RELACIONAMENTO 8 de janeiro de 2018

Dias das leitoras – Eu ou a filha?

stepdaughter-jealousy

“Eu fui uma adolescente boba, feia, sem auto estima. Me apaixonava fácil, aceitava humilhações e assim por diante… mas comecei a ler mais sobre relacionamentos e comportamento humano. Seu blog me ajudou a conhecer um pouquinho da cabeça das pessoas, principalmente homens, além de várias pesquisas, faculdade, etc. Hoje, com 30 anos, não tenho mais aqueles problemas de auto estima. Me acho bonita, interessante, estudei bastante, tenho um emprego razoável e continuo prestando concursos, sou doutora na minha área, morei fora. Enfim, mudei muito do que eu era. Acho que passei por um período de evolução, como todo mundo passa.

Cafa > Obrigado pela parte que me toca. Fico feliz sempre que leitoras comentam que meus textos ajudaram no seu desenvolvimento. :)

Sobre a sua evolução, esse é o “problema” de chegar aos 30 anos solteira(o). Cada ano que passa, estudo, trabalho e experiência vão fazendo com que fiquemos mais criteriosos e aquele par de músculos ou bunda torneada é bom de ver, mas não dá pra se envolver se o sangue que circula no corpo não oxigena o cérebro. Então, é natural que ao encontrarmos alguém com as mesmas ambições e valores uma relação fixa se estabeleça e dure. Aos 30 boa parte das pessoas bacanas já encontraram seus pares e ai o que sobra são os eternos solteiros, os demasiadamente criteriosos, os sem sorte e o refugo (que lidera o grupo).

Eu achava que eu tinha me tornado uma pessoa fria. Inclusive, a primeira vez que pensei em te escrever era para falar sobre isso. Mas desisti, e depois disso aconteceu um vendaval na minha vida. Explico.

Durante muito tempo, e depois de várias decepções, eu me fechei. Só tive um relacionamento sério. Sério que eu digo é de levar pra casa, conhecer a família. Tive outros que duraram algum tempo. Nesse mais sério, eu não era apaixonada pelo meu ex, que fazia tudo por mim e que dizem que me ama até hoje. Passei metade do relacionamento, que durou 2 anos, tentando encontrar uma forma para terminar, pois a família dele me acolheu muito bem, não queria magoá-los e no fundo achava que talvez o amor que ele sentia por mim fosse suficiente, mas não era.

Cafa > O que você fez com esse seu ex é exatamente o que o seu atual caso está fazendo com a mulher (mais pra frente no texto falarei a respeito), receio de terminar por causas externas. Pergunta retórica, mas o que é mais importante, sua felicidade ou a dos outros? Enquanto você perdeu 2 anos da sua vida com medo de magoar a família e o cara, perdeu a oportunidade de conhecer alguém que desse liga contigo.

Isso já faz quase oito anos e, desde então, me decidi que jamais começaria algo sem a certeza da paixão de ambas as partes e por isso não tive mais nenhum relacionamento sério. Todas as pessoas que eu começava a sair, eu encontrava defeitos. Ou eram mais novas e eu achava que estávamos em fases muito diferentes, ou eu pegava implicância pelo jeito de falar alto, de escrever errado, de não estudar tanto… nem sei se esses defeitos eram tão gritantes, mas para mim eram motivos para não prosseguir. Eu via minhas amigas falando de amor, e até comentava que sentia certa inveja, por não conseguir me envolver com ninguém.

Mas, aqui começa o vendaval.

Sou amiga de uma pessoa há algum tempo, mas nos últimos dois anos nos aproximamos demais. Somos colegas de trabalho e confidentes. Sabemos muito da vida um do outro e quando não estamos juntos no trabalho estamos nos ligando para contar o que aconteceu. Somos cúmplices, como costumamos dizer. Temos os mesmos objetivos, mesmos gostos, nos damos bem em tudo. Acontece que toda essa ligação foi se tornando paixão, e hoje até acho que pode ser amor.

