RELACIONAMENTO 12 de junho de 2017

Diferenças de classe social em um relacionamento

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Como estava sem inspiração para escrever, perguntei às leitoras no Facebook que assunto gostariam que eu escrevesse. Fiquei surpreso com a quantidade de solicitações sobre como lidar com diferenças de classes sociais. Aqui há duas possibilidades, a pessoa que possui melhor condição financeira e a que possui menor. Como já vivi os dois lados, abordarei ambas experiências.

Fato é,  ninguém gosta de parecer feio, burro e pobre. No primeiro encontro (via de regra) as pessoas usam sua roupa mais bonita, tentam causar boa impressão no papo e mostrar que não são um fudido. Claro, só um abobado vai falar que é rico ou pobre logo de cara, mas ai as questões de o que você faz, onde mora, formação, etc começam a delinear quão duro ou abastado é fulano.

No meu caso, no começo da minha fase adulta eu era meio fudido, tinha um carro caindo aos pedaços, usava roupas horrorosas e a grana que sobrava para as garotas que eu saia mal pagava a gelada do bar da esquina. Com muita criatividade eu contornava a situação e evitava mostrar a minha condição fudida. Só que isso me atraia nada que prestava. As pobres como eu me achavam esnobe, as mais abastadas não me correspondiam depois de alguns encontros. Eu passava uma imagem superficial e só fidelizava tranqueira, sejam pobres interesseiras ou ricas burras.

Após alguns anos trabalhando e fazendo algum dinheiro eu comecei a mudar minha percepção e estava cagando para a questão financeira, mas eu seguia não querendo uma pobre interesseira ou uma burra rica do meu lado.

Minha primeira ex não tinha muita condição, na verdade a família dela chegou a ter bastante dinheiro, mas perdeu tudo. O mais triste nesses casos é a tentativa de manter o padrão de vida antigo fazendo remendos com a condição atual. A primeira vez que conheci os pais dela parecia um teatro. Todos vestiam roupas de marca gastas (e/ou falsas) falavam de dinheiro e bens quase que a janta inteira. As perguntas que dirigiam a mim era para certificar que eu tinha grana e uma vez passado no filtro financeiro-social, me tratavam com uma submissão e adulação que me faziam mal. A minha ex era boazinha e trabalhadora, me dava pena da família ser tão inconveniente. Nossa relação não deu certo por alguns fatores, mas a família foi um peso importante.

Alguns anos depois conheci outra ex e a coisa inverteu. Ela tinha uma condição muito superior a minha, que eu apenas fui tomar conhecimento meses depois de nos conhecermos. A coisa foi meio nerd, nos conhecemos online e depois de alguns meses pessoalmente. Eu tinha um tesão imenso por ela e não me preocupei em levar em restaurante no primeiro encontro ou mostrar status, convidei-a para comer sanduiche em casa (que naquela época era bem simples)  e foi um encaixe explosivo.

Quando a conheci eu era um ogro, não tinha muito conhecimento de etiqueta, desconhecia um monte de comida refinada e vinhos, que ela me ensinou com bastante paciência. Por outro lado, ela não tinha a vivência de cozinhar a dois, de ir a festa popular, de pagar a conta, e se divertir com coisas simples como tomar um vinho de 30 reais no parque. Então, nossa diferença financeira-social era contornável com um mútuo aprendizado, isso fez muita diferença.

A família dela, por outro lado, não dava a mínima pra mim. Minha presença era simplesmente dispensável e quando a mãe dela tomava umas e outras, eu recebia algumas alfinetadas de que eu não era tudo isso pra filha dela. Como vivíamos longe um do outro, a família não exercia muita influência na relação, mas eu tenho certeza que seria um potencial problema se a coisa avançasse.

Enfim, se o cara te escolheu como parceira, ela sabe qual a sua condição e te aceita por isso. Não sejamos hipócritas, é ótimo tomar champanhe nos alpes franceses degustando um bom fondue, mas também é incrível cozinhar em casa uma feijoada no fogo lento ao som de Natiruts.  Como eu disse, questões como “não consigo frequentar os mesmo restaurantes, viajar, etc” são contornáveis com programas mais simples ou eventualmente a pessoa que possui mais dinheiro bancando um capricho. O dinheiro nos permite experiências únicas, a criatividade também.

