Facebook chorumento

Se eu pudesse agrupar minha timeline do Facebook no dia dos Namorados, ela teria quatro grandes divisões, O Casal mala, Os Solteiros bobos, Páginas de interesse pessoal e Outros.

Bom, as Páginas de interesse pessoal são as que atualmente mais acompanho, essencialmente são notícias, coisas sobre vinho e gastronomia. Algumas não resistiram e trouxeram receitas/vinhos pra cozinhar/beber a dois na data, uma coisa meio batida, mas até ai ok.  O problema está nos demais grupos.

O grupo “Outros” é um pout-pourri  maluco que vai desde os compartilhamentos de mensagens de anjos que minha tia posta até o aparecimento súbito na minha timeline de algum “amigo” que nem lembro onde conheci postando algum ativismo de sofá (como cachorros sendo torturados no interior da China). É uma loucura. Contabilizo um unfollow por dia nesse grupo.  Porém, o foco desse post são as duas primeiras divisões, O Casal mala e os Solteiros bobos.

Meus olhos arderam e não foi de emoção, mas pela tamanha breguice e falta de bom senso com que os casais de namorados se manifestaram no dia (que na real é uma data criada pelo comércio paulista, pois o dia de São Valentin, celebração universal do dia dos namorados, cai próximo ou no carnaval).

Eu vi de tudo e confesso que me diverti um pouco. Promessas clichê de amor para o “namorado eterno”, fotos na piscina da suíte de luxo de um motel do interior, cutucadas em ex, agradecimento a Deus por ter encontrado a pessoa (como se Deus fosse um amigo do Facebook e a pessoa estivesse perdida), incontáveis mensagens dizendo que fulano a completa (como se a pessoa nascesse incompleta), montagens que deixariam o Dollyinho no chinelo, entre outras bagaceiras.

Parece que pra relação existir é preciso postar no Facebook, subir fotos, mostrar sorrisos, selfies, do contrário tem algo errado. Dia desses minha mãe veio preocupada perguntar se meu namoro estava bem já que meu amigo deletou uma foto que tinha me tagueado com minha namorada. O Facebook virou uma perigosa extensão dos relacionamentos. Sem ele, parece que não existe;  com ele, é preciso publicar algo. E não pode ser reclamações. Isso as pessoas não gostam e não dá like.

O segundo grupo, dos Solteiros bobos, possui uma similaridade com a do anterior, a necessidade de autoafirmação. Isso se torna ainda mais acentuado conforme a idade da pessoa. Ela precisa mostrar que estar solteira é uma opção, não uma falta de sorte. Ai vejo poses “to por cima” na balada, planejamento de viagem para destinos da zoeira, frases de efeito sobre como é bom estar sozinho (a) e compartilhamento de piadas sobre dia dos Namorados. No último domingo vi um post de uma amiga da época de faculdade customizando abadá para curtir alguma festa  folia no Nordeste. Nesse momento me deu uma não-saudade dos meus 20 anos em que metia uma regata pra ouvir música ruim melando o braço no suor dos outros.

Desde ano retrasado eu tenho tentado adotar uma postura de julgar menos os outros, mas é difícil no mar de chorume chamado Facebook. Aliás, parece que é isso que todos esperam , julgar, ser julgados e ter a aprovação dos outros.

Voltando aos casais, essa exposição até transcende o dia dos Namorados. Tenho uma amiga que casou há mais de ano e toda semana posta fotos caça-like do casamento. Já outra parece uma cozinheira particular do namorado, 90% das fotos que ela publica sai com a hashtag #cozinhandopraele.

Tenho a impressão que as pessoas ao poucos perdem a capacidade de fazer uma declaração individual para o parceiro, é preciso que haja uma multidão de testemunhas para apoiar a relação. O que deveria ser privado, torna-se público e a relação que deveria ser gerenciada por dois, acaba ganhando curtidas e palpites de centenas.

Rapidinhas do Cafa – parte 5

“Saí com um cara durante nove meses, mas não nove meses consecutivos.

