Apesar de Matemática não ser meu forte na época do colégio, quando cursei “Estatística” na faculdade e pude empregar os conceitos de forma prática, tive paixão pelo negócio e até virei monitor da professora (e claro, porque eu também ganhava bolsa).
Um dos assuntos que mais curtia é Probabilidade, que a grosso modo é a chance que um fenômeno ocorra dentro de um evento. Por exemplo, a probabilidade de engravidar ou de ser infectado após transar sem camisinha. Digamos que quanto mais vezes você transa sem camisinha, maior a probabilidade que um dos dois fenômenos ocorram. Após três tentativas, eu virei estatística.
O primeiro evento foi em meados do ano passado. A minha vida estava numa fase que minha psicóloga categorizava como “auto-destrutiva”. Eu não conseguia me envolver com ninguém, meu emprego me trucidava, meus melhores amigos estavam namorando e minha família distante por conta de viagens. Foi quando eu resolvi largar tudo e dar a volta ao mundo.
Enquanto planejava a viagem, o grande passatempo no fim de semana era sair com a maior quantidade possível de mulheres. Eu chegava a ponto de dividir o fim de semana com quatro, uma para cada período (dia e noite) e dia (sexta, sábado e domingo).
Adepto do Tinder-louquismo, eu saia curtindo tudo sem ver foto e depois filtrava nas combinações (por isso muitas vezes os homens não puxam assunto por lá. Você foi um like da pesca de arrastão). Em uma delas eu dei like em um cabelo. Era apenas uma foto da garota de costas com um baita cabelo bonito. Alguma coisa fez com que eu puxasse assunto com o cabelo e depois de conversar bastante, trocar whatsapp, a garota enviou mais fotos e ela era sensacional.
Obviamente que eu tinha minhas dúvidas se não era um menino por trás daquilo e por isso combinei o primeiro encontro em um lugar movimentado e neutro. Segui a dica de um amigo e fui num restaurante japonês que mais parecia uma pastelaria chinesa devido ao fedor de óleo e quantidade de gente esquisita dentro.
A garota chegou com uma hora de atraso, quando eu estava quase indo embora depois de comer dois pasteis horrorosos de flango. Ela era melhor que nas fotos, estava impecável e morri de vergonha de tê-la convidado para ir naquele lugar. Porém, depois de 10 minutos de conversa, percebi que todo o sangue que circulava naquele corpão era insuficiente para irrigar o cérebro, então resolvi ficar por lá mesmo.
Ela era muito misteriosa. Não quis falar onde morava, nem seu nome completo. Disse que era relações públicas em uma empresa, mas caiu em contradição e travou quando fiz perguntas específicas sobre a área.
Fomos pra minha casa sem muita hesitação da parte dela e fizemos um sexo maravilhoso. Saímos mais umas quatro vezes, na real ela só ia pra minha casa transar. Na última a camisinha estourou e só percebi quando eu tinha inundado a garota de cafinhas. Falei para ela tomar pílula do dia seguinte, mas retrucou que fazia muito mal pra ela. Não dei a mínima e fui até a farmácia comprar e fazê-la com que tomasse na minha frente. Eu jurei que ela tinha tomado.
Depois daquele episódio eu peguei bode da garota e cortei contato.
Após dois meses, uma bela manhã estava em reunião na empresa e ela veio puxar papo. Respondi que não podia falar, mas ela insistiu que era urgente. Eu fiquei pálido e com olhar catatônico, todos olharam pra mim e perguntaram se eu estava bem. Pedi licença e fui falar com ela.
A garota primeiro me deu um esporro, pois disse que eu tinha a usado e deixado na mão. Típico papo de adolescente que perdeu a virgindade mês passado. Depois do papo chato ela disse que estava há dois meses com a menstruação atrasada. Eu comecei a suar frio. Perguntei se ela tinha feito o exame de gravidez e ela respondeu que não, pois tinha medo. Nessa hora eu já estava sentado na minha cadeira e o coração disparado. Pedi que ela fosse imediatamente na farmácia e fizesse um teste. Foi uma hora da minha vida em que eu envelheci dois anos.
Ela fez o teste comigo no telefone e depois de alguns minutos disse que tinha aparecido duas barrinhas, ou seja, positivo. Meu mundo desabou. Eu não tinha nenhuma admiração que não fosse carnal por ela, mal sabia quem a garota era. Eu estava pra abandonar meu emprego e viajar o mundo em dois meses, e de repente teria que rever todos os planos.
A garota disse que ia pra casa da mãe e desligou o telefone. Tentei ligar de volta e não atendia. Era uma sexta-feira e fiquei sem conseguir falar com ela até segunda, quando finalmente atendeu, revelou que havia mentido pra mim, que aquilo era uma lição por eu tê-la usado. Quando eu comecei a falar palavras bonitas, a garota desligou o telefone e nunca mais nos falamos.
