Facebook chorumento

Se eu pudesse agrupar minha timeline do Facebook no dia dos Namorados, ela teria quatro grandes divisões, O Casal mala, Os Solteiros bobos, Páginas de interesse pessoal e Outros.

Bom, as Páginas de interesse pessoal são as que atualmente mais acompanho, essencialmente são notícias, coisas sobre vinho e gastronomia. Algumas não resistiram e trouxeram receitas/vinhos pra cozinhar/beber a dois na data, uma coisa meio batida, mas até ai ok.  O problema está nos demais grupos.

O grupo “Outros” é um pout-pourri  maluco que vai desde os compartilhamentos de mensagens de anjos que minha tia posta até o aparecimento súbito na minha timeline de algum “amigo” que nem lembro onde conheci postando algum ativismo de sofá (como cachorros sendo torturados no interior da China). É uma loucura. Contabilizo um unfollow por dia nesse grupo.  Porém, o foco desse post são as duas primeiras divisões, O Casal mala e os Solteiros bobos.

Meus olhos arderam e não foi de emoção, mas pela tamanha breguice e falta de bom senso com que os casais de namorados se manifestaram no dia (que na real é uma data criada pelo comércio paulista, pois o dia de São Valentin, celebração universal do dia dos namorados, cai próximo ou no carnaval).

Eu vi de tudo e confesso que me diverti um pouco. Promessas clichê de amor para o “namorado eterno”, fotos na piscina da suíte de luxo de um motel do interior, cutucadas em ex, agradecimento a Deus por ter encontrado a pessoa (como se Deus fosse um amigo do Facebook e a pessoa estivesse perdida), incontáveis mensagens dizendo que fulano a completa (como se a pessoa nascesse incompleta), montagens que deixariam o Dollyinho no chinelo, entre outras bagaceiras.

Parece que pra relação existir é preciso postar no Facebook, subir fotos, mostrar sorrisos, selfies, do contrário tem algo errado. Dia desses minha mãe veio preocupada perguntar se meu namoro estava bem já que meu amigo deletou uma foto que tinha me tagueado com minha namorada. O Facebook virou uma perigosa extensão dos relacionamentos. Sem ele, parece que não existe;  com ele, é preciso publicar algo. E não pode ser reclamações. Isso as pessoas não gostam e não dá like.

O segundo grupo, dos Solteiros bobos, possui uma similaridade com a do anterior, a necessidade de autoafirmação. Isso se torna ainda mais acentuado conforme a idade da pessoa. Ela precisa mostrar que estar solteira é uma opção, não uma falta de sorte. Ai vejo poses “to por cima” na balada, planejamento de viagem para destinos da zoeira, frases de efeito sobre como é bom estar sozinho (a) e compartilhamento de piadas sobre dia dos Namorados. No último domingo vi um post de uma amiga da época de faculdade customizando abadá para curtir alguma festa  folia no Nordeste. Nesse momento me deu uma não-saudade dos meus 20 anos em que metia uma regata pra ouvir música ruim melando o braço no suor dos outros.

Desde ano retrasado eu tenho tentado adotar uma postura de julgar menos os outros, mas é difícil no mar de chorume chamado Facebook. Aliás, parece que é isso que todos esperam , julgar, ser julgados e ter a aprovação dos outros.

Voltando aos casais, essa exposição até transcende o dia dos Namorados. Tenho uma amiga que casou há mais de ano e toda semana posta fotos caça-like do casamento. Já outra parece uma cozinheira particular do namorado, 90% das fotos que ela publica sai com a hashtag #cozinhandopraele.

Tenho a impressão que as pessoas ao poucos perdem a capacidade de fazer uma declaração individual para o parceiro, é preciso que haja uma multidão de testemunhas para apoiar a relação. O que deveria ser privado, torna-se público e a relação que deveria ser gerenciada por dois, acaba ganhando curtidas e palpites de centenas.