A complexidade de um relacionamento simples

Enquanto escrevo esse post, mantenho parte do foco na panela que está no fogão cozinhando a minha janta e da minha namorada. Hoje é minha vez de preparar a comida, pois ela ainda está no trabalho.

A janta está toda ali, numa panela comum. Olhando por fora parece um simples jantar, mas dentro preparo uma carne cozinhada a fogo lento com vinho, com bouquet garni, algumas especiarias e batata doce que absorverá o caldo e fará uma boa harmonização com a carne.

Longe de querer me gabar como chef, mas pra chegar nesse prato levei anos colocando a mão na massa. Primeiro com pratos simples em casa, observação em restaurantes e o trabalho em cozinha na Austrália (cortando quilos de legumes por dia e conquistando uma queimadura no braço).

Juro que não fumei nada especial, mas olhando essa panela e todo esse contexto culinário lembrei dos meus relacionamentos e como foi a minha evolução e deles ao longo dos anos.

Tive a época de comer o miojo com salsicha que eram as amiguinhas do começo da fase adulta, que estão de bobeira, tem nada pra fazer, deu fominha e pan! põe pra dentro sem perder tempo e estresse; teve as pizzas Hut do Tinder que a aparência é ótima, mas que após comer dá um peso danado; isso sem contar as da night, ou hot-dog pós- balada que você mal lembra da cara, mas dia seguinte faz estrago.

E ai a coisa começa a evoluir para um sanduíche favorito que você come vez ou outra, mas não tem compromisso algum. Até que conquista o prato-feito, aquele relacionamento básico, que não tem nada de errado, cumpre o seu papel, mas é um prato-feito. Há pessoas que não se importam em comê-lo todo dia, há quem não suporte a mesmice.

Ai chegamos nas coisas extraordinárias, como um magret de pato com trufas negras farejadas por porcos franceses ou um bife de Kobe acompanhado de arroz negro coletado por um monge no Himalaia, aquela coisa que explode os sentidos e você nunca mais esquece, tal qual um relacionamento explosivo que você nunca experimentou antes e raramente se repetirá. Mas se repetir, há o risco de virar prato-feito.

Voltemos pra minha panela.

Assim que comecei a comer, estava extraordinário, mas percebi que a carne poderia ter sido de outro tipo pra ficar mais tenra. Daqui a alguns meses tentarei de novo com outra peça, pois amanhã é macarronada de atum ao molho secreto do Cafa.

Considero esse o sucesso de um relacionamento maduro, estável e saudável. Não há grandes oscilações, não há peso e sim um equilíbrio e desenvolvimento contínuo. Aparentemente simples, mas complexo pra ser alcançado.