Percepções no primeiro encontro

No post passado falei um pouco sobre percepção, quando comentei a respeito dos pedidos de amigos sobre sugestões de países para visitar. O que pra mim pode ser zuado, para alguém é super divertido, da mesma forma que eu considero um país o máximo e meu amigo que fez a mesma viagem discorde. Isso acontece em relacionamentos e talvez seja um dos principais motivos por eu receber tantos e-mails de “a-noite-foi-maravilhosa-e-ele-sumiu-to-triste”.

Lembro-me de um caso que ilustra bem isso. Eu havia conhecido a garota em um desses aplicativos de ~paquera~ e combinamos de nos encontrar na cidade dela (que ficava próxima a minha). Tinha ido poucas vezes para aquele lugar e a fama não era das melhores, mas como eu estava na seca e ela parecia agradável, aceitei o desafio.

Chegando lá, não havia um restaurante bacana, eram apenas bares copo sujo (que eu até curto, quando estou com amigos) e sambão. Como tenho a desenvoltura de uma passista alemã, optei pela primeira opção. Porém, a menina estava completamente deslocada para o local. Não sou um cara da moda, na verdade ultimamente tenho andado meio maltrapilho, mas a garota trajava um longo preto, portava um salto imenso (um pesadelo para um cara de estatura média) e um creme no cabelo que cheirava sabonete líquido do banheiro do Habibs.

Tentei quebrar um pouco o clima e falar que ela estava bonita, pronta para ir a um baile. Ela apenas agradeceu o “elogio” e seguimos conversando.

Na real conversa não existia, havia um abismo entre nós, e não era apenas altura, sarcasmo e ironia não eram os melhores amigos dela e o papo girava em torno de assuntos pueris e monótonos. Pra piorar, o dono do copo sujo contratou um violeiro que apenas tocava MPB deprê (navegando em fossas do Djavan, Legião e Lenine).

Eu virava litros de cerveja e nada daquilo melhorava, então pedi vinho (um desses baratíssimos e quase intragáveis chilenos) e ai fiquei mais animadinho. Trocamos uns beijinhos e dali fomos pro motel. Ao entrar no quarto já me bateu um arrependimento de estar ali, dei umazinha pra cumprir tabela, gozei em 5 e falei que precisava ir embora. Jurei nunca mais vê-la.

Na noite seguinte recebi um e-mail dela e fiquei mal. Bateu paixonite e ela começou a descrever um encontro que parecer ter existido apenas em sua cabeça. Primeiro ela elogiou a escolha despretensiosa do lugar, que estava tudo perfeito, o vinho, as músicas, o ambiente. O beijo? Foi mágico. O sexo? Um encaixe inexplicável. Eu lia aquilo e por vezes achava que ela havia enviado pra pessoa errada. O e-mail terminou com algo do tipo “quando duas almas se encaixam, o universo conspira a favor”.  Nunca mais nos falamos.

Depois fiquei pensando naquilo e me veio à cabeça várias situações que eu tinha passado em que rolou química, o papo fluiu e tal, mas a garota simplesmente sumiu ou não ficou tão envolvida como eu.  E ai a primeira coisa que vem na cabeça é “poxa, preciso me esforçar para na próxima fazer melhor”. O ponto é que provavelmente você fez o seu melhor, mas a percepção da outra pessoa é que você não é tudo isso e/ou há outras pessoas mais interessantes.