Cafa > Não é. Pode ser uma paixonite devido a tantas similaridades, mas vai ser amor quando vocês forem pra cama, quando os meses passarem e a rotina chegar. Agora você só tem o melhor de uma relação, não o viu roncar, deixar a tolha molhada na cama, não lavar louça, peidar, ter crise de ciúme, etc. Não que ela faça isso, mas os defeitos vem com a convivência na intimidade, não em um ambiente de escritório em que todos vestem uma máscara corporativa. Vai com calma nessa não-relação.

Mas é ai que começa o problema. Ele é casado. Casamento recente, menos de 3 anos, mas que nasceu morto. Casou por ela ter engravidado numa recaída do namoro que já tinha terminado, e é perceptível que ele não é feliz com ela. Sei que pode me dizer que isso é grifo meu, mas todos a volta dele percebem também. Ele já desabafou algumas coisas comigo, já vi algumas coisas que ela manda para ele, então sei que realmente é verdade. Há uns meses ele pediu o divórcio, mas voltou atrás quando o  advogado falou sobre as dificuldades de ficar com a filha, que ainda é muito pequena.

Cafa > Eu sinceramente não entendo como uma pessoa estudada e esclarecida ainda carrega consigo um conceito medieval de que engravidou tem que casar. Veja bem, não estou falando que o cara tem que dar as costas e deixar a coitada literalmente carregar o peso. Porém, se não há amor entre o casal, por que diabos precisam casar? Pra não pegar feio pra família e sociedade? É preciso manter uma relação de aparências e viver infeliz em nome da família cristã? Credo.

O cara deveria ser maduro suficiente para pagar o boleto que a vida lhe trouxe pelas decisões erradas e má sorte que teve ao engravidar uma pessoa que não gosta. Agora vai ficar com uma bola de ferro no pé para ter tempo com a filha? Ele não tem que tomar a decisão com base no que o advogado disse, mas na sua consciência e bom senso.

Quando percebi que estava envolvida com ele, tentei me afastar, mas não consegui. Ele começou a demonstrar que gostava de mim e acabamos ficando. A esposa dele percebeu que ele mudou e começou a desconfiar de mim e me ameaçar para ele. Por conta dessas ameaças, ele começou a fazer algumas vontades dela, como voltar a usar aliança.

Cafa > Veja você, que tanto amadureceu ao longos dos anos agora se vê com um cara meio borra-botas que ~ começou a fazer algumas vontades e voltou a usar aliança~. Lendo isso, você não percebe como essa situação é ridícula?

Ele diz que não quer manter isso, e sabe que eu também não quero, mas que não sabe se tem coragem de se separar agora por causa da filha, apesar de me amar. Eu não quero ser feliz às custas da infelicidade de ninguém, então penso em sumir. Mas, por outro lado, penso que se eu der tempo ao tempo pode ser que as coisas vão se ajeitando, já que aparentemente eu encontrei a pessoa que buscava todos esses anos. Tinha me decidido em dar um “ultimato”, mas recuei, sei que se fizer isso agora estarei lutando contra a filha, e vou perder”.

Cafa > Você se apegou a esse cara como se fosse uma tábua de salvação para a má sorte (ou excesso de critério) de encontrar alguém. Como eu disse, por enquanto você tem o melhor de uma relação, não pode afirmar com certeza que ele é o cara. E enquanto você fica nesse chove-não-molha, não se abre para conhecer outras pessoas.

Dar tempo ao tempo é sempre uma opção, mas quanto tempo? Até a filha fazer 5 anos de idade? Entrar na escola? Você tem esse tempo? Daqui a pouco você está com 35 e se pensa em construir uma família e ter filhos vai ficar tarde.

Você não tem que lutar contra a filha dele, esse pensamento é errado. Você precisa ter uma conversa bastante madura com ele, que entende a situação que ele passa, mas que é insustentável pra você seguir sendo a outra. Se ele prefere manter uma relação de aparências e ser infeliz numa relação para manter a proximidade com a filha, é uma decisão dele, mas a sua felicidade não faz parte desse plano.

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Quer mandar a sua história para que eu (talvez) comente e publique? É só enviar para cafa@manualdocafajeste.com; Caso queira manter o sigilo e ter certeza que sua história será comentada contrate o Cafa Responde (máx de 2 páginas / arial 12). :)

  • Elaine

    É a gente pensa que amadureceu, é inteligente, bem resolvida, mas emocionalmente acaba cometendo os mesmos erros de uma adolescente. Tem que pensar em si primeiro. Você tem razão: estando envolvida com alguém nos fechamos para os outros. Também sou assim, por isso é preciso ter coragem para dizer não mesmo com o coração partido e seguir em frente sempre. Bjs Cafa!

