelzinho de fórmica ao lado da pia e o fogão elétrico se espatifou no chão. Gastei uma grana que eu não queria/planejava.

O restante do final de semana foi muito bom, parecia que eu conhecia a garota há anos. Supostamente, após o exame médico que eu tinha na segunda-feira (exigência para aplicar para o visto australiano), eu voltaria pra Santos. Porém, decidi passar aquela noite com ela. No caminho para a casa dela, apaguei todos os aplicativos de paquera, já não faziam mais sentido.

No fim de semana seguinte ficamos mais uma vez juntos e a intimidade só crescia. Porém, hoje recebi um email da embaixada australiana com a aprovação do meu visto. Em menos de três semanas estarei do outro lado do mundo, com passagem só de ida. Mais uma história que tinha tudo pra dar certo, mas o destino achou que não.