Meu caso com o Brasil

A minha relação com o Brasil é como um relacionamento de longo prazo que, após anos de felicidades compartilhadas, acaba e cada um vai para o seu canto. Na verdade, no meu caso, o Brasil ficou no lugar dele e eu acabei saindo de casa.

As pessoas perguntam o que deu errado, afinal tudo parecia bem. É difícil nomear um motivo. Ninguém termina uma relação tão duradoura por um motivo único (a não ser que seja algo muito sério, como uma traição), mas o Brasil não me traiu. Só que assim como uma relação de longo prazo, pequenos desgastes acumulados vão minando. Eu não aguentava a insegurança de São Paulo, corrupção em todos os níveis da sociedade, a guerra diária de trabalhar em agência de publicidade, a falta de estabilidade econômica, e tal.

Porém, apenas com o passar do tempo você começa a observar que naquela relação que não deu certo o problema não estava apenas no parceiro, mas em você também. E muitas vezes o problema do parceiro era um reflexo do seu mau comportamento. Ou seja, era fácil criticar o meu país, enquanto eu pouco contribuía para que ele fosse melhor. Enquanto a relação durava, parecia que só o outro fazia cagada e eu era o perfeito. (Vejo toda semana esses casos no Dia das leitoras. Um monte de mulher perfeita criticando o parceiro problemático).

Hoje, faz dois anos que terminei o relacionamento. No primeiro ano me joguei no mundo e tive vários casos com os mais exóticos países, tal qual uma pessoa que termina um relacionamento longo e cai no mundo dos solteiros. Até que encontrei uma loira gata, bem sucedida e charmosa chamada Australia. Aparentemente muito melhor que a morena, baixinha e meio perdida chamada Brasil.

A primeira fase do relacionamento foi excelente, pois me proporcionava tudo o que Brasil deixava na mão. Só que com a convivência, a nova parceira começou a demonstrar os seus defeitos. E apesar de muitas qualidades em relação ao Brasil, falta paixão, cultura, raça, gingado e espontaneidade. Meus amigos invejavam por eu estar saindo com essa loira turbinada, mas só eu sei que apenas a sua aparência é melhor, no fundo a baixinha é um gigante e dá um banho na loira.

Quando vi a abertura das Olímpiadas foi como se eu tivesse visto a ex andando imponente pela rua depois de um longo tempo sumida. Os problemas dela não foram resolvidos, mas passa um filme de tudo o que vivemos, faz pensar no potencial que ela tem e os olhos marejam numa mistura de felicidade, orgulho e saudade.

Seria difícil reatar a relação nesse momento, apenas depois de um reencontro e por uma frustração com a loira. Do meu lado, ainda preciso amadurecer mais, me capacitar mais e talvez viver outra relação. Porém, estou feliz em perceber que a morena ainda me orgulha e que nossa história não acabou.