A Feminista Modinha

Na primeira versão desse blog  eu tinha dois tipos de “inimigas”. As leitoras paraquedistas e as feministas modinha. As primeiras eu até me divertia, pois eram aquelas pessoas que chegavam perdidas pela busca do Google faziam um comentário ofensivo e inútil (muitas vezes engraçado) e nunca mais voltavam. Já as feministas era uma relação de amor e ódio, elas amavam me odiar. Todos os posts que eu escrevia eram uma saraiva de mimimis, até mesmo quando eu dava dicas de perfume (eu era “fútil”). Porém, elas sempre voltavam para acompanhar os últimos posts.

Hoje, elas estão adormecidas ou talvez eu não esteja tão polêmico a ponto de levantar o ânimo delas, mas hoje resolvi falar um pouco.

E não, não sou contra feminismo. Acho a essência do movimento bastante válida, inclusive as mulheres da minha família são exemplos de um feminismo inteligente, que é buscar o tratamento igualitário entre os sexos, mas reconhecendo que em muitos aspectos eles são diferentes. E isso não quer dizer que um seja inferior ao outro, apenas diferentes.

Pensei em escrever esse post no ano passado, mas sempre me faltou um gancho, até que ele chegou semana passada, quando um amigo (que respeito bastante a opinião) curtiu esse post que eu publico na íntegra abaixo e faço os meus devidos comentários. Óbvio que a escritora não traduz todas as linhas do feminismo, muito menos faz uma defesa aprofundada sobre a causa. Porém, o discurso dela possui elementos que encontro na maioria das feministas modinha.

“Circle lenses, já ouviu falar? É uma lente de contato que faz a sua íris parecer maior, dando a impressão de olhos grandes e mais atraentes. Uma amiga ia sair com um cara do Tinder e resolveu usar um par pra deixar o olhar mais instigante. Me mandou foto dos olhos dela, com e sem a lente, pra eu ver a diferença”.

Daí eu pensei, bicho, as minas vão longe demais pelos caras. E às vezes nem é por um cara que é o amor da vida dela, é só uma trepada casual. Essa amiga, além de embelezar a íris, tinha se munido de todo um arsenal de maquiagem importada, uma boa lingerie, unhas recentemente pintadas, um vestido novo e ia ficar montada a noite toda em cima de saltos de nove centímetros, onde ela equilibraria um metro e sessenta e nove de corpo totalmente depilado à pinça e cera quente”.

Cafa > Aqui aparece a primeira falha no argumento das feministas modinha. A mulher não pode agir diferente do homem, ela precisa ser uma réplica (tosca) masculina para alcançar a igualdade. Concordo que a garota acima exagera na questão da lente. Porém, qual o problema em usar maquiagem ~importada~ ou uma boa lingerie se ela tem condição para isso? Já conversei com muitas mulheres sobre essa questão de se arrumar e muitas delas fazem isso por elas, porque as fazem sentir mais bonitas, confiantes e desejáveis.

Mulheres bem resolvidas e com a sua estima calibrada sabem que não há problema algum em dormir toda produzida com o cara e acordar descabelada dia seguinte. 

Diante dessa perspectiva de todo um estica-e-puxa pra ficar bonita pro coito, eu fiquei curiosa a respeito do que os caras faziam quando iam encontrar mulheres em quem eles tinham interesse sexual (ou quando já sabiam que a jiripoca iria piar na noite vindoura), porque do lado de cá do gênero, uma bimbadinha casual parecia uma epopeia. Perguntei pra uns 15 amigos meus a respeito. A resposta deles foi bastante consistente e o ritual de todos era quase idêntico:

tomar um banho

fazer a barba (não vale para os barbudos, que por sua vez davam aquela ajeitadinha)

passar desodorante e perfume

usar uma cueca em bom estado

Os mais dedicados acrescentavam uma aparada na região pubiana, corte das unhas e arrumavam o cabelo. Um disse que tirava a monocelha.

Cafa > Talvez a sua pesquisa ficou restrita ao círculo social ao qual você faz parte. Por estar do lado de cá do gênero, posso lhe assegurar que há homens que se depilam inteiro,  vão pra academia antes do encontro para parecem maiores, fazem todo um ritual para arrumar o cabelo, escolhem o sapato mais alto, a roupa que esconde a barriga e por ai vai.  Há excesso nisso? Sem dúvida, assim como a lente da sua amiga.

Porém, tirando a bizarrice da lente, qual o grande exagero da sua amiga? Homens escolhem sua melhor cueca, mulher a sua lingerie. Elas pintam as unhas, eles fazem / aparam a barba. Restam então os dois reais inimigos das feministas modinha, as maquiagens e a depilação.

Para essas defensoras, as mulheres devem colocar o mínimo (ou nenhuma) maquiagem e deixar os pelos tomarem conta do corpo. Falarei mais sobre isso.

