“Eu fui uma adolescente boba, feia, sem auto estima. Me apaixonava fácil, aceitava humilhações e assim por diante… mas comecei a ler mais sobre relacionamentos e comportamento humano. Seu blog me ajudou a conhecer um pouquinho da cabeça das pessoas, principalmente homens, além de várias pesquisas, faculdade, etc. Hoje, com 30 anos, não tenho mais aqueles problemas de auto estima. Me acho bonita, interessante, estudei bastante, tenho um emprego razoável e continuo prestando concursos, sou doutora na minha área, morei fora. Enfim, mudei muito do que eu era. Acho que passei por um período de evolução, como todo mundo passa.
Cafa > Obrigado pela parte que me toca. Fico feliz sempre que leitoras comentam que meus textos ajudaram no seu desenvolvimento. 🙂
Sobre a sua evolução, esse é o “problema” de chegar aos 30 anos solteira(o). Cada ano que passa, estudo, trabalho e experiência vão fazendo com que fiquemos mais criteriosos e aquele par de músculos ou bunda torneada é bom de ver, mas não dá pra se envolver se o sangue que circula no corpo não oxigena o cérebro. Então, é natural que ao encontrarmos alguém com as mesmas ambições e valores uma relação fixa se estabeleça e dure. Aos 30 boa parte das pessoas bacanas já encontraram seus pares e ai o que sobra são os eternos solteiros, os demasiadamente criteriosos, os sem sorte e o refugo (que lidera o grupo).
Eu achava que eu tinha me tornado uma pessoa fria. Inclusive, a primeira vez que pensei em te escrever era para falar sobre isso. Mas desisti, e depois disso aconteceu um vendaval na minha vida. Explico.
Durante muito tempo, e depois de várias decepções, eu me fechei. Só tive um relacionamento sério. Sério que eu digo é de levar pra casa, conhecer a família. Tive outros que duraram algum tempo. Nesse mais sério, eu não era apaixonada pelo meu ex, que fazia tudo por mim e que dizem que me ama até hoje. Passei metade do relacionamento, que durou 2 anos, tentando encontrar uma forma para terminar, pois a família dele me acolheu muito bem, não queria magoá-los e no fundo achava que talvez o amor que ele sentia por mim fosse suficiente, mas não era.
Cafa > O que você fez com esse seu ex é exatamente o que o seu atual caso está fazendo com a mulher (mais pra frente no texto falarei a respeito), receio de terminar por causas externas. Pergunta retórica, mas o que é mais importante, sua felicidade ou a dos outros? Enquanto você perdeu 2 anos da sua vida com medo de magoar a família e o cara, perdeu a oportunidade de conhecer alguém que desse liga contigo.
Isso já faz quase oito anos e, desde então, me decidi que jamais começaria algo sem a certeza da paixão de ambas as partes e por isso não tive mais nenhum relacionamento sério. Todas as pessoas que eu começava a sair, eu encontrava defeitos. Ou eram mais novas e eu achava que estávamos em fases muito diferentes, ou eu pegava implicância pelo jeito de falar alto, de escrever errado, de não estudar tanto… nem sei se esses defeitos eram tão gritantes, mas para mim eram motivos para não prosseguir. Eu via minhas amigas falando de amor, e até comentava que sentia certa inveja, por não conseguir me envolver com ninguém.
Mas, aqui começa o vendaval.
Sou amiga de uma pessoa há algum tempo, mas nos últimos dois anos nos aproximamos demais. Somos colegas de trabalho e confidentes. Sabemos muito da vida um do outro e quando não estamos juntos no trabalho estamos nos ligando para contar o que aconteceu. Somos cúmplices, como costumamos dizer. Temos os mesmos objetivos, mesmos gostos, nos damos bem em tudo. Acontece que toda essa ligação foi se tornando paixão, e hoje até acho que pode ser amor.
