Carlos Alberto de Nobrega faz 80 anos nesse ano, mas a Praça é Nossa, na verdade é Minha aqui na Australia. Sou um Carlos Alberto da vida real.
O meu banco é uma mesa de segunda mão estrategicamente localizada no centro do apartamento o qual divido com quatro personagens. Além deles, há participações especiais que são as amigas da garota que estou ficando aqui.
Não importa o dia da semana, nem o horário, há sempre uma forma de ter a minha individualidade estuprada até nos momentos mais íntimos. Semana passada a coisa foi intensa e explica, em partes, porque estou há tanto tempo sem postar.
Era um domingo e estava exausto do trabalho ao longo da semana, tudo o que eu queria era comprar um bom vinho e cozinhar algo diferente, no caso uma farofa de banana com purê de beterraba e frango grelhado ao molho de mostarda (que ficou foda). Começou que ao procurar minhas taças, só havia uma, as outras foram quebradas, restando apenas algumas vagabundas com motivos natalinos. Tudo bem, era um detalhe e ignorei aquilo.
Os personagens estavam na sala ouvindo música eletrônica chata e bebendo, por isso me tranquei na cozinha, coloquei um jazz e mandei ver no preparo.
Assim que comecei a servir, parece que eles vieram pelo cheiro e três juntos, semi-bêbados começaram a elogiar o prato, questionar o que eu tinha cozinhado apontando para a comida e puxando assunto (com o claro intuito que eu oferecesse o que mal servia pra mim e pra garota). O prato esfriava, enquanto tentávamos manter a educação e interagir com os personagens.
Após terminar a refeição, percebemos que minha casa não seria o lugar ideal para terminarmos a noite, por isso seguimos para a casa da garota a fim de ter uma noite tranquila (na verdade de dar uma trepada sem ter o risco de alguém atazanar). Chegamos no lugar e a casa parecia um mix de templo budista, velório e casa de pai-de-santo. As personagens especiais que moram na casa da garota ouviam sons da natureza, traziam adornos budistas e velavam homens que estavam mortos no sentimento (deles). O cheiro de incenso era de matar e a qualquer momento eu imaginava alguém batendo tambor com o ere no corpo. Ali definitivamente não seria o lugar para transarmos e acabamos indo dormir.
Dia seguinte eu tinha que entregar um exercício do curso que estou fazendo e pra isso precisava de máxima concentração em casa. Fui cedo pra preparar meu café da manhã e focar na tarefa. Entrei em casa e um dos personagens já estava acordado preparando café da manhã. Esse cara é um caso a parte, formado em Fisioterapia e chato de nascença, ele adora fisiculturismo e passa os momentos ociosos em casa assistindo vídeo sobre musculação, dieta, homem puxando peso e tal. Não satisfeito, ele precisa compartilhar (ao vivo) tudo o que assiste de curioso . Nessa manhã tomei uma saraivada visual de músculos, shakes e treinos. Ele partiu para o trabalho e assim consegui voltar para o exercício, mas com o cérebro contaminado por músculos e dietas.
Quando estava na metade, apareceu o cara que divide quarto comigo. Ele é gente boa, mas acabou de chegar no país e mal sabe por onde começar. Pediu minha ajuda para arrumar/fazer o currículo dele e na sequência começou a conversar com a mãe. Tentei voltar ao trabalho, mas não tinha como me concentrar, mesmo de fone eu ainda o ouvia conversando com a mãe, as vezes alternando a voz com jeito de bebe e contando fofocas (e como eu gosto de fofoca involuntariamente meu cérebro preferia esse assunto a pensar em cálculos).
Consegui adiantar o que pude e o dia voltou ao normal. À noite, aproveitando que o meu roomate estava em aula, convidei a garota pra ir em casa tomar um vinho (na real era uma desculpa pra ir pro quarto e tirar o atraso). Aqui vale uma pausa, naquele dia o gerente do apartamento fez algumas mudanças na casa, colocou alguns armários, tirou outros e fez uma pequena bagunça nos quartos. Eu ignorei o fato, mas não o chato da casa.
Quando estava quase finalizando o ato com a garota, ouvi alguém reclamando na sala, o chato. Tentei ignorar, mas de repente ele começou a bater na porta do meu quarto. Tentei mais uma vez ignorar, mas não tinha jeito, o barulho aumentava e com medo dele abrir a porta, perguntei o que ele queria. Ele perguntou se eu sabia quem tinha feito a bagunça na casa, dei uma leve brochada pedindo gentilmente que ele ligasse para o gerente e não me enchesse o saco. Consegui recuperar a concentração e finalizei.
Não me levem a mal, não sou um chato individualista e apesar das críticas eles são pessoas do bem e ajudam a quebrar os momentos depressivos por estar longe da família e amigos. Só que há momentos que eu apenas gostaria de ficar sentado no banco da praça lendo o meu jornal, sem que a velha surda, batoré e patropi sentem do meu lado.
Certa vez li uma dessas correntes babacas com um suposto texto do Chaplin (mas que é do Sean Morey) que a vida deveria começar de trás pra frente. Aqui traduzido:
“A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo”
Parece genial, mas estou vivendo parte desse retorno. Morava sozinho, tinha um carro e planejava casar um dia, como a maioria dos homens na casa dos 30. Agora divido apartamento, ando de transporte público e não tenho plano algum de casar, como a maioria dos homens na casa dos 20. É, o texto de Morey não é tão genial assim.
(Enfim, vou tentar postar com mais frequência, tenham paciência com o Carlos no seu banquinho J ).