A segunda vítima do Tinder era meu número: loira baixa e magra. Na verdade, pensando bem, eu até aquele momento era uma vítima do Tinder. Mas ok.
Apesar de ser meu número, o papo com ela era meio bobo no Whatsapp. Eu tentava dar uma avançada, mas empacava. Como eu não procurava a minha esposa, nivelei o assunto ao dela, era o melhor jeito para pontuar. E as conversas seguiam aquele script mongol: saudação + emoticon + Que tá fazendo + emoticon + piadinha babaca sobre o que estou fazendo + emoticon + alguma novidade da sua vida que não me interessa.
Pensei várias vezes antes de chama-la pra sair. Porém, minha agenda estava vazia. Eu só tinha a Aro 18, que eu não desbloquearia por nada nesse mundo. Desesperado num sábado a tarde e sem vontade de ir pra balada, chamei a garota pra sair.
Quando estava chegando ao bar, meu celular tocou. Tinha dado merda em uma das campanhas publicitárias que estávamos lançando naquela noite. Coisas dessa profissão maravilhosa. A garota já estava na mesa e quando me viu, ao invés de acenar com a mão, levantou e fez movimentos que pareciam um polichinelo. Aquilo já me deu um mau presságio.
Pedi desculpas e disse que eu precisava resolver um problema, mas que ela poderia pedir algo. Mas ela pediu tudo: carpaccio e queijo de ovelha com geleia de frutas silvestres de entrada, picanha no réchaud de prato principal e uma garrafa do espumante mais caro do bar. Como era um bar que ela havia indicado, ainda emendou “quero que você prove o que eles tem de melhor”, dei um sorriso e pensei comigo “E eu quero que você pague essa conta”.
Chegou o espumante e o garçom perguntou quem provaria. Eu adoro vinhos e sempre gosto de fazer a prova, mas a garota se antecipou e pediu que ele a servisse. Ela pegou a taça como se fosse um copo de leite, rodou (!?), cheirou e bebeu. Brindamos os três, ela, eu e o meu colega de trabalho do outro lado da linha. O problema foi resolvido assim que chegou a picanha.
Não posso reclamar. A comida era incrivelmente boa, mas era muita comida pra nós dois. Tive que levar metade da picanha para o café da manhã. Acabou o espumante e ela me informou que pediria um tinto que era uma delícia, claro o segundo mais caro do lugar. Fiquei bêbado.
Ai eu já não tinha filtro para assuntos, tudo estava muito bom e até comecei a considerá-la agradável. Rolou o beijo e foi ótimo. Aquele encaixe de boca perfeito.
Veio a conta, óbvio que ela não se coçou pra pagar, mas quis ver quanto tinha dado e lançou “Carinho, né?”. Quase agradeci pelo apoio moral, mas paguei e esperei que ela retribuísse de alguma forma. E rolou. Levei-a pra casa e tivemos uma noite de sexo incrível.
Todo bobo com a paixonite de cama, perguntei o que ela faria no feriado (era dali cinco dias). Ela disse que nada e eu a convidei para irmos à Paraty, onde eu iria mergulhar.
Chegou o dia e fui buscá-la em sua casa. Tinha uma senhora ao seu lado, achei que fosse uma vizinha, sei lá. Fiquei dentro do carro e buzinei para ela (a garota) vir. Ela acenou (sem polichinelo dessa vez) me chamando e passou um friozinho na minha barriga. A senhora era a mãe dela.
A mulher era simpática, mas pediu que eu tomasse conta da filha. Devo ter ficado vermelho de vergonha. Quando ela entrou no carro, perguntou-me o que eu tinha achado da sua mãe. Comentei que era simpática, mas que me sentia como o tio da perua levando crianças para o acampamento e que achava nada a ver conhecer a mãe dela no segundo encontro. Discutimos por meia hora.
No carro ela começou o que chamam de “bossing around”, ou seja, ligou o ar condicionado no talo, falou que minhas rádios são de velho (o que é verdade, mas não preciso ser lembrado) e questionou porque eu não tinha um carro automático. Pedi para ela segurar a onda, pois tínhamos ainda 3 horas de estrada e na primeira hora já estava um pesadelo pra mim. Mais discussão.
Finalmente chegamos a Paraty. O feriado era na sexta, mas fomos na quarta para fugir do trânsito e no dia seguinte, quinta-feira, fiz home-office do hotel.
Chegamos no quarto e ela saiu correndo para o banheiro. Não ouvi o barulho da descarga. Fui lá na sequência e dei de cara com o mijão dela, ao menos não era um toroço. De dentro do quarto ela gritou dizendo que a descarga estava quebrada, que eles tinham que arrumar. Claro, eu quem liguei para a recepção.
Eu estava tão cansado da viagem que acabei dormindo sem fazer nada. Só que eu tenho um problema. Quando bebo muito ou estou muito cansado, eu ronco. Não deu dez minutos de sono e ela começou a me cutucar. Na terceira acabei indo dormir no sofazinho da sala do quarto, acordei de manhã todo torto e com dores.
O meu home-office foi terrível. A cada meia hora a garota vinha me atazanar. Finalmente o dia passou, e ela ficou relativamente bêbada depois de tomar 6 margueritas. Tivemos uma noite ok e após o sexo comuniquei à surpresa que eu tinha conseguido negociar com a empresa para ela me acompanhar no barco nos dias seguintes. Foi quando ela falou que não iria nem morta, pois não sabia nadar. Isso foi brochante. A pessoa pode não andar de bicicleta, mas não nadar é algo inimaginável. Vá fazer escolinha, compra boia de braço, espaguete de plástico, o que seja. Os dias seguintes foram ótimos no mar sem ela do meu lado e a noite quando estávamos transando, o resto era um sacrifício que não valeu a pena.
Enfim, era o momento de por o pé no chão e voltar a aprender a ser solteiro. Carência pós-namoro levou-me a dar férias para o cérebro.
Aplicativos de ~paquera~ quando bem usados podem dar certo. Conheci vários casais que se conheceram no Tinder e afins. Por isso, próximo post darei algumas dicas para não cair nos erros que muitas mulheres cometem ao criar um perfil por lá.