Depois da gente se conhecer e depois de quatro encontros no intervalo de dois meses, transamos. Por ter demorado acontecer e por falarmos (pelo whats) quase todos os dias, criamos um grande vínculo antes. Chegamos a conversar sobre sexo antes de acontecer. Foi muito natural nossa primeira vez. A gente tinha muita afinidade, a conversa fluía e o sexo era muito bom. Ele fazia sexo olhando nos meus olhos, e não por que sou daquelas mulheres que não emite reação durante o sexo daí a necessidade de olhar  para o rosto da mulher, como vc mesmo já disse aqui. Sempre expressei quando gosto de algo durante o sexo. O olhar dele era de carinho, para observar meus rosto na medida que eu sentia prazer. Quando tinha completado quatro meses que estávamos juntos ocorreu alguns percalços na minha vida e acabei voltando com meu ex que eu havia terminado dois meses antes de conhecer esse cara. O tempo passou, terminei o namoro novamente e voltei para ele. Ficamos mais cinco meses juntos, mas já bem esclarecido por ele que não haveria namoro entre nós, pelo fato de eu ter terminado com ele para voltar para o ex. Quando terminei meu relacionamento, voltei a sair com ele mesmo sabendo que não íamos namorar, mas observava que durante nossa transa tinha muito beijo na boca e olhos nos olhos. Acabamos terminando, pq eu realmente gostava muito dele e não conseguia ficar naquela situação sabendo q eu seria só sexo para ele.

Daí que vem a minha pergunta: Vcs homens, ao transarem com uma mulher, olhar nos olhos e muitos beijos durante o sexo não significam nada? Não é porque vcs gostam da mulher que está ali na hora, ou acontece isso normalmente com qualquer uma. O que olhos nos olhos e muitos beijos durante o sexo significam pra vcs? “

 Cafa > Engraçado como algumas mulheres apegam-se a um detalhe para acreditar que o cara está a fim. Já tinha ouvido falar de casos em que o cara dava bom dia todos os dias, ou outros que sempre dormiam juntos depois do sexo e por ai vai, mas transar olhando nos olhos dar indício de envolvimento é nova pra mim.

 Apesar de alguns comportamentos padrões, as pessoas tem lá suas manias no sexo e o cara transar olhando pra você pode ser que apenas seja uma forma de ele excitar-se ao te ver sentindo prazer. A prova de que ele está a fim de você não é uma atitude isolada, são várias (que vão além do sexo).

 A história está incompleta com esse “percalços da vida e tive que voltar com o ex”, mas veja só, em uma atitude sua, você cagou uma potencial relação com o cara.

“Bom,tenho 35 anos, tenho uma filha de 16 anos, sou divorciada a 13 anos, sou técnica em saúde bucal,tenho 168 mts, 56 kg, corpo em forma, morena,cabelo castanho escuro, olhos castanho escuro. E modéstia a parte faço bastante sucesso com os homens, não sou vulgar, sei me vestir bem de forma elegante, não passo despercebida nos lugares,sou simpática,sorridente, e ninguém acredita que eu tenho uma filha de 16 anos e sempre me dão menos que 30 anos,acham que minha filha é minha irmã.

Depois do divórcio conheci vários carinhas,tive vários relacionamentos e sempre quebrando a cara, todos sempre com o mesmo papinho de que você é linda,gostosa, simpática, inteligente, independente, boa de cama, sem exceção mesmo,TODOS falam o mesmo blá blá blá… mas nunca flui nada mas sério. Já estou cansada de ouvir os mesmos papinhos e se eu sou tão boa porque não dá certo???  Porque os caras falam isso pra gente se não pretendem ficar pra algo mais sério???  Mulher bonita, inteligente,boa de sexo assusta é isso??? ”

Cafa > Mulher bonita, inteligente, boa de sexo e bem sucedida afasta cara tosco. Porém, uma mulher divorciada com uma filha de 16 anos espanta muito homem “normal”. Não que eu seja muito normal, mas sempre evitei mulheres com filhos. As responsabilidades que ela possui são bem grandes e simplesmente não encaixam com os meus objetivos de vida. Talvez, o dia que eu tiver filhos, ou casar, separar e tal, essa barreira desapareça.

