Espelho, meu…

Nunca me achei um cara feio, mas também nunca tive a ilusão de ser um baita gato. Sempre me enquadrei no padrão “normal” de homem com uma leve desvantagem por conta da minha altura e uma leve vantagem por ter algo a mais na cabeça que a média de homens da minha idade.

Se a pessoa não é um demônio de feia, acredito que a beleza vá além da questão física. Já me envolvi por mulheres que todos meus amigos (e até família) diziam ser sem graça (o diminutivo pra feia), mas que por terem personalidade, inteligência e humor ficavam bonitas para mim.

Hoje, vivencio algo parecido.

Por conter gastos e evitar viajar com um monte de mala, vim pra Australia apenas com duas malas sendo que uma quase cheia de camisa social e calça jeans, que eu praticamente nunca uso. O que sobra é alguns pares de camisetas e bermudas que me trazem a versatilidade estilística da Mônica e do Cebolinha.

Como se não bastasse, cortar o cabelo por aqui é uma tremenda de uma facada. Para ir a um lugar decente não sai por menos de R$100,00. Como meu cabelo cresce que nem moita e preciso podá-lo quase duas vezes por mês, não pago R$ 200,00 nem morto. Muitos por aqui compram máquina de cortar e se aventuram no self-coiffeur. Como tenho muito redemoinho, cortar em casa sairia uma bela merda, não arrisco. O que resta é me aventurar nos salões de bairro e que a cada investida é uma caixinha de surpresas desagradáveis.  Na semana passada deixaram minha cabeça parecendo um Rapa Nui.

Mas como eu disse, a aparência física pode ser relevada se você possui auto-confiança e atributos internos que compensam “falhas” externas.

Só que como vocês podem ter observado pelos últimos textos, apesar de muitas coisas estarem dando certo, meu estado de espírito definitivamente não estava dos melhores.  Então, isso somado com roupas limitadas e cabelo mal cortado, exalo uma energia negativa que nem os bebes do metro, sempre muito simpáticos comigo, não olham pra minha cara.

E isso vira uma bola de neve que se você não para pra analisar a situação com calma, cai na depressão e tudo parece agir contra você.

Ontem mesmo, olha que situação ridícula. Tive um pesadelo terrível e acordei no meio da noite sem sentir meu braço direito. Levantei-o com o esquerdo e ele estava mole e inerte. Fiquei preocupado. Sacudi a minha mão direita dormente para  ver se o sangue descia e senti os calos e quão grossa ela esta. Na mesma hora pensei que isso devia incomodar as pessoas. Levantei da cama e minha coluna travou, fui ao banheiro, esvaziei o joelho e olhei pra mim no espelho. Estava torto, com o cabelo do Rapa Nui e o shorts do Cebolinha. Fiquei abatido.

No outro dia, um domingo, resolvi não trabalhar e tirei o dia pra mim. Fui pra academia, me alonguei bastante, comprei um bom vinho e fui pra praia sozinho ler e relaxar. Depois de virar uma garrafa, pegar um bronze e estar com o cérebro menos crítico. Mentalizei coisas positivas, voltei pra casa a pé e cheio de confiança. Não peguei ninguém no caminho, mas recebi bastante olhares interessados e isso já fez muita diferença.

Vejo um pouco desse “problema” nas histórias da Sexta das Leitoras, em que as garotas fazem questão de falar que são maravilhosas e perfeitas fisicamente, mas são tão vazias e bobas que não me admira os caras não as levarem a sério, apenas como uma trepadinha casual, pois apenas possuem a oferecer uma lataria bonita. Por outro lado, outras se colocam pra baixo, que estão fora de forma e tal. Obviamente que ter a autoestima alta não vai fazer você emagrecer ou diminuir o nariz, mas fará com que outras qualidades apareçam. E pessoas auto confiantes sempre chamam atenção.