No blog antigo postei certa vez sobre a Síndrome do Bom Partido. Hoje, na Sexta das Leitoras esse perfil voltou a aparecer, e para agravar o cara é ainda é bonzinho.
“Conheci um rapaz no tinder maravilhoso, educado, inteligente, respeitoso, rapaz família, nossos assuntos fluíam perfeitamente a ponto de ficarmos batendo papo no whatsapp todos os dias e as vezes até quatro horas da manhã, claro que, em momento em que ele não estava no seu ambiente de trabalho pois tem um cargo de respeito no tribunal de justiça em um fórum do estado e sua função não permitia ficar no telefone”.
Cafa > Adoro essa expressão “cargo de respeito”, subentende-se que as pessoas em cargos abaixo possuem um cargo que não mereça respeito. Preguiça. Enfim, voltando a história..
“Ficamos saindo por um mês e todos os nossos encontros sempre foram programas de casal. Não sou nenhuma garotinha, já tenho até uma filha e já cansei de transar no primeiro encontro, mas com ele foi diferente, durante esse (pequeno) tempo que ficamos saindo, nunca fomos para a cama, nunca nem se quer passamos a mão um no outro, ficávamos apenas nos provocando pelo whatsapp com fotos”.
Cafa > Com ele foi diferente, o cara foi bonzinho e sofre da síndrome do Bom Partido. Retomo mais adiante.
“Acredito que o tempo todo quis me mostrar que estava interessado em mim, queria que eu percebesse que poderia esperar o meu momento, já chegou até mencionar isso. Queria me provar que seu interesse era pessoal e não sexual e por isso não teve pressa de tentar transar”.
Cafa > Blablabla, credo, quanto lugar comum. Eu não sei porque as pessoas ainda possuem essa associação sexo = pecado. Qual o problema do cara ter atração física/sexual em você no primeiro encontro? Não é necessário uma maratona de encontros pudicos para provar que o interesse não é apenas sexo. Aliás, se for, e dai? Você mesma não falou que já transou de primeira? Com ele é diferente porque foi bonzinho ou por causa da Síndrome? Retomo mais pra frente (2). Hehe.
“Como mencionei, tenho uma filha e ele sempre foi muito interessado em saber dela, dava até brinquedos. Se importava com minhas notas na faculdade, com tudo em minha vida. Ou seja, ele estava nitidamente interessado””,
Cafa > Ou seja, ele virou o pai adotivo de ambas e se esqueceu de ser um pouco o seu homem.
“até q eu comecei a espanta-lo. Sou uma mulher muito sincera e um pouco “ogra”, no estilo pensei e falei, acabo sendo muitas vezes grossa sem perceber. Na última vez q nos vimos tivemos um pequeno desentendimento, ele gostava de me falar sobre o trabalho dele, as vezes até de me pedir opiniao pois sua função era entender os problemas das pessoas e assim julga-las. Estava a me falar sobre isso, e então reclamou que no momento eu parecia distante, parecia não estar me importando para o que ele falava, e daí começou a também reclamar que eu nunca lembrava de nada que já havíamos conversado ou acontecido entre a gente, tipo a data que nos conhecemos, que seu pai ja havia estudado na mesma faculdade que eu, que ele era quem mais me procurava, etc, etc, etc”….
Cafa > Posso imaginar o quão de saco cheio você estava de ouvir problemas alheios. E no caso, se você não é advogada, pior ainda.
Eu tive duas ex-advogadas e dava certa preguiça quando elas começavam a contar seus processos, porém eu tentava prestar o máximo de atenção e memorizar algumas partes-chave do processo. Apesar de não dar a mínima para a história em si, eu sabia que comentar a respeito fazia com que elas se sentissem bem e por isso eu tentava ser um bom ouvinte.
Você subestimou a importância que isso tinha pra ele e achou um absurdo quando foi cobrada, mas se esqueceu de como ele se importa com você (e sua filha).
“Ficou reclamando como se eu ñ me importasse com ele, e foi ai que minha sinceridade extrema entrou em cena. Fui dizer ao cara que eu não precisaria estar com ele caso não quisesse, que estava lá pq queria”.
Cafa > Nossa, fiquei arrepiado com tamanha sinceridade e base argumentativa de um diálogo de Malhação.
“Cheguei a deslizar meu dedo no whatsapp querendo dizer que poderia estar com outra pessoa mas que estava com ele ali pq ele estava sendo importante para mim”.
Cafa > Por que você não mostrou todos os matchs que possui no Tinder? Ele ia te pedir em casamento.
“Cafa, os olhos dele ficaram vermelhos se encheram de lágrimas, não chorou, mas estava estranho. Hoje vejo que minha atitude foi ridícula, mas na hora não vi maldAde, e acredito que se um homem vier me falar que poderia estar com qualquer mulher mas que preferiu a mim, eu iria gostar pois me sentiria importante”.
Cafa > Cara, quantos anos você tem? Para de ver um pouco novela e volta pra vida real. Falar é fácil pra caralho, dizer “eu te amo”, “to com saudade”, etc. Agora ter atitude, não. E atitude não são apenas palavras, mas gestos. Você deu a mínima para o que importa para o cara e ficou ultrajada, pois “poderia estar com outra pessoa se quisesse”.
Devolvo pra você a sua mentalidade. Prefere um cara que fala que poderia estar comendo um monte de mulher, mas você é a única ou pra um cara que te escuta, se importa com sua filha e não te trata como um buraco?