“Eu não gosto de ficar,gosto de namorar,mais está tão difícil namorar sério hoje em dia, os homens querem sexo fácil, não querem nem ter o trabalho de conquistar.

Tenho um amigo q diz que se uma não quer tem um monte querendo,onde vamos chegar com isso? Relacionamentos sérios, compromissos não vão mais existir? Com os homens e muitas mulheres também com esse pensamento de sexo e aventura e só, depois que conquistam e transam parte para a próxima fica muito difícil namorar.
Cafa como conquistar um homem de verdade a ponto dele querer compromisso??”

Cafa > Falei uma vez aqui sobre isso, esse tipo de pergunta é tão absurda como alguém que fala querer ser rico.

“Poxa, sou graduado, tenho pós, trabalho duro, mas não consigo ficar rico”. Ser rico não pode ser um objetivo, assim como ter um relacionamento sério. Não são coisas tangíveis e normalmente elas acontecem gradualmente, com pequenos objetivos sendo alcançados.

Antes de querer um relacionamento sério, não seria o caso de analisar que tipo de homem você procura? Ou ir mais além, será que o que você está oferecendo não atrai somente o tipo de homem que curiosamente rejeita? Já vi um monte de mulher que se comporta como biscate querendo encontrar um cara decente, por exemplo. Como diz o meu padrinho, gorila não anda com mico.

“Tenho 24 anos e estou ficando (6 meses) com um menino de 18, isso mesmo um menino de 18. Estou solteira há dois anos e quero muito namorar, mas sei que nessa fase em q ele se encontra seria quase q impossível isso acontecer. Ele é baladeiro, fds sempre está com os amigos, gosto dele, mas não sei se levo isso à frente ou não. Tenho um contato muito bom com a família dele e isso também pega. A última foi que a mae dele me ligou perguntando se ele estava comigo numa sexta à noite, respondi que não. E ela me contou q ele chegou em casa com chupão no pescoço e arranhões nas costas! To mal, To bolada com isso e não sei que atitude tomar, não estamos namorando e sei q não devo cobrar nada dele, mas se fosse comigo?! Acho q ele não iria gostar nada. Não tenho mais idade pra aturar certas coisas, sou formada, tenho minha profissão (não tão bem sucedida ainda) Rsrs, mas sei o que quero pra mim e definitivamente não é isso que eu quero”.

Cafa > Credo. Essa história parece um jogo dos sete erros.

Depois dos 25 anos (para mulheres e homens), uma diferença grande de idade não faz muita diferença. Porém, antes disso a coisa complica. Homem com 18 anos é um adolescente de carro que pode votar, nada além disso. O cara está numa fase de curtição e a mãe desse pelo visto não joga a favor. Na verdade considera o filho ainda uma criança a ser vigiada. É o tipo de sogra que se intrometerá futuramente no namoro do filho.

Se você não tem mais idade para aturar certas coisas, por que se submete a essa humilhação desnecessária? Cai fora.

“Conheci uma pessoa, ex colega de escola e ele quis me encontrar. Trocamos bjs , carinhos e ele fez algumas promessas que óbvio não vai cumprir. O que me deixou na dúvida foi que ele falou que não queria nada sério e depois colocou a música da Ludmila ( melhor assim) . Não entendi nada kkkkk acho que sou meio lenta . Vc poderia me dizer o que ter dizer com isso?”

Cafa > Confesso que eu tive que googar “Ludmilla – Melhor assim” pra saber a que você se referia. E confesso (2) que minha cara pinicou de vergonha ao ver o clip. O que é esse Justin Biba brasileiro dando uns amassos com um projeto ruim de Preta Gil? É tudo tão ruim que parece um clip da zoeira.

E a letra? Eu travei aqui “Já pequeno namorava 5 minas na escola e você pegou meu coração e levou na sacola”.