Quando me perguntam se a diferença social pesa em uma relação, considerando pessoas maduras e sem complexo patriarcal, eu costumo dizer que pesa mais com quem está fora pra quem está dentro. Se há diálogo entre o casal e ambos reconhecem a diferença social, o único problema é a família, que na minha atual e racional opinião pode ser resolvido simplesmente evitando-a.

  • Marília

    Tudo é questão de maturidade mesmo e de menos superficialidade. Família muito próxima da relação sempre dá problema em qualquer nível de compromisso. Eu fui uma das que te pediram esse tema porque eu sinto uma dificuldade muito grande de avançar nas relações por isso.
    Eu sou pobre, não tenho bens e não moro em bairro chique, é em periferia mesmo. O conhecimento intelectual que tenho adquiri estudando muito e tendo muita curiosidade para aprender. Tenho boa educação e boa cabeça também. Isso faz com que eu atraia homens mais estudados e consequentemente, ricos. Mas desde então nenhuma relação engata, eles acabam me tratando como aquela que mora longe e me deixam de lado. Uma vez eu ja ouvi da boca de um que eu era muito interessante, mas o fato de não ser rica e nem morar num bairro bom faz com que os caras percam o interesse. Não sei se é moda, mas parece que hoje em dia só engata uma relação saudável se você for muito linda no Instagram e todo fds estar em restaurantes e viagens caras, e claro, morar em um ótimo bairro. Não tenho dificuldades pra conversar, nem pra me vestir e nem pra tratar as pessoas, mas todos os caras com boa condição que estive não eram assim.
    Eu sei que é porque não tive sorte mesmo, mas não consigo não me entristecer quando lembro disso. Vida que segue.
    Obrigada pelo post, Cafa. Tudo de bom pra ti.

    • http://www.manualdocafajeste.com cafa

      Olha só como a vida é curiosa. Você, que apesar de não morar em bairro nobre, não ter grana, etc encontra homem com grana e estudado, deve ter um cara da periferia com o mesmo intelecto, mas pode ter certeza que provavelmente nem um match de Patricinha emergente ele ganha no Badoo. Talvez o destino tenha que unir vocês dois. O ponto é, você está a fim?

      • Marília

        Talvez eu tenha me expressado errado. O que eu quis dizer é que como tenho uma vida diferente dos demais, eu acabo conhecendo rapazes que costumam ter os mesmos gostos que eu, e algumas vezes, tinham uma condição melhor. Foram uns 2,3 casos que resultaram nessa impressão de que eu não valia a pena. Isso não quer dizer que eu só procure esse tipo de gente, na verdade eu tenho medo justamente de me envolver com gente rica demais. Mas encontrar esses 2,3 casos foi sem pretensão. Eu sempre fui aberta à qualquer relação que eu pudesse vir a ter, mas nunca consegui nem ficar com os meninos do meu bairro pois eu não era “interessante”. Hoje eu acho que a minha vida nesse setor não deu certo pelo combo ansiedade+propósito errado +introspecção em demasia. E claro que o lance do bairro é verdadeiro pois todos rapazes que já conheci confirmam isso.
        Não sou metida Cafa, to é longe de ser assim.

        • Ane Karoliny

          Super me identifiquei.

  • Alini Machado

    Assunto Chato parei na metade. Que isso né?

    • Marília

      Eu sempre tive esse medo de um dia me meter numa história dessa. Mas é pintado pra nós mulheres o tal do conto de fadas, onde o príncipe encantado rico vai se apaixonar e cuidar da moça pobre e humilde de coração. Balela. Anos atrás eu estava me envolvendo com um rapaz que tinha uma condição bem superior à mim, quando eu soube, não investi. Hoje em dia ele fala que isso não seria problema pra ele. Achei bonito o que ele disse, apoiei, mas não confio. Por mais que nem todos sejam babacas, todos nós (mulheres e homens) estamos propensos a humilhar o outro quando esse depende de algo da gente. Já vi isso acontecer de pais para filhos e vice versa, entre amigos e entre parentes no geral, lógico que vai acontecer dentro de uma relação amorosa?
      A pessoa rica tem que ser muito simples mesmo, desapegada com tudo, pra poder manter uma relação com alguém mais simples. Infelizmente é isso.

      • Alini Machado

        è… Não li a matéria mais li seu texto. Tive oportunidade de me envolver com muita gente rica simples e legal. Porém não houve química mesmo. Você tem que acreditar, eles existem e a unica coisa diferente é o relógio deles… a forma como um rico e um pobre ve o tempo é sempre diferente… Já vi muito rico tentando comprar meu olhar tbm… isso me enoja, principalmente velho…. Enfim… Sempre vou querer o cara pela Aura…Espirito Sou de boas

        • Marília

          Somos duas!