“O problema foi que acabamos brigando pelo mesmo motivo outras vezes mas até o dia em que ele resolveu não querer. Nos afastamos, corri atrás dele algumas vezes, numa delas ele até me ignorou, depois dessa vez eu sumi e então se passaram 2 meses e eu fui como quem não quer nada puxar assunto, eis que ele me responde educadamente porém deixa o assunto morrer e ficamos sem nos falar por alguns dias até que do nada ele é quem puxa assunto se justificando o pq alguns dias atrás não falou mais comigo. Falou que adoeceu e estava numa correria. Achei a justificativa bem mentirosa pois cansava de vê-lo online”.
Cafa > Ué, agora você não acredita nas palavras? De repente ele estava online falando sobre trabalho ou com a mãe. ¯\_(ツ)_/¯
“Enfim, mesmo que mentirosa, por algum motivo ele quis vir atrás, motivo esse que você como homem vai me dizer agora.
Ele voltou muito estranho, só sabe falar de sexo e a me mandar fotos nua”.
Cafa > Hahaha. Esse dai não sabe mesmo brincar.
“A super sincera aqui chegou a falar para ele que não iria rolar nada por enquAnto pois além de estranhar, estava achando que ele voltou só para “terminar o trabalho” já que saiu de cena sem nem beliscar um pouquinho. Ele na mesma hora disse que não faria isso comigo, que isso não seria uma atitude correta, que se afastou pq ficou bastante magoado e que se reaproximou por motivos que ele não sabia explicar mas que me achava uma menina legal, engraçada, simpática e inteligente mas que até hoje ainda não havia parado para pensar se ainda queria dar continuidade e iniciar a relação. Até cheguei a acreditar um pouco pois lembro que na época em que saíamos ele me contava que tinha uma menina que saía antes de mim que o chamava para a casa dela e ele não queria ir pois como não tinha interesse pessoal na menina, não achava certo e não curtia fazer sexo assim, só que as atitudes dele de agora só me levam a acreditar em querer sexo”.
Cafa > Ahhh, quando lhe convém você passar a valorizar as atitudes, né? Cadê a ~super sincera~ que acredita no poder das palavras?
Olha, sobre a “menina que chamava pra casa” talvez seja uma mentira boba pra te causar boa impressão. Porém, se realmente for verdade que ele não acha certo transar com ela, estamos diante do Bom Partido bonzinho. E pelo pouco que você falou de você, não acho que esse seja o perfil de homem que curta. Talvez o sexo possa ser frustrante pra você.
“Tudo que conversamos leva para o lado sexual e ele não me procura mais como naquela época, eu que sempre tenho que puxar assunto, vai dormir e não me dá uma boa noite, acorda e não me da bom dia”.
Cafa > Ai. O cara não precisa virar um porteiro de prédio pra mostrar que gosta de você, né? Entendo que antigamente a relação era outra, mas você fez besteira e agora desceu alguns degraus na consideração do cara. Não espere o mesmo tratamento.
“Enfim, acho que ele voltou com o intuito de transar pois afirmou que ainda estava sem sexo desde a época só que ao ver que ainda tenho sentimentos ele tá voltando a se afastar para não me usar e me magoar, ou então ele está fazendo joguinho de conquista. Acredito mais na primeira opção. E você cada, o que acha? E o que eu posso fazer para conquista-lo de novo”?
Cafa > Como eu disse, esse cara me parece um dos casos de Síndrome do Bom partido com doses de lerdeza.
A Síndrome do Bom Partido acomete homens aparentemente perfeitos. O cara tem um ~emprego de respeito~, é bonito/gostoso, independente, culto, valoriza família, gosta de crianças/bichinhos, beija bem, etc etc. Ai quando a mulher está diante desse exemplar, a matemática cerebral/sexual simplista entra em ação. Com a intenção de também se mostrar a mulher perfeita, uma das primeiras atitudes que vem em mente é “Não vou dar fácil pra esse cara, pra ele não achar que sou uma vagabunda”. E ai fica na apunhetação de infinitas saídas até que role algo ou o cara encha o saco.
Quando eu me enquadrava no quesito Bom Partido, cansei de ser acometido por essa síndrome. Depois que abandonei meu ~cargo de respeito~ e levei uma vida errante, fui curado.
Nosso amigo da história tá lascado, pois além de estar rotulado nessa categoria, ainda é bonzinho. Os bonzinhos, como o nome já diz, são bons moços, acreditam que respeitar uma mulher é não ter vontade de penetrá-la. As vezes preocupam-se tanto em ser bonzinhos que esquecem de ser homens na hora que a testosterona precisa dar as caras. Por isso que eu comentei a respeito do sexo. Você está fantasiando um cara perfeito sem nunca ter ido pra cama.
O problema do cara é que quando tentou mudar a sua imagem, ele já estava carimbado e ai as iniciativas para bancar o sensual foram frustradas.
Para ele tentar se reaproximar com o intuito apenas sexual, depois do que você falou, é que realmente a sua imagem despencou com ele depois que da asneira que falou do Whatsapp e o discurso infantil do “estou-com-você-porque-quero”.
Para você mudar o jogo vai ser difícil, pois terá que reconstruir a sua imagem. E tenho lá minhas dúvidas se consegue. De qualquer forma, você precisa ter mais atitude. Por que não enviar uma cesta de reconciliação com algumas coisas que ele goste (cerveja, vinho, castanha, cd do Tim Maia, sei lá) e uma carta escrita a mão para irem tomar uma cerveja em algum lugar. Todo mundo ama presentinho depois de um dia cansativo no trabalho e carta escrita a mão mostra atitude.
Agora, se tudo isso der certo, a bola está com você para que realmente entenda que construir uma relação vai além de diálogo.
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Quer mandar a sua história para a sexta das leitoras? Não posso garantir que responderei todas, mas se for algo interessante e resumido, as chances aumentam. É só enviar para cafa@manualdocafajeste.com