 Desculpa, eu estou muito velho pra dar conselho nesse nível de sofisticação.

“Queria sugerir que você fizesse um post á respeito de brochadas.

Você já contou rapidinho no post que diz que o problema era você e tal mas ficaria imensamente grata se você se aprofundasse mais no assunto, pois nós mulheres sempre pensamos que o problema está em nós”.

Cafa > Brochada raramente é culpa da mulher, mas pode rolar.

O principal culpado está na cabeça (de cima) do homem. O cara pode estar nervoso sobre sua performance, sobre o lugar que estão transando, com pressão pessoal (por conta de trabalho, família, etc). Enfim, o cérebro está pensando muito, quando deveria estar praticamente desligado e deixar a energia concentrada no corpo.

Quando a culpa é da mulher, os principais motivos são odores marinhos na periquita, clitóris pênis ou (muito) grandes lábios. O cara perde a vontade de transar.

“1º Pq vcs homens tem mais dificuldade para se apaixonar? Digo, vcs são mais receosos e acabam se apaixonando tempos depois da mulher, quais são os pensamentos que vcs têm que geram essa cautela?

2º Percebi no decorrer dos anos que vcs lidam muito melhor com a rejeição do que as mulheres. Exemplo: se uma mulher dá um fora em vcs, ou simplesmente para de responder as msgs e/ou não querem mais dar continuidade na ficada, vcs parecem que reagem mais de boa, de uma maneira mais calma e um tanto quanto: foda-se que vc não quer mais”.

Cafa > A mulher, pela sua natureza, é mais emotiva que o homem e as latinas são ainda muito mais passionais que qualquer outra mulher do mundo. Essa intensidade em amar as vezes não é muito seletiva / constante, só ver as histórias que recebo por aqui. A garota beija um cara na balada e já apaixona. Isso gera um sentimento de desconfiança por parte dos homens. O cara pensa “ok, hoje ela diz que adorou a noite e amanhã já está com outro”. Rola uma certa imunização que faz com que o cara espere algum tempo pra ver se a garota está realmente a fim dele ou se não é mais uma paixonite passageira.

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Quer mandar a sua história para o Dia das leitoras? Não posso garantir que responderei todas, mas se for algo interessante e resumido, as chances aumentam. É só enviar para cafa@manualdocafajeste.com

 

Insustentável leveza

Desde pequeno sempre fui um cara racional, metódico e chato. Tais qualidades me trouxeram algumas coisas boas e um bocado de ruins. Entre as boas, meus brinquedos duravam uma eternidade e possuo até hoje bonecos do Comandos em Ação intactos, por outro lado, nenhum amiguinho queria brincar comigo, pois eu sempre colocava regras sobre como eles deveriam brincar. Conclusão, possuo dezenas de bonecos no maleiro e nenhum amigo de infância.

Isso me perseguiu ao longo da minha adolescência e parte da vida adulta. Resultado da minha neurose com organização e controle, acabei virando diretor de operações, mas no meio do caminho percebi que algo estava errado, pois os resultados positivos com essas qualidades essencialmente aplicavam-se as coisas e não pessoas. Eu acumulava conquistas materiais e minava quase todas imateriais. Passei a me dar conta disso depois de algumas sessões de terapia, mas tem coisas que são tão profundas da personalidade que por mais que você saiba que está errado e tenta evitar, elas voltam, ai fico metódico, afugento pessoas e depois percebo fiz merda de novo.

Isso tem ocorrido recentemente. Vocês que acompanham o blog há algum tempo já perceberam que a minha vida está caótica e meio sem controle. O meu lado metódico e controlador sofre diariamente travando uma batalha com o outro lado que prefere viver com mais leveza e imprevisão. Isso acentuou-se ano passado, lá no Brasil, quando tomei a decisão de vir para Austrália.