Cafa > Não é. Pode ser uma paixonite devido a tantas similaridades, mas vai ser amor quando vocês forem pra cama, quando os meses passarem e a rotina chegar. Agora você só tem o melhor de uma relação, não o viu roncar, deixar a tolha molhada na cama, não lavar louça, peidar, ter crise de ciúme, etc. Não que ela faça isso, mas os defeitos vem com a convivência na intimidade, não em um ambiente de escritório em que todos vestem uma máscara corporativa. Vai com calma nessa não-relação.
Mas é ai que começa o problema. Ele é casado. Casamento recente, menos de 3 anos, mas que nasceu morto. Casou por ela ter engravidado numa recaída do namoro que já tinha terminado, e é perceptível que ele não é feliz com ela. Sei que pode me dizer que isso é grifo meu, mas todos a volta dele percebem também. Ele já desabafou algumas coisas comigo, já vi algumas coisas que ela manda para ele, então sei que realmente é verdade. Há uns meses ele pediu o divórcio, mas voltou atrás quando o advogado falou sobre as dificuldades de ficar com a filha, que ainda é muito pequena.
Cafa > Eu sinceramente não entendo como uma pessoa estudada e esclarecida ainda carrega consigo um conceito medieval de que engravidou tem que casar. Veja bem, não estou falando que o cara tem que dar as costas e deixar a coitada literalmente carregar o peso. Porém, se não há amor entre o casal, por que diabos precisam casar? Pra não pegar feio pra família e sociedade? É preciso manter uma relação de aparências e viver infeliz em nome da família cristã? Credo.
O cara deveria ser maduro suficiente para pagar o boleto que a vida lhe trouxe pelas decisões erradas e má sorte que teve ao engravidar uma pessoa que não gosta. Agora vai ficar com uma bola de ferro no pé para ter tempo com a filha? Ele não tem que tomar a decisão com base no que o advogado disse, mas na sua consciência e bom senso.
Quando percebi que estava envolvida com ele, tentei me afastar, mas não consegui. Ele começou a demonstrar que gostava de mim e acabamos ficando. A esposa dele percebeu que ele mudou e começou a desconfiar de mim e me ameaçar para ele. Por conta dessas ameaças, ele começou a fazer algumas vontades dela, como voltar a usar aliança.
Cafa > Veja você, que tanto amadureceu ao longos dos anos agora se vê com um cara meio borra-botas que ~ começou a fazer algumas vontades e voltou a usar aliança~. Lendo isso, você não percebe como essa situação é ridícula?
Ele diz que não quer manter isso, e sabe que eu também não quero, mas que não sabe se tem coragem de se separar agora por causa da filha, apesar de me amar. Eu não quero ser feliz às custas da infelicidade de ninguém, então penso em sumir. Mas, por outro lado, penso que se eu der tempo ao tempo pode ser que as coisas vão se ajeitando, já que aparentemente eu encontrei a pessoa que buscava todos esses anos. Tinha me decidido em dar um “ultimato”, mas recuei, sei que se fizer isso agora estarei lutando contra a filha, e vou perder”.
Cafa > Você se apegou a esse cara como se fosse uma tábua de salvação para a má sorte (ou excesso de critério) de encontrar alguém. Como eu disse, por enquanto você tem o melhor de uma relação, não pode afirmar com certeza que ele é o cara. E enquanto você fica nesse chove-não-molha, não se abre para conhecer outras pessoas.
Dar tempo ao tempo é sempre uma opção, mas quanto tempo? Até a filha fazer 5 anos de idade? Entrar na escola? Você tem esse tempo? Daqui a pouco você está com 35 e se pensa em construir uma família e ter filhos vai ficar tarde.
Você não tem que lutar contra a filha dele, esse pensamento é errado. Você precisa ter uma conversa bastante madura com ele, que entende a situação que ele passa, mas que é insustentável pra você seguir sendo a outra. Se ele prefere manter uma relação de aparências e ser infeliz numa relação para manter a proximidade com a filha, é uma decisão dele, mas a sua felicidade não faz parte desse plano.
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