Pois bem. Há algum tempo atrás, eu decidi que esse seria todo o esforço que eu faria pra transar com um cara: o mesmo esforço que um cara comum faz pra transar com uma mulher. Pouca ou nenhuma maquiagem (desapeguei do delinador babadeiro), sem salto, sem depilar o corpo, sem pintar as unhas. Olha, você até pode adorar fazer a Lupita Nyong’o no Oscar de 2014 pra todos os caras com quem você sai, não tem problema nenhum. A questão aqui é: você não é obrigada. Isso nem devia ser esperado de você. Porque o que é esperado dos homens é seu estado natural, mas uma mulher em seu estado natural é considerada uma imitação ruim de homem. Feminilidade é sinônimo de artifício.

Cafa > E no seu raciocínio feminilidade é sinônimo de masculinidade. Credo. O homem em seu estado natural tem um piroca pendurada, a mulher uma cavidade. Ou seja, sem nenhuma produção já são seres humanos diferentes fisicamente. E NOVAMENTE, isso não significa que por eu ter um talo sou melhor que quem porta uma cavidade.

Gata, a sua mãe, a minha mãe, as nossas tias, até a Claudia Ohana tinham uma juba na periquita anos depois que sutiãs queimaram em Paris, que a pílula foi criada e permitiu um sexo sem compromisso, entre outras conquistas femininas. A mulher depilar hoje em dia não tem relação alguma com machismo/feminismo, da mesma forma que homem usar coque. É apenas um modismo da época. Se é saudável ou não, é outra discussão (especialmente homem usando coque. Hehe).

E você está completamente enganada (ou tendenciosa) ao falar que esperasse os homens em seu estado natural. A maioria das mulheres odeia pelos e homens com tufos nas costas, pelo saindo pra fora do nariz / da orelha e uma mata na região pubiana são motivos de piada. Que mulher hoje em dia acharia o Tony Ramos com suas luvas de pelo um sex symbol?

Veja, isso tem a ver com o mundo inteiro te dizendo que, a princípio, você está feia. Que seu corpo está errado. Que você não está sendo suficientemente alguma-coisa. A gente fura a orelha pra pendurar brinco antes de saber andar. E daí pra frente isso destrambelha de um jeito tal que quando chegamos aos 20 estamos pagando por serviços estapafúrdios, como permanente de cílios. Em 2014, as brasileiras lideraram o ranking mundial de cirurgias pra diminuir os lábios vaginais (quem falar que a gente faz isso porque quer, volta dez casas e passa duas rodadas lendo um livro-texto de sociologia).

Cafa > Aqui concordamos em partes. Certa vez, conversando com uma amiga venezuelana, ela me disse que as mulheres por lá desde pequenas são ensinadas a se portarem como miss e me mostrou um vídeo da sua prima de (sei lá) três anos de idade andando de salto alto, toda maquiada e fingindo desfilar. Aquilo pra ela e a mãe era o máximo da fofura, pra mim uma estupidez sem tamanho. Do lado de cá do sexo, já vi vários pais incitando os filhos de 4 anos, que mal sabe a função do pipi, ir lá e beijar a menina ou andar de mãos dadas como se fosse sua namoradinha.

Essa erotização infantil é algo tão comum no nosso país que chegamos ao extremo de referências infantis serem Xuxa e Carla Perez. E isso não acabou, segue perpetuando-se em letras de funk do estilo “Baile de Favela” (que possui o maravilhoso refrão “E os menor preparado pra fuder com a xota dela”).

Porém, discordo na questão da cirurgia. Há pessoas que simplesmente não estão satisfeitas com seu corpo, seja porque não possuem peito, estão ficando calvas ou porque possuem pequenos (grandes) lábios vaginais ou um pintinho. Se há a possibilidade de corrigir algo que terapia não resolve, qual o problema? 

Em uma menor escala, eu comecei a ficar grisalho com 21 anos. Porém não era algo uniforme e sim uma mexa ridícula no topete. Todas as pessoas que eu conversava, reuniões que eu fazia, ficavam olhando pra porra do topete. Eu não achava aquilo bonito, nem sexy. Comecei a pintar e me senti bem. Depois de alguns anos ficou uniforme (o grisalho), mas ainda uso um pouco de tônico, pois se deixar eu aparento 40 anos de idade. Não quero parecer velho, e usar tônico não me faz uma pessoa fútil, manipulada ou que precisa ler livros de sociologia, apenas olho para o espelho e gosto do que vejo agora.

Enfim, voltando ao meu novo mantra, ele causou um efeito surpreendente nos meus relacionamentos com homens: nada mudou. Eu continuei saindo com homens. Continuei namorando homens e transando com homens. A única diferença relevante é que, como num passe de mágica, me livrei dos caras que transavam mal.

Cafa > Genial essa conclusão. Nesse texto você começa o raciocínio levantando a bandeira de como as mulheres devem evitar padrões de comportamento ditados pela cultura machista, mas morre na praia buscando homens que trepam bem. Profundidade de um pires.