Um mês antes de viajar, conheci uma brazuca em São Paulo, que naquela época, pra mim, seria apenas um passatempo até chegar a partida. Só que desde o primeiro encontro a coisa pegou fogo, não apenas pela química, que mostrou-se incrível já no primeiro beijo, mas nos assuntos, valores, forma de ver a vida e tal. Enfim, rolou o “click” e da mesma rapidez com que nos conhecemos e criamos intimidade, nos despedimos com promessas de um reencontro do outro lado do mundo, que eu achava que jamais ocorreria.

Com toda experiência que eu acumulei em relacionamento a distância, pra mim seria questão de semanas ou meses até que esfriasse o nosso contato e eu seguisse minha vida. Porém, conversávamos quase todo dia e o carinho só aumentava. Um dia ela comentou que tinha tomado a decisão de vir morar aqui e isso me preocupou um pouco. Eu não gostaria de ter responsabilidade por uma decisão tão séria na vida dela sendo que não erámos namorados e com uma convivência de apenas um mês. Porém, ela me garantiu que não estava vindo por minha causa, na verdade ela já tinha morado um tempo aqui e gostaria de retornar pra fazer outro curso.

Ao longo do período em que estávamos longe eu pensava quase que diariamente se essa relação teria futuro. Isso porque eu não sei onde estarei daqui a um ano, o que farei, como, em que condições, etc. E não queria ter nenhuma amarra que me impeça de eventualmente mudar o rumo. Mais uma vez meu lado metódico queria falar mais alto e mais uma vez eu me via em conflito.

Pensando sobre o que fazer, lembrei-me do livro “ A Insustentável Leveza do Ser”, um clássico sobre relacionamento e crises existenciais. De forma bem resumida e simplificada, o personagem principal vive o dilema entre levar uma vida leve, sem raiz e a decisão de ancorá-la por meio de um relacionamento. Apesar de ser um livro antigo, ele consegue captar a essência do pensamento masculino (recomendo no lugar de baboseiras como 50 Tons de cinza).

Eu estava na mesma dúvida do personagem, e decidi parar de pensar só no futuro e viver mais o presente. Comecei a namorar. Continuo com a indefinição do meu futuro, mas tenho a certeza que hoje uma pessoa especial está do meu lado.

Dia das leitoras – Será que ele esqueceu a ex?

(como está difícil escrever a Sexta das Leitoras, mudarei para “Dia das leitoras”, assim posso publicar qualquer dia)

No início de um relacionamento,  o histórico com a ex é um tabu. Não importa quão resolvida seja a garota, surgiu menção à ex, a cara fecha.

Obviamente que ninguém gosta de ser comparado com o outro ou que o antigo affair do cara venha a tona toda hora. Porém, dependendo de quanto tempo durou a relação, a pessoa fez parte do passado e vivências do cara, é normal que vez ou outra ela seja citada.

Na história dessa semana, temos um caso desses. Porém, há indícios de insegurança da garota e de sentimento represado do cara pela ex. Caso difícil, mas vamos lá.

“Em dezembro passado, conheci um cara no Tinder. Conversamos por uma semana inteira e era gostoso como o papo fluía. Tínhamos (e temos) muitas coisas em comum. Falo que ele é minha versão masculina. Enfim, combinados de sair numa sexta à noite. Como previsto, a saída foi ótima, ele – depois de algumas decepções por lá – realmente foi um achado”.

Cafa > Esse é o “problema” do Tinder, a pessoa que você curtiu a embalagem, não vem com nenhuma indicação da qualidade do produto. É o mesmo que você ir ao mercado no exterior comprar cerveja. Se você não conhece ninguém para recomendar, vai quebrar a cara tomando muita água de mijo até encontrar algo que preste.

Costumo dizer que o Tinder está virando uma Serra Pelada, é muito garimpeiro para pouca pepita. Cada vez o buraco vai aumentando e há coisas por lá que até o capeta assusta. Ouvi dizer que o Happn está melhor, fica a dica.

Enfim, você teve sorte, mas não tem nenhum(a) amigo(a) para lhe trazer informações sobre essa relação com a ex.