O segundo caso foi ainda mais tenso. Explicarei em detalhes no livro que estou editando sobre a viagem, mas contarei o resumo.
No quarto mês de viagem, já em Israel, conheci uma belga no hostel. Ela era o tipo de mulher que eu jamais me interessaria, tinha uma tatuagem imensa na coxa, usava um shorts mega curto, estava completamente bêbada e flertava com todo mundo.
Eu estava preparando a minha janta na cozinha, quando a vi passando atrás de mim fazendo o maior estardalhaço. Apenas me lembro de olhar de relance, nossos olhos cruzaram, eu fiz uma cara de reprovação e voltei a cozinhar. Sim, eu agi como um vô. Jantei e fui pra área social.
Ela era imensa, cheia de sofás, narguilé a vontade e vista para a cidade. A maioria das pessoas ficava ali fazendo um esquenta e depois ia pra balada. Naquele dia era esse o plano, mas a belga sentou do meu lado e me perguntou em um tom bem sexy se eu tinha fogo. Foi então que eu reparei melhor e ela era bem gata, apesar daquela aura maluca. Eu tive que fazer o trocadilho de eu ter fogo e acho que na Bélgica essa piadinha babaca não é tão manjada e assim acabei beijando-a. Foi uma explosão, um beijo incrível.
Depois de uns amassos fortes, fomos para um canto ali mesmo na área social e começou uma pegação forte. Eu nunca tinha feito sexo com tantas pessoas por perto e meu amigão não tava colaborando. Foi então que ela me deu um tapa e perguntou se eu não gostava de mulher. Aquilo despertou meu amigão e fui pra cima com força total. Foi bom pra cacete, um sexo completamente inusitado, arriscado e sem muita racionalidade.
Ficamos amigos e casal. Depois de alguns dias era o momento de ir embora e ela perguntou se poderia me acompanhar nos próximos meses na minha viagem. Como nos dávamos bem dentro e fora da cama, ela acabou me acompanhando e me gerou muitas histórias. O ponto é, como erámos um casal, depois de algumas semanas transando e pelo fato dela tomar pílula, a camisinha foi abandonada.
Nossa relação acabou não dando certo e na Tailândia terminamos. Passaram algumas semanas e começou a me dar um piriri terrível. Uma coisa incontrolável que rendou também momentos inusitados. Algumas vezes gripei e um dia acordei com dor em glândula linfática. O que o gênio fez? Coloquei no Google esses sintomas e descobri que todos estavam relacionados com o HIV. Eu ainda tinha 6 meses de viagem pela frente e apesar de ter excelentes recordações, esse fantasma ficou nas minhas costas.
Ao chegar no Brasil a primeira coisa que fiz foi realizar exames. O resultado só sairia em duas semanas e vivi um calvário. Eu sabia que se desse qualquer resultado positivo, o laboratório liga para que seja refeito o exame. Todo dia eu rezava para meu celular não tocar. Faltava um dia para a data final do resultado e um número estranho ligou no celular. Envelheci mais dois anos e mais cabelos brancos. Do outro lado da linha uma mulher com voz mecânica:
– Por gentileza, o senhor Cafa?
– Que-que-quem gostaria de falar com ele? Qua-qua-qual o motivo da ligação?
– Meu nome é Rosicleide, trabalho na Claro e gostaria de informa-lo sobre os benefícios do Claro Clube.
– (tu tu tu tu)
Tal qual minha tia, eu quase mandei a garota chupar cú de passarinho. Porém, ela não tinha culpa da minha tensão.
Dia seguinte recebi um sms do laboratório que os resultados já estavam disponíveis. Para o meu alívio, eu estava limpo. O meu problema era algo simples, intolerância à lactose somada a uma vida sem rotina durante um ano.
Passaram algumas semanas e vi na televisão que o banco de sangue na baixada santista estava crítico. Como sou O+, é um sangue que ajuda um bocado e fui lá doar. Na triagem a enfermeira recusou a minha doação, pois disse que a minha conduta sexual no último ano era de risco. Mesmo tendo passado o período de janela imunológica e com o exame de sangue em mãos, fui impossibilitado de doar até que tenha a rotina sexual de casado, ou seja, não doarei tão cedo. Virei estatística, mas pelo menos em algo que não é irreversível.
Odeio dar lição de moral, mas é incrível o número de mães e pais precoces que conheci no último ano. Pior que isso são pessoas que se infectam, mas como doença não é que nem gravidez, esses casos não chegam no nosso ouvido. Não teste a probabilidade, após várias tentativas você finalmente pode ser premiado(a).