  • Irla

    Caraiu, quando ela falou que passou 8 anos sem envolver-se com alguém bateu uma bad!!

    Conselhos sensacionais, cafa!

    • Marília

      eu estou há 10 anos, as pessoas são exigentes demais e por mais boa pessoa que eu seja, nem sempre posso me adequar ao que supostamente os caras acham que querem.

  • Vanessa Silva

    Leitora, você virou aqueles clichês da revista Marie Clarie. Cuidado para não ser arrastada nessa situação (que é super confortável pra ele) por anos. Eu digo que é super confortável pq ele continua na zona de conforto dele, enquanto voce se envolve cada vez mais com um cara CASADO.

    Corta o cordão umbilical logo e vai curtir a vida com alguem que esta disposto a fazer alguma coisa por você, e não com um covarde que prefere usar a filha como justificativa para evitar uma situação ruim.

  • Catherine

    Ficar suportando situação na suposição/esperança de que um dia vai mudar não dá. É destruir a própria saúde mental e grande chance de perda de tempo.
    Melhor sofrer logo e não passar vontade de dar aquela intimada. Aí entra o mundo das possibilidades: ou o cara toma uma atitude, ou escolhe a esposa e a filha e vc já chora as pitangas e parte pra outra quando der ou, sabe lá o que o futuro reserva, isso acontece, mas quem sabe mais pra frente ele tome uma atitude, mas pelo menos vc não ficou esperando sentada. Sempre digo: se for pra esperar sentada, que ao menos seja em outra piroca. Se ele voltar e vc ainda estiver disponível e quiser, aí vc pensa.

  • Sagitariana

    Cafa,
    Boa história. Essas desculpas que os homens usam pra não se separar são clássicas. O que ela precisa fazer nesse momento é fortalecer a autoestima e encerrar essa história. Muitas vezes por amar demais, por temer a solidão as mulheres tentam se autoenganar e ignoram sinais evidentes.
    Bjs Cafa e atualize com mais frequência o blog, estamos precisando.

  • Sagitariana

    Cafa,
    Queria salientar também que você falou sobre as chances de encontrar alguém diminuem depois dos 30, que tem refugo, etc. Essa questão é bem relativa. Estar com alguém, especialmente morando sobre o mesmo teto é bem difícil seja em que idade for e não conseguir alguém depois dos 30 não é sentença de infelicidade. As mulheres são obrigadas socialmente a ter alguém, talvez até seja o caso de muita gente e ter alguém não corresponde a ser feliz imediatamente.
    Bjs Cafa

    • http://www.manualdocafajeste.com cafa

      Não é sentença, mas um complicador sem dúvida

  • Marina

    Caramba! lia esse blog nos idos de

  • Mari

    Caramba! Lia esse blog lá nos idos de 2009/10 (acho), e adorava! peguei a transição dos dois cafas (campeiro e alguma outra coisa?) e parei de ler, as reflexões já nao eram as mesmas. Descobri semana passada que tinha voltado, e li tudo numa tacada! Gostei muito de como você mudou, e amadureceu várias ideias, mas manteve a sensibilidade para analisar situações aparentemente corriqueiras. Como grande admiradora de textos bem escritos e aspirante à escritora, essa sensibilidade crítica é uma das características que mais admiro. Continuo não concordando com algumas coisas (sinto um facada particularmente dolorosa nas costelas quando leio que fulana é cachorra, ou que o restaurante é abre pernas), mas nao deixo de admirar a sutileza e perspicácia dos seus posicionamentos e reflexões. Estava saudosa! Nao posso deixar de dizer que o blog ajudou no meu crescimento!

    • http://www.manualdocafajeste.com cafa

      Obrigado pela comentário. Sempre bom ver leitoras antigas de volta :)

    • Carina Carvalhais

      Eu também pegue a época da transição, achei o outro um pouco grosseiro e parei de ler. Hoje me lembrei do blog e resolvi procurar. A leitura dos textos me lembrou do velho e bom cafa de 2009, mas o seu comentário me trouxe a feliz notícia de que é ele mesmo que retornou.

