Marla e eu (e a crise moral)

Para não ficar completamente por fora do que acontece no Brasil, costumo diariamente ler notícias do país, mas tenho vontade de chorar a cada matéria. Como se não bastasse tanta incompetência gerencial da nossa querida presidente, o país vive uma crise moral que excede partido. Além de todos escândalos em que o PT estuprou o Brasil, agora aparece desvio de verba de merenda do Alckmin. É de cair o cu da bunda.

Isso foi reforçado por um texto que bombou recentemente, daquele gringo (Mark Manson) que, apesar de algumas groselhas, falou uma verdade sobre a crise que passamos: a culpa por tudo isso é sua, é minha, é nossa.

Bom, na real não é algo tão revelador. Sergio Buarque de Holanda já tinha comentado em Raízes do Brasil que as nossas atitudes são uma consequência da nossa colonização, e nosso erro é não refletir sobre ela e parar de reproduzir padrões de comportamento e valores que nos afundam ainda mais. Porém, todo reforço é válido.

Fiz toda essa introdução, pois ontem eu agi exatamente como não deveria. Ao saber do ex-presidente FHC e sua amante, pensei: “Mas que caralhos, até o cara que eu sempre considerei foda está sujo”. E ai refleti com mais calma e lembrei da Marla e eu.

Na época que a conheci, eu já namorava, mas o namoro seguia com picos e baixas, com um excesso de química e uma falta de respeito de ambos os lados, como já falei aqui.

Marla era da minha classe do MBA e assim que a vi pela primeira vez, não conseguia imaginar outra coisa a não ser eu dentro dela. Ela era meu número, tinha estilo, mas quando abria a boca saia tanta asneira que dava pena daquela Ferrari com chassi de Fusca.

Porém, na época era aquilo que eu buscava. Uma diversão para dar umas escapadas, sem nenhum risco de compromisso.

Na segunda semana de aula a classe já estava mais integrada e combinamos um happy hour depois da classe. Fomos para um bar, todos começaram a beber bastante e não parávamos de trocar olhares. Ali mesmo na mesa a adicionei no Facebook e enquanto interagíamos friamente no mundo off-line com nossos amigos de classe, a coisa começava a pegar fogo no mundo on-line.

A conta chegou, pagamos e todos começaram a voltar ao estacionamento. Nós andamos em marcha lenta, viramos em uma rua deserta e ali começamos a nos pegar de uma forma irracional. Era uma química absurda. Levei-a para casa e transamos ali no meio da sala, sem preocupação com banho e tal.

Nosso caso durou uns dois meses. O ápice foi uma vez que a levei para a casa dos meus pais (quando eles não estavam lá) para curtir um fim de semana na praia. Encontrei com uma tia na orla da praia, que feliz(ou infeliz)mente a confundiu com a minha namorada e não deu nada. Naquela noite teve uma situação que me fez cair na real do que fazia.

Estávamos nas preliminares, e o ventilador de teto bombava para dar conta do calor africano e da nossa atividade. Por uma obra do destino, segundos depois dela mudar de posição e virarmos de lado, o lustre da lâmpada do ventilador soltou e caiu na cama, onde ela estava com a cabeça. O cobertor amorteceu a queda e não deu nada. Porém, dia seguinte fiquei pensando a merda que seria se aquilo tivesse acertado a cabeça da garota. Além de uma lesão grave, minha família e ex tomariam conhecimento do que eu estava fazendo. Não seria legal.

Depois daquele final de semana resolvi por um ponto final na história e na segunda-feira chamei-a para conversar. Não revelei que eu namorava, pois não queria que ela fizesse uma besteira. Apenas disse que não queria uma relação séria naquele momento e achava melhor sermos apenas amigos (uma desculpa idiota, mas nessas horas não tem muito o que falar a não ser uma idiotice).

Hoje, com mais maturidade e depois do episódio que citei acima sobre o FHC, reflito melhor sobre a minha atitude saindo com Marla. Eu agi como mais um daqueles que sempre critiquei. Não pensei em ninguém, apenas em mim. E esse defeito não é algo exclusivo meu, mas o pensamento dominante no Brasil. Quando não é o egoísmo pessoal, tendemos a pensar primeiro no nosso grupo de amigos ou família ao invés da sociedade no geral. Isso numa esfera maior, como é o caso dos nossos políticos, toma um efeito ainda mais nocivo.

Enfim, hoje misturei política, vida pessoal, antropologia e relacionamento, mas eu precisava dar uma desabafada sobre esse assunto, pois um dos motivos para abandonar o país foi essa crise moral (que inclusive fiz parte) e não tem fim. Espero que o post sirva de reflexão para você também repensar as suas atitudes. Começando por baixo a gente muda lá em cima.