No fim da noite ficamos, rolou aquele encaixe, mas faltou aquele “click”. No dia seguinte saímos novamente, apesar de não estar muito empolgada. Achava ele um fofo e resolvi deixar rolar…

 Cafa > Acredito que o “click” rola no máximo até o quinto encontro, depois disso é apenas uma acomodação, pois a pessoa é bacana, tem a ver contigo e rola afinidade, mas aquele misterioso toque que torna uma pessoa única, não acredito que surja depois de meses/anos. De qualquer forma, isso não invalida de você curtir o cara enquanto for bom.

Saíamos praticamente todos os finais de semana, e sempre achei que ele estivesse muito “A+” do que eu. Depois de duas semanas, ele me questionou se eu “achava que era cedo demais”. Falei que sim, que estava curtindo do jeito que estava. Na real, naquele momento, não estava procurando nada sério…

Ele começou a ficar mais distante, não sei se pela minha resposta, mas enfim…comecei a sentir esse gelo e a querer que ele voltasse a ser como antes…Tudo isso foi potencializado com o fato de meus amigos terem gostado bastante dele, numa das nossas saídas em que eles foram apresentados…

Continuamos a ficar, eu já um pouco mais afim, e num determinado dia perguntei pra ele sobre a ex. (Eles namoraram durante 4 anos e o relacionamento acabou quando ela resolveu morar na Suécia em abril do ano passado. Ou seja, não foi por falta de amor). Nesse dia, perguntei se eles ainda se falavam, se eles tinham combinado alguma coisa quando ela voltasse, e se ele voltaria com ela. Ele me disse que eles ainda se falavam, sim, porque às vezes ela se sente muito sozinha (quando conheci ele, ela já namorava um cara que conheceu lá), que a ligação que eles tinham era muito forte e que não sabia se eles voltariam. A passagem de volta dela está marcada para junho, mas ele havia dito que achava muito improvável que ela voltasse.

Cafa > Eu tenho minhas dúvidas sobre congelamento de relação do tipo “Vou ali morar um ano fora, dar uma namorada pra passar o tempo e depois voltamos à programação normal quando voltar”. Isso é uma racionalização de sentimento meio absurda e desconfio que funcione. E que diabos é isso de ela se sentir muito sozinha por lá se está namorando um sueco? Não faz sentido.

Agora, o cara não saber se eles retomarão a relação é um problema.  Por mais que na sequência ele fale que seja improvável, há a possibilidade. E se ele não quer, não voltam. Resumindo, ele tem vontade de voltar sim.

Eu, como boa ansiosa e autosabotadora que sou, falei que não via sentido da gente continuar se ele ainda tinha essa dúvida e “terminei” com ele.

Cafa > Não acho que isso é autosabotar, é analisar um discurso e ver que o cara não sabe o que quer da vida (ou melhor, sabe e talvez você não esteja no plano).  

Ele ficou sentido com essa minha invasão e sumiu por dois dias. Voltou me chamando para conversar e disse que tinha pensado, que entendia meu lado, e que tinha decidido que se ela voltasse ele não iria voltar com ela.

Cafa > Ah vá..que ele tivesse pensado antes de você ter tomado uma atitude e o colocado na parede. É fácil agora falar qualquer coisa que te agrade para voltar contigo. E outra, você não fez nenhuma invasão aqui, apenas foi coerente.

Voltamos a ficar. A cada dia que passava nosso entrosamento e meu sentimento por ele aumentava, e eu não via a hora de ele me pedir em namoro. Esse dia chegou no dia 04 de março J.

Mas meu problema é: me sinto muito insegura com a ex dele! Odeio a história que eles viveram juntos, odeio o fato de ele ter me dito que a ligação deles era muito forte. Me assusta muito a possibilidade de ela voltar, ele ficar balançado e me dar um pé. Ele demonstra gostar muito de mim, mas o meu medo maior é essa afinidade que eles tinham…Porque eles não terminaram por falta de amor. Ela resolveu viajar e “abandonou” ele aqui. E, na minha cabeça, homem nesse tipo de situação demora muito tempo pra se desvincular. Se é que um dia isso acontece, né…

Cafa > Você está certa de sentir insegurança, principalmente depois de ele ter deixado escapar que há a chance de voltarem. Só que um ano é tempo considerável, ainda mais se eles não se encontraram nesse período, e pior, ambos começaram a namorar.