O sexo era mais gostoso. Mais carinhoso, mais safado, mais bambeador de perna. Não tinha frescura. Esses caras, inclusive, eram muito mais seguros sobre aquilo que gostavam e não tinham medo de pedir. Dava pra ver que eles sentiam tesão no meu prazer. Eles também tinham três importantíssimas vantagens sobre os outros: nunca tinham frescura com uso de camisinha (ela sempre estava lá e sempre era usada); sempre faziam sexo oral; e não fizeram perguntas ou comentários desnecessários a respeito do tamanho do pau deles.

Outra vantagem enorme de abandonar esses rituais feitos pra entreter homens que provavelmente não saberão te chupar é que você economiza tempo, dinheiro e sofrimento (uma depilação a cera de axilas+virilha+pernas não sai por menos de R$70, sangue, suor e lágrimas).

Cafa > Aqui você subestima a inteligência das mulheres tachando que o uso de maquiagem/depilação é fruto de uma mente frágil manipulada por uma indústria cosmética machista. E pior, pensei que seu raciocínio seguiria a linha do “essas coisas superficiais só atraem homens superficiais”, mas não, fica ainda mais rasa, pois isso só atrai homem que não vai saber te chupar. Ou seja, adote o estilo mulher das cavernas e você ganhará um gorila exímio chupador de xoxota. Pelo amor..

Então, proponho esse exercício: pare de se importar tanto com o que o mundo espera da sua aparência. Você não gosta do cara do jeito que ele é? Com a barba que cresce irregularmente, umas 3 espinhas na cara e o tênis velho de guerra todo arregaçado? Então por que ele, do alto de sua naturalidade, só conseguiria gostar de uma boneca toda trabalhada em primer redutor de poros e micropigmentação na sobrancelha?

Cafa > Você começou bem, mas de novo voltou a análise para o seu microcosmo. Não faça o seu gosto e estereótipos uma regra universal. É bem provável que um cara desprovido de vaidade tenha mais desinibição na cama por ter menos com o que se preocupar na hora de ficar nu. Agora isso não faz dele uma pessoa honesta, carinhosa, decente, etc.

No fim das contas, isso não é só sobre sexo ou homens, isso é sobre quebrar essa ideia tóxica de que você não está aceitável como mulher enquanto não alterar a sua aparência. Lembre-se que existem poderosos executivos comprando carros e iates caríssimos com a grana que a gente gasta em tubos de creme para celulite (que não fazem nenhum efeito, sabemos). Faça-se um favor e dê à esses caras um sincero “foda-se”. Eles provavelmente fodem mal também.

Cafa > Olha só como falta coerência no teu discurso, assim como a da maioria das feministas modinha. Você começa a conclusão falando “isso não é só sobre sexo ou homens” e termina falando que um tipo de homem provavelmente “fode mal”. Mas ok, vamos para o meio da conclusão, que é no mínimo interessante.

Você vomitou, em poucas linhas, um brainstorm de toda sua ojeriza por homem bem sucedido, sociedade capitalista e cosméticos. Mas ele não sustenta o discurso feminista. Da mesma forma que há ~executivos milionários poderosíssimos~, há executivas milionárias com tudo o que você falou e ocupando altos cargos em grandes multinacionais. Sim, algumas não trepam tão bem, muitas pelo mesmo motivo que o cara vaidoso, mas ao invés da preocupação estar no corpo, ela está na cabeça. Possuem uma rotina estressante, metas para bater, e quando são empresárias é pior ainda, pois são responsáveis por milhares de pessoas abaixo.  Conheci muitas desse perfil e não tinha ódio ou bravejava o desempenho sexual delas para mascarar o fato de que eram mais bem sucedidas que eu.

Veja bem, minha crítica nesse texto não é a respeito da luta das mulheres por igualdade. Acho fundamental que essa luta continue, pois o machismo ainda é forte na nossa sociedade. Trabalhei em lugares que supostamente todo mundo era igual, mas na folha de pagamento 90% das mulheres ganhavam menos e exerciam as mesmas funções dos homens. Feminista modinha, por exemplo, enchem o saco, pois o Temmer não colocou uma mulher como ministra, mas nossa população é composta em sua maioria por mulheres (51,6% pra ser mais exato), mas em todas as esferas políticas elegíveis pelo povo a maioria esmagadora é de homem (pra ser mais exato, menos de 10% dos deputados são mulheres e no senado 18%). Por que não fazer a crítica em um movimento de conscientização de voto a esse respeito?

Há muito que ser feito, e obviamente que a discussão não se restringe a política, mas enquanto perde-se tempo em coisas babacas como pelos no sovaco, a busca da chupada perfeita, etc nada muda.

Por fim, não é porque algumas pessoas encontraram a felicidade em um tipo de homem ou abolindo a gilette do armário é que todas as mulheres irão se realizar com tal renúncia. Viva as diferenças, seja qual for o gênero das pessoas.