Dia das leitoras – Homem de fora

Recentemente recebi duas histórias bastante parecidas a respeito de leitoras que mudam de cidade / país e se veem perdidas em como se adaptar à nova realidade local. Por isso, resolvi fazer uma dobradinha de Dia das leitoras.

História I

“Oi, eu tenho 24 anos e sou formada em jornalismo.  Então, não sei muito bem como começar minha história, mas vamos lá. Sempre tive o sonho de morar estudar nos EUA, e há alguns meses comecei um mestrado em comunicação de massa no que eu acredito que seja o pior estado desse país.

Brincadeira, provavelmente tem  piores. Mas, estou morando em um estado vermelho, cheio de apoiadores de Trump e estou com muita dificuldade para fazer amizades.

Cafa > Olha, apesar de imaginar o horror que é morar em um estado com pessoas com mentalidade estreita e xenófobas, há sempre exceções e expatriados para conhecer, ainda mais em um país cosmopolita e repleto de imigrantes.

Quando cheguei, estava namorando sério com um cara que está fazendo intercâmbio na Austrália. Nos tínhamos planos de casar, de vir morar juntos. Procuramos advogado de imigração aqui juntos para que pudéssemos fazer uma vida aqui.

Mas, não sei o que aconteceu comigo aqui que comecei a ter várias dúvidas sobre o que sentia em relação a ele. Não queria ligar para ele e contar o que estava acontecendo, não sentia vontade de estar com ele. Acabei dispensando a oportunidade de passar o ano novo com ele na Costa Rica, cheia de desculpa boba.

E no meio disso, mesmo me sentindo muito sozinha, eu não queria muito o carinho do cara que supostamente era ‘o home da minha vida’. E ao mesmo tempo, comecei a me sentir balançada por esse carinha da minha turma que eu não sabia nada a respeito (meia aquela coisa que talvez tenha a ver com a história “caída pelo vocalista” – sempre namorei sério). Enfim, resolvi terminar o namoro. Não achei que era justo continuar com ele com tantas dúvidas.

Cafa > Você não acha que com 24 anos ainda é um pouco nova para fazer planos de casar e sentar a poeira? Tira um pouco esse peso das costas e foca mais no seu desenvolvimento pessoal.

Um mês depois que terminei, casualmente começo uma conversa no corredor da faculdade com o carinha. Ele me perguntou o que eu ia fazer a noite, e eu disse que ia com uma amiga (que é super enrolada e vive me dando bolo haha) em um evento no meu prédio e perguntei se ele não queria ir com a gente. Ele disse que sim.

Antes de nos encontrarmos, ele me manda uma mensagem e me pergunta se estou indo no tal evento mesmo e eu disse que sim, mas que minha amiga tinha me dado um bolo, e eu iria sozinha. Ele disse que me encontraria lá. Quando nos vemos, começamos um papo que não acabou mais.

Conversamos a noite inteira. Ele disse que também estava se sentindo deprimido, sozinho. Que o estado que estamos é muito diferente do estado dele (Ohio) e eu contei várias coisas para ele da minha vida. E bom, ele parece ser um cara bem bacana, sabe? Viajado, ambicioso, bonito. E no meio da conversa, eu contei coisas super pessoais de problemas familiares, acabei chorando no ombro dele.

Cafa > A sua carência está fazendo você ficar cega e queimar etapas. Bacana rolar a sintonia no papo. Porém, abrir muito da vida pessoal no primeiro encontro (ainda mais chorar no ombro de um gringo), pode parecer desespero e mulher-problema à vista.

Teve uma hora que ficamos super perto de nos beijarmos, e ele esquivou. Disse que queria ser meu amigo. Mas, depois me levou para casa, subiu comigo no meu apartamento e ficamos conversando por um tempão. Como já era super tarde, acabei caindo no sono no ombro dele e ele foi embora.

Cafa > Coitado do ombro do gringo, virou o ombro das lamentações.

Você talvez não esteja muito habituada como funciona a mentalidade da maioria dos americanos. Não que eu seja um, mas tenho alguns amigos de lá e conversamos bastante sobre relacionamentos e tal.

O fato de ele conversar com você a noite toda e subir pro seu apartamento não significa ele ter interesse em você como mulher . Mas te entendo, já que no Brasil o convite pra subir é quase que o início de uma preliminar.

Depois mandei algumas mensagens no que ele respondeu todo animado. Eu pedi desculpas por ter dormido, e ele disse “sem problemas, ontem foi muito legal ter passado tempo com você” – uma conversa nesse sentido. Relaxa, já sei que ele não esta interessado em mim. Homem quando quer toma atitude, né? Ainda mais depois dos meus flertes.  O problema é que acho que estraguei qualquer amizade que poderíamos ter.

Cafa > “Depois mandei algumas mensagens”, posso imaginar quantas e a intensidade. 

Novamente, você está levando a sua mentalidade sobre homens brasileiros e aplicando no coitado do gringo.

Brasileiro gosta de fazer um drama, de paixão instantânea, das oscilações de sentimentos (hoje te amo, amanhã te odeio). Nossa vida sentimental é quase uma novela das oito. Não tem muita lógica, mas emoção não falta.

Gringo prefere conversar e conhecer a pessoa (as vezes por dias) antes de trocar saliva.

