Pessoas interessantes e inconvenientes

Quem acompanhou o blog na primeira fase sabe das desventuras que eu passava saindo com algumas improváveis. Lembro-me de que após os posts sempre apareciam leitoras que agradeciam as risadas, mas me perguntavam quais características faziam uma mulher interessante pra mim, já que eu só relatava estrupícios.

Como eu sempre falei, é mais fácil criticar o que não parece certo a enaltecer o que é bom. Porém, dia desses, batendo um papo com o pessoal do trabalho e amigos online, me dei conta de alguns assuntos e comportamentos que tornam pessoas interessantes ou simplesmente inconvenientes.

Listei alguns:

 

Espontaneidade – Talvez uma das melhores qualidades que vejo nas pessoas que me relaciono. Hoje, todo mundo tem que ser engraçadão, inteligente, simpático, sociável, delicado e tal. Só que é impossível aglutinar tantas qualidades em uma pessoa só. Há mulheres que não são engraçadas, há homens antipáticos. Nenhum problema nisso. O problema é querer mostrar-se com uma pessoa sem defeitos algum e no final da noite parecer um robô.

Tem um cara no meu trabalho que sempre está reclamando de algo, mas é tão natural como sai a reclamação que acaba sendo divertido conversar com ele. Tem uma portuguesa que está sempre acelerada, toda estabanada a coitada, mas é o charme dela, e o que a torna única.

 

O fagocitador de assuntos – Na minha opinião, um defeito intolerável de uma pessoa “normal”. Tenho um parente próximo que o diálogo praticamente não existe, ele está sempre dominando os assuntos. Ao tentar introduzir os meus, ele se distrai fácil com coisas ao redor, não faz nenhuma pergunta e fica com aquele olhar atônito como se eu estivesse conversando com alguém hipnotizado.

A única exceção é quando ele utiliza o meu assunto para fagocitar o dele. Por exemplo, falo que meu trabalho está pesado, ele solta uma frase idiota de falsa compreensão (“ai que ruim”) e logo emenda: “Falando em trabalho, ontem meu chefe me chamou pra conversar e blablabla” (mais 10 minutos falando apenas dele).

 

Extremistas– O mundo está uma bagunça, é maluco do Trump nos EUA, o gorducho fogueteiro na Coréia do Norte, Lula e Bolsonaro como possíveis futuros presidentes no Brasil, exposição com piroca interativa, zoofilia…..é a casa da mãe Joana. Nesse cenário espera-se que as pessoas tenham opiniões fortes. Porém, assim como religião, evita-se trazer este assunto à mesa com desconhecidos, pois a chance de gerar stress é grande.

Mesmo com conhecidos, os extremistas conseguem ganhar a antipatia de qualquer um que não compartilha suas ideias quadradas e tolas. Tenho um amigo no Brasil que virou um extremista de direita a ponto de defender intervenção militar e controle migratório (como se isso algum dia fosse um problema em um país miscigenado como o nosso). Ou seja, virou um idiota (na minha opinião). Do outro lado tem uma inglesa que às vezes senta perto de mim e acredita que o socialismo seria a solução para as mazelas do mundo, mas que não abre mão de comprar sua roupa na Zara e financiar a exploração capitalista em países miseráveis como Bangladesh e Camboja.

O extremista não consegue ver nuances, é tudo branco ou preto. A conversa com essas pessoas vira aquelas mesas redonda insuportáveis de comentaristas de futebol, todo mundo é o dono da verdade e no final da discussão não se chega a lugar nenhum.

 

Detalhista – Aqui é importante diferenciar o detalhista do perfeccionista, o primeiro atenta-se às pequenas coisas, o segundo quer que elas sejam perfeitas.

A pessoa que se atenta a pequenos detalhes vai lembrar que você estava gripada semana passada e perguntar como está agora, perceberá que você cortou o cabelo, que está mais triste que o comum, que está usando um sapato bonito e por ai vai. Essa lembrança de pequenas coisas ganha muitos pontos no quesito empatia.

 

Levar-se a sério demais – Esse item está bastante relacionado com a Espontaneidade. Todo mundo tem defeitos, tropeça, derruba prato, solta pum, entra no banheiro errado, pede prato em restaurante fino e vem uma coisa intragável e por ai vai. O segredo das pessoas interessantes é saber levar seus deslizes com humor e não se levar tanto a sério. Rir de si mesmo mostra maturidade, segurança e bom humor, excelente qualidades em uma pessoa.

 

Vive no mundo online – Há pessoas que necessitam de auto-afirmação e mostrar que estão felizes e por cima, ai precisam postar cada momento no Facebook ou Instagram. Se nada acontece de novo para que ela gere um conteúdo alto-astral, vai lá e ressuscita uma foto da viagem passada com alguma frase babaca de efeito. Essas pessoas reduzem a chance de encontrar alguém bacana, pois estão sempre imersas em seus celulares em momentos de interação social como almoço, área pública (transporte, praia, parque, etc) e eventos. Isso sem contar em encontros que a pessoa deixa o celular em cima da mesa e a cada distração do parceiro, vai lá e dá uma fuçada nos últimos updates toscos do Snapschat.

 

Pouca-pilha – Esse da preguiça até de olhar. É aquela pessoa desleixada, que anda arrastando uma corrente tal qual uma assombração, falta viço pra tudo, parece que está na vida por obrigação. Você cumprimenta e recebe aquela mão-mole em troca, pergunta como está e recebe aquele fastidioso “é…vamos levando”. Qualquer assunto que puxa não dá continuidade, pois o pouca-pilha tem preguiça de iniciar uma conversação ou simplesmente não tem nada relevante pra acrescentar.

 

Sabe muito sobre um assunto – As pessoas mais interessantes que conheço possuem algum hobby ou conhecimento específico sobre algo que as torna únicas.

Não entendo um caralho de moda, quando saio pra trabalhar e minha namorada pergunta onde vou com uma camisa que parece um pijama e tênis de corrida, volto chateado para o armário e visto algo mais adequado, pois sei que ela domina essa área melhor que eu. Quando tenho dúvida sobre restaurantes, tenho um amigo que sempre tem uma opção na manga, outro entende tudo sobre história e perco bons minutos do dia absorvendo o que ele conta.

Você não precisa dominar todos os assuntos, mas tendo paixão sobre um já te torna especial.

 

Claro, os perfis que citei dizem respeito à minha opinião sobre pessoas interessantes e inconvenientes. Há casos, por exemplo, de homens pouca-pilha que ficam apaixonados por fagocitadoras de assunto, pois um não tem nada pra falar e a outra tem tudo.

O importante é saber identificar seus defeitos para arrumá-los ou utilizá-los a seu favor.