Digo por experiência própria, tive uma ex que gostei muito. Brigamos, terminamos e voltamos até que um dia ela me disse que faria um curso no exterior. Tentamos fingir que daria certo, mas depois de alguns meses eu sabia que a cabeça dos dois começaria a coçar e assim terminamos novamente. Cada um curtiu sua vida, mas com a promessa que iríamos nos rever quando ela retornasse. Isso de fato ocorreu, mas quando você mora fora por um tempo, volta outra pessoa. E apesar da química ser a mesma, simplesmente não tínhamos mais nada a ver. Ainda rolava um carinho grande pelo outro, mas não para continuar namorando.

Outra coisa que me incomoda também é o fato de ele não ter apagado as fotos dela do facebook/instagram. Não quero me apegar ao passado, de uma época que ele nem me conhecia ainda, mas acho que esse tipo de coisa só demonstra o quanto ele ainda está ligado ao passado…Já pedi pra ele apagar e ele falou que faria… me ajude! hahaha

Cafa > Aff. Não sei o que é pior, ele manter foto da ex ou você pedir para apagar.

Já conheci bastante garota que deixa fotos no FB/Instagram de ex. Tipo, uma foto com a galera junta, normal, mas foto de beijinho na beira da praia é de morrer (pior quando não me mete uma edição podre pra inserir um coração em volta).

Pra mim não tem desculpa. É o mesmo que você entrar na casa de um cara e ver no criado-mudo um retrato com a ex. Bizarro, não? Por que no mundo online seria diferente? Se a foto é legal, vai pro baú (no caso, para um arquivo morto no computador).

 Acontece que, para algumas mulheres mudar status de relacionamento e deletar foto das redes sociais é o símbolo definitivo do fim, e pelo visto ele não quer dar esse recado à ex. Isso só me leva a crer que a mensagem que ele quer dar é que ainda gosta dela.

Porém, se o cara está contigo e foi atrás, é porque há algum sentimento (ainda que diferente do que possui pela ex). E para isso aumentar, não é tentando apagar o passado com a ex, mas construindo um presente melhor entre vocês. Ou seja, viva essa relação com confiança no que você é, pois quando a ex voltar você terá o seu lugar.

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A Minha Praça É Nossa

Carlos Alberto de Nobrega faz 80 anos nesse ano, mas a Praça é Nossa, na verdade é Minha aqui na Australia. Sou um Carlos Alberto da vida real.

O meu banco é uma mesa de segunda mão estrategicamente localizada no centro do apartamento o qual divido com quatro personagens. Além deles, há participações especiais que são as amigas da garota que estou ficando aqui.

Não importa o dia da semana, nem o horário, há sempre uma forma de ter a minha individualidade estuprada até nos momentos mais íntimos. Semana passada a coisa foi intensa e explica, em partes, porque estou há tanto tempo sem postar.

Era um domingo e estava exausto do trabalho ao longo da semana, tudo o que eu queria era comprar um bom vinho e cozinhar algo diferente, no caso uma farofa de banana com purê de beterraba e frango grelhado ao molho de mostarda (que ficou foda). Começou que ao procurar minhas taças, só havia uma, as outras foram quebradas, restando apenas algumas vagabundas com motivos natalinos. Tudo bem, era um detalhe e ignorei aquilo.

Os personagens estavam na sala ouvindo música eletrônica chata e bebendo, por isso me tranquei na cozinha, coloquei um jazz e mandei ver no preparo.

Assim que comecei a servir, parece que eles vieram pelo cheiro e três juntos, semi-bêbados começaram a elogiar o prato, questionar o que eu tinha cozinhado apontando para a comida e puxando assunto (com o claro intuito que eu oferecesse o que mal servia pra mim e pra garota). O prato esfriava, enquanto tentávamos manter a educação e interagir com os personagens.