    • Ruth Ruthilinha

      Eu reencontrei o blog ontem, quase infarto. Sentia muita falta também.

  • Laura

    O cafa precisa mudar alguns conceitos tb, 35 anos é tarde pra formar família?!? Não estamos mais na década de 80

  • Marília

    Não acho que 35 anos esteja velha pra formar família. Vai da moça também, o que ela quer de fato. O que falta em muita gente é tentar refletir o que quer, se conhecer e entender se quer mesmo casar, ter filho, dormir no mesmo quarto, aguentar sogra e etc.
    Muita gente se acha demais só porque estudou “muuuuito” (as vezes nem estudou, se formou numa uniesquina e já acha grande coisa) fez uma MBA de 500 reais a fatura, ou uma especialização também de mesmo valor e trabalha numa empresa que trata como lixo na maior parte das vezes. Mas pra muitos que estão à caça de alguém, isso é o que vale, isso é o que conta na hora de se apaixonar. Ai ninguém liga se aquela moça que tem graduação, MBA, mora sozinha mas que é uma chata e fresca, se aquele moço com o mesmo currículo e um carro importado na garagem é insuportavelmente preconceituoso e boçal e que na convivência não dá pra aturar mais de dois dias. O que vale é esses tipos terem coisas e status para que se justifique um relacionamento.
    É por isso que o relacionamento do rapaz aí em questão é falido.

    É por isso também que muita gente chega aos 30 anos assim, solteirona tipo eu, tipo ela. Ou escolhe demais ou se deixa ser escolhida. Não faz uma autocrítica, se acha uma pessoa muito importante porque estudou e morou fora, aí por isso está acima do bem e do mal e só príncipes donos de multinacionais podem chegar perto.
    De repente se vê envolvida com homem casado que ainda se vitimiza por uma escolha que fez de bom grado.

    Mas eu tenho dois amigos na minha vida que vivem a mesma situação do homem casado descrito. Um engravidou a namorada de um relacionamento de 9 anos que já tinha se tornado um estorvo pra ele. A menina era paranoica e desequilibrada e num surto psicótico, engravidou dele como a salvação dele não terminar o relacionamento. Isso ainda segurou ele por 1 ano, ele vinha chorar as pitanga pra mim dizendo que o filho dele ia ser infeliz se ele e a namorada não tivessem uma relação. O cara traía a ex-namorada a rodo mas ele preferia fingir uma relação feliz de casal para o filho. Safadeza e falta de escrúpulos. Ah, falei isso pra ele.
    O outro amigo casou também há uns 3 anos com uma moça que tava a vias de perder o pai e tem uma filha de outro homem ao qual não paga pensão. Ele não admite, mas quis dar uma de bom samaritano, de príncipe encantado, e resolveu casar com a menina pra ser o pai definitivo da criança. Resultado, relacionamento morno, chato, ao qual ele precisa o tempo todo ter conversas com ela para ela “melhorar” e quando eu pergunto porque ele aguenta, ele diz que são muitas responsabilidades para abandonar. Por várias vezes ele quis manter uma relação extra-conjugal comigo (claro, alvo perfeito, a amiga solteirona, que só vive batendo cabeça na parede por causa de macho indeciso), quando percebi que isso ia dar problema, procurei minha turma. Até hoje é chororo no whatsapp alegando que eu sou a única que melhoro o dia dele, mas no fim do dia ele vai jantar nos restaurantes mais caros com a esposa e a filha postiça.
    Me poupe, é muita contradição, é muita gente doente emocionalmente. Mas são justamente esses que quando você não aguenta mais e tem uma raiva, te julga como imatura.

    O bom de ter vivido muito é justamente isso, consigo perceber as contradições do ser humano facilmente. Homem não é tudo igual, todos nós somos iguais e cometemos as mesmas atitudes a vida inteira, pois somos uma grande boiada que acha que é pensante e na verdade não é.

  • Rubia Rocha

    O post mostra um caso clássico de que maturidade profissional não tem nada haver com maturidade emocional.