As coisas na aula quando nos entramos tem uma sensação esquisita. Eu realmente quero fazer novas amizades aqui e tem sido muito difícil. Se ele não me quer, tudo bem. Mas eu ainda acho que me faria bem ser amiga dele.

Acabei de mandar uma mensagem para ele chamando ele para passar tempo e ele disse que esta ocupado, para a gente encontrar outro dia. E é meio que verdade, a gente tem oito trabalhos para entregar no decorrer dos próximos 10 dias. Eu mesma deveria tá editando uns vídeos agora…

Eu queria sair com ele para falar que as coisas não precisam ficar esquisitas, me desculpar se eu tornei a situação inconveniente. Enfim, acho que pelo visto não vou ter essa oportunidade. Mas, queria um conselho sobre como (re) conquistar a amizade dele. Já morei fora antes por mais tempo do que estou aqui e eu nunca me senti tão solitária, com tantas saudades de casa e tão triste.

Ia fazer uma grande diferença ter uma pessoa legal para jogar conversa fora de vez em quando, descontrair mesmo. A carga de trabalho aqui é muito puxada e ia facilitar ter uma vida social um pouco mais abrangente, rs”.

Cafa > Me parece que você está misturando um pouco as bolas aqui. Você quer um homem para passar o tempo ou amizade? Ambos? Do jeito que tá, parece o Fantasminha Camarada da paquera que ao invés de buscar amiguinhos, busca casinhos.

A vida no exterior, ainda mais sozinho(a) não é fácil. Essas diferenças culturais, hábitos, língua, tudo joga contra à nossa zona de conforto, e os truques que temos para conquistar as pessoas nem sempre são os ideais fora.

Se você quer ter mais sucesso, precisa abrir mais a cabeça (tirar um pouco desse estigma “eleitores de Trump”, por exemplo) e absorver um pouco o modus operandis dos americanos. Isso não é renegar a sua origem, mas adaptar ao que você tem de melhor com o que o outro gosta.

Não há certo ou errado, apenas diferenças culturais. E como você é a estranha no ninho, o esforço para adaptação precisa vir de você, não do outro.

Se você está buscando amizades e não consegue nada na faculdade (o que eu acho esquisito), sugiro que você dê uma olhada no https://www.meetup.com, se está buscando companhia masculina, Tinder ou Happn.

História II

“Olá Cafa, sou uma leitora antiga e nunca me manifestei por aqui antes. Porém, o tema polêmico sobre mulher com atitude me chamou a atenção. Até porque o que mais tem me chamado a atenção são as atitudes ( na vdd, falta) dos homens. Eu morava em Goiânia e nunca tive problemas em me relacionar com alguém, sempre namorei e qnd tava solteira sempre tive a geladeira cheia. Qnd mudei para São Paulo, me senti completamente fora da caixinha. A mulher mais feia, com bafo ou algo mto esquisito na cara. Ja cansei de contar quantas vezes ia em baladinhas, trocava olhares e nada. Se ficava com alguém, trocávamos telefone, conversava durante a semana inteira com o “fulaninho”, ai ele aparecia na sexta perguntando o que eu iria fazer e qnd eu dizia “to sem planos”, me ignoravam. Tem aqueles que aparecem sempre, dão um “oi” para demonstrar q lembra de vc mas, chamar pra sair que é bom nada!!! E é só voltar pra minha cidade e ir num barzinho q a minha auto-estima volta com tudo. Ñ sei realmente se o problema é comigo, com o lugar q estou morando ou a soma do dois. Mas a diferença de atitude masculina de uma região para outra é gritante!!!”

Cafa > A sua história é bastante parecida com a anterior, guardada as devidas proporções regionais.

São Paulo é uma cidade com população maior que muitos países (juntos), você consegue encontrar gente de todos os estilos, gostos e atitudes. O ponto é que provavelmente o seu estilo não deve estar em consonância com os homens dos lugares que frequenta.

Por exemplo, se você sair em regiões como o Itaim, Jardins e Pinheiros, normalmente vai encontrar aquela galera arrumada fru-fru de escritório, muitas vezes atrás de status e sem paciência para pessoas muito expansivas. Se der um pulo na Baixa Augusta, vai encontrar a galera alternativa pé-sujo, que prefere um jeito mais relaxado, gosta de assuntos profundos e faz amizade com estranhos com mais facilidade. Se cair nos sertanejos risca-faca de bairros periféricos, pode ter certeza que mesmo se estiver vestida de pirata, vai ter homem chegando junto.

 Não sei qual é o seu estilo, mas assim como a leitora da história anterior, talvez você não esteja em linha com o lugar que frequenta (seja visualmente como nas atitudes). Lembro que quando eu morava em Santos fazia maior sucesso na faculdade com as minhas regatas e jeito caiçara descolado. Quando mudei pra faculdade em São Paulo, me senti em um circo no primeiro dia de aula, onde eu era a atração. Todo mundo extremamente arrumado, perfumado e eu de chinelo, regata, gel no cabelo (algo completamente cafona na época) e comendo doce de mocotó no intervalo. Fiz a minha marca no lugar, mas enquanto não adequei meu estilo, nunca peguei ninguém.

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Quer mandar a sua história para que eu (talvez) comente e publique? É só enviar para cafa@manualdocafajeste.com; Caso queira manter o sigilo e ter certeza que sua história será comentada contrate o Cafa Responde (máx de 2 páginas / arial 12).