Ela queria um casual-sério

Foram poucas as mulheres que conheci nesses anos de estrada que conseguiam adotar uma postura racional em uma não-relação. Bastava que os encontros ficassem um pouco mais frequentes (ou que a garota dormisse em casa) para que as cobranças surgissem e fosse exigido um compromisso que não existia.

A Giovana era uma dessas garotas. Ela foi uma das minhas primeiras funcionárias, entrou bem crua na empresa e ajudei-a bastante com alguns toques sobre carreira. Nossa relação era estritamente profissional até que ela foi para outra empresa e nos encontrarmos em uma festa de colegas em comum.

Apesar de não ser o meu tipo, ela tinha certo charme, sabia se vestir, escrevia muito bem e tinha assunto. Naquela festa ela contou a sua experiência na agência que estava e fiquei muito feliz em saber que crescia e ganhava respeito por lá. Enchi-me de orgulho e pela primeira vez me deu vontade de prova-la em uma relação de igual pra igual. E acabou rolando.

Festas de publicitário normalmente rola bebida até nego ficar grogue e estávamos mais ou menos naquele ponto. Depois do papo sério que tivemos, cada um foi para o seu canto dançar (mentira, eu fui beber e conversar com amigos) e algumas horas depois nos encontramos na cozinha. Ela estava bem alegrinha e começou a me agradecer por ter dado a oportunidade pra ela lá atrás e tal. Eu não resisti e enquanto ela falava, encostei o meu lábio no dela (eu não podia dar um beijão de cara sem ter certeza que ela queria também). A garota ficou muda, nos olhamos por dois segundos, me deu um suor, mas ela passou sua mão atrás da minha nuca, puxou minha cabeça e demos um puta beijo que já me deixou no ponto. Fomos pra minha casa e tivemos uma noite de sexo incrível.

E assim começou um não-relacionamento de quase um ano. Era o mundo perfeito, quando ela estava a fim, me mandava mensagem, se desse ela vinha em casa, se não marcávamos para um dia que os dois podiam. E eu fazia o mesmo. Sem stress, sem cobrança. Era uma companhia agradável não só na cama, mas também de conversa.

Imagino algumas leitoras mais românticas questionando “Ai, por que vocês não namoraram?”. Já falei em um post do blog antigo, simplesmente não rolou o “click”. Gostava da companhia dela, assim como gostava de outras com quem eu saia. Não tinha nada que batesse o sino “é ela!”. Fazendo uma analogia barata, é como comida japonesa. Adoro, mas não dá pra comer apenas japonês, pois gosto de árabe, vietnamita, tailandesa, etc. Ela não era um PF.

Após alguns meses nessa dinâmica, a Gi começou a romper as regras de uma não-relação. Certo dia encontrou um cabelo preto no sofá (ela era loira) e me questionou de quem era. Eu não gostaria de falar que possivelmente de alguma garota que eu não lembrava nem o nome, apenas disse que da Dona Du, minha faxineira na época. Ela não acreditou, eu fiz cara de bunda e ela emburrada pelo resto da noite.

No aniversário de um amigo em comum, ela estava bêbada e me puxou em um canto pra conversar. Questionou-me por que eu tinha ficado com a Gertrudes, uma ex-cliente da minha agência, já que ela era “feia e tinha mau gosto”. Dei risada, ela não. Sai andando. Foi inevitável fazer uma comparação com a primeira vez que ficamos e percebi que era o momento de começar a ver a Gi com menos frequência.

Os poucos encontros que tivemos após aquela DNR (discussão de não-relação) tiveram mais cobranças e questionamentos. Tentei explicar de forma educada que não erámos namorado, mas nessas horas as mulheres gostam de citar exemplos aleatórios: “Eu não estou cobrando namoro, mas você já teve mais consideração por mim” (isso é, já dormimos com mais frequência), “Você ficou com uma pessoa que eu odeio” (como se esse fosse um critério eliminatório para eu ficar com alguém), “Você fala com menos frequência comigo no Whatsapp” (isso era verdade, mas porque ela que começou a falar demais).

O ápice foi na terceira festa que nos encontramos e ela novamente bêbada começou a falar para todas as pessoas que nos conheciam que ela era muito grata por tudo o que eu tinha feito, que ela tinha uma consideração que transcendia o profissional, etc. Aquilo chegou nos meus ouvidos por umas 5 pessoas diferentes em forma de piada. A Gi tinha passado do ponto e era o momento de eu recolher as velas e tocar o barco em frente.

Infelizmente, o contato que tínhamos antes do beijo ficou estremecido e desde então nunca mais nos falamos. A Gi queria um casual-sério, eu perdi uma amiga.