  • Aline

    Cafa, nem vou dizer todo aquele enunciado que você ja sabe de cor, como: sigo o blog a anos, fui procurar e achei, me ajudou muito, participo com você desse amadurecimento, nunca comentei aqui, enfim (acabei fazendo o enunciado rs).
    Já estive em um relacionamento com uma diferença de classe quase gritante. E ainda tinha o plus da diferença de cultura, pois ele era Italiano. Eu nem era tão pobre, morava relativamente bem, família classe média tranquila e que nunca se meteu, mas ele estava financeiramente bem acima de mim. No inicio era tudo divertido, adorava conhecer novidades com ele, mas sempre fazia questão de mostrar pra ele a minha realidade e como as coisas simples tem seu valor. Só que chegou um momento que ficou insustentável. Tudo era jogado na cara, todas as viagens que eu nao podia pagar ele fazia questão de me lembrar o tempo todo sobre isso, até que num Natal, depois de 2 anos de namoro, gastei um bom dinheiro (que para mim iria fazer uma falta danada) comprando um tênis pra ele. Ele abriu o embrulho no meio da festa, com a minha família inteira olhando (pq todas as festas ele passava com a minha família, já que a família dele morava toda na Itália) e começou a curtir com a minha cara, dizendo que aquilo não era marca, que era ridículo aquele tênis, que ele não iria usar pq era pobre. Enfim, foi uma cena ridícula que hoje dou risada, mas na época fiquei em choque. A questão é, ele era um babaca e eu uma iludida. Acho que sim, da pra ter um relacionamento de sucesso entre pessoas de classes e culturas diferentes, mas as duas pessoas devem ser bem realistas de toda a situação e terem consciência da realidade do outro.

  • Tamires

    Passei tanto pela situação de ser a melhor de vida quanto a de ser a mais pobrinha, preferi a segunda hahaha brincadeira!
    Mas no momento não prefiro é nenhuma, estou sofrendo só pela falta de dinheiro mesmo!
    Cafa, faz um post sobre mudança de vida, confesso que foram seus relatos sobre suas experiências no exterior que me fizerem vir ao blog hoje… penso muito em ir embora para Dublim, tenho uma prima trabalhando lá… sou advogada mas nunca gostei de verdade, estudo para concurso mas não estou mais suportando a pressão, estou muito infeliz com minha condição profissional, e o atual momento do Brasil é muito ruim para empreender… penso o tempo todo em ir embora do país, porém só tenho o inglês básico e medo de dar errado, também sei que sentirei muita falta da minha família… Como tomar essa decisão? Como você tomou coragem?

  • janni ventura

    ! Procurando pela intern et encontrei aqui!
    Olha, já passei por isso! E ele era Gringo! Quando ele percebeu que eu era do “gueto” como eles dizem, foi uma decepção… Fiqueii com vergonha. Ele começou .Mas ele era doente a saúde ruim , então demorou pra mim ir embora porque estava sempre preocupada stalkeando. Até que ele me Hakeou e destruiu meu pc. Disse para ele ir embora mas ele não foi! Enquanto escrevia essa mensagem tentou apagar.Ameacei denunciar! Quero que ele vá viver a vida dele! Bens materiais ficam. Dessa terra agente só leva . O que viive!

  • Observador

    Entre gêneros diferentes, sempre há, uma repercussão maior a questão do poder aquisitivo, diferentes! O homem ainda não está “preparado” para o “empoderamento feminino”! Refletindo no desempenho sexual até aqueles que nas compras passa a imagem de protagonista desde compra de imóvel ou carro, até na ida do supermercado, em que ele passa as compras no caixa e vai embalando, até que sutilmente a “patroa” abre a carteira e passa o cartão de crédito! Na relação lésbica, óbvio não poderia opinar, mas entre gays, há uma espécie de “compensação” quando ambos cisgeneros e o bissexual seja quem penetra e tem menor poder aquisitivo e o homossexual quer ser o penetrado, ou seja, se completam! Não utilizei expressões machistas, ativo e passivo, por não haver, nestas relações, essa necessidade de afirmação que muitos ativos buscam, porém entre gays afeminados, geralmente existe mais o “apelo sexual” e a economia familiar, é focada na máxima “juntar as escovas de dentes”!