Após terminar a refeição, percebemos que minha casa não seria o lugar ideal para terminarmos a noite, por isso seguimos para a casa da garota a fim de ter uma noite tranquila (na verdade de dar uma trepada sem ter o risco de alguém atazanar). Chegamos no lugar e a casa parecia um mix de templo budista, velório e casa de pai-de-santo. As personagens especiais que moram na casa da garota ouviam sons da natureza, traziam adornos budistas e velavam homens que estavam mortos no sentimento (deles).  O cheiro de incenso era de matar e a qualquer momento eu imaginava alguém batendo tambor com o ere no corpo. Ali definitivamente não seria o lugar para transarmos e acabamos indo dormir.

Dia seguinte eu tinha que entregar um exercício do curso que estou fazendo e pra isso precisava de máxima concentração em casa. Fui cedo pra preparar meu café da manhã e focar na tarefa. Entrei em casa e um dos personagens já estava acordado preparando café da manhã. Esse cara é um caso a parte, formado em Fisioterapia e chato de nascença, ele adora fisiculturismo e passa os momentos ociosos em casa assistindo vídeo sobre musculação, dieta, homem puxando peso e tal. Não satisfeito, ele precisa compartilhar (ao vivo) tudo o que assiste de curioso . Nessa manhã tomei uma saraivada visual de músculos, shakes e treinos. Ele partiu para o trabalho e assim consegui voltar para o exercício, mas com o cérebro contaminado por músculos e dietas.

Quando estava na metade, apareceu o cara que divide quarto comigo. Ele é gente boa, mas acabou de chegar no país e mal sabe por onde começar. Pediu minha ajuda para arrumar/fazer o currículo dele e na sequência começou a conversar com a mãe.  Tentei voltar ao trabalho, mas não tinha como me concentrar, mesmo de fone eu ainda o ouvia conversando com a mãe, as vezes alternando a voz com jeito de bebe e contando fofocas (e como eu gosto de fofoca involuntariamente meu cérebro preferia esse assunto a pensar em cálculos).

Consegui adiantar o que pude e o dia voltou ao normal. À noite, aproveitando que o meu roomate estava em aula, convidei a garota pra ir em casa tomar um vinho (na real era uma desculpa pra ir pro quarto e tirar o atraso). Aqui vale uma pausa, naquele dia o gerente do apartamento fez algumas mudanças na casa, colocou alguns armários, tirou outros e fez uma pequena bagunça nos quartos. Eu ignorei o fato, mas não o chato da casa.

Quando estava quase finalizando o ato com a garota, ouvi alguém reclamando na sala, o chato. Tentei ignorar, mas de repente ele começou a bater na porta do meu quarto. Tentei mais uma vez ignorar, mas não tinha jeito, o barulho aumentava e com medo dele abrir a porta, perguntei o que ele queria. Ele perguntou se eu sabia quem tinha feito a bagunça na casa, dei uma leve brochada pedindo gentilmente que ele ligasse para o gerente e não me enchesse o saco. Consegui recuperar a concentração e finalizei.

Não me levem a mal, não sou um chato individualista e apesar das críticas eles são pessoas do bem e ajudam a quebrar os momentos depressivos por estar longe da família e amigos. Só que há momentos que eu apenas gostaria de ficar sentado no banco da praça lendo o meu jornal, sem que a velha surda, batoré e patropi sentem do meu lado.

Certa vez li uma dessas correntes babacas com um suposto texto do Chaplin (mas que é do Sean Morey) que a vida deveria começar de trás pra frente. Aqui traduzido:

“A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria     Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo”

Parece genial, mas estou vivendo parte desse retorno. Morava sozinho, tinha um carro e planejava casar um dia, como a maioria dos homens na casa dos 30. Agora divido apartamento,  ando de transporte público e não tenho plano algum de casar, como a maioria dos homens na casa dos 20. É, o texto de Morey não é tão genial assim.

(Enfim, vou tentar postar com mais frequência, tenham paciência com o Carlos no seu banquinho J ).