Ao lado de San Diego e Dublin, Sydney deve ser uma das cidades fora do Brasil com mais brasileiros. É comum no transporte público ouvir alguém falando português. Sempre que percebo um casal brasileiro nas redondezas, aproximo discretamente para ouvir a conversa, é um bom estudo sobre as relações humanas (ou pode chamar simplesmente de fofoca).
Quando você mora em um país que (quase) ninguém fala sua língua, é comum você não ter filtros pra conversar na rua, então digamos que é bastante interessante ouvir os relatos. Ontem, foi a vez de acompanhar um casal.
O cara era o perfeito fantoche de brasileiro, boné alto/aba reta, tatuagem aparente, barba por fazer, bermuda comprida, camiseta surf/skate style e gírias de mano. A menina era ok, mas insuportável. Estávamos na estação aguardando o trem e durante os 10 minutos de espera, ela fez o cara responder quem era cada uma daquelaszinhas que haviam curtido um post fofo que ele fez no Facebook.
Algumas das garotas das curtidas já estavam no mapa mental ciumento da garota e assim que o cara dava uma breve explicação babaca sobre a menina, ela já emendava um comentário chato “Ah, essa dai comentou o seu post da semana retrasada. Não sei o que essa japa tá buscando”. E ai o cara tinha que replicar. Minha vontade era olhar fixamente para os dois, soltar um “credo” e sair andando. Mas poderia gerar barraco e achei melhor entrar em um vagão diferente do deles.
Há alguns dias, recebi a história de uma leitora que padece de um mal parecido com a da garota do metrô, ela sufoca os parceiros.
Vamos ao relato:
“Olá Cafa, tenho 27 anos, moro no interior de Minas, tenho 2 pós e estou tentando o mestrado. Estou trabalhando bastante para comprar meu 1° apartamento no inicio do ano que vem. Estou caseira inclusive nos finais semana. Comparado com as outras pessoas, tive poucos paqueras na vida. Perdi a virgindade com 22 anos, e até agora tive uns 5 ou 6 “ homens na vida” mas os que realmente marcaram foram os 2 últimos que vou contar nesse e-mail. O problema que me deixa angustiada é que tenho 27 anos e nunca tive uma relacionamento sério Cafa!
Cafa > Aqui começam alguns pontos que ajudam a entender o seu conflito. Conheci muita mulher do interior (seja de São Paulo, Minas, Bahia, etc) e uma das grandes queixas delas é a respeito da repressão que tiveram para não ficar “falada” na cidade e por isso se relacionaram com poucos homens no início da fase adulta e criaram alguns (mau) hábitos pela falta de experiência.
Uma coisa, porém, que você precisa trabalhar é essa questão da angústia/desespero por ter 27 anos e nunca ter tido um relacionamento sério. Veja só, eu com toda experiência que tive e morando em uma grande cidade fui ter um namoro sério com a sua idade.
De repente você não teve a sorte de encontrar alguém legal ou anda fazendo besteira quando conhece. O problema de você atacar apenas a ponta do problema (“preciso ter uma relação séria”) faz com que você fique pegajosa, ciumenta e chata.
Conheci um rapaz no tinder no final de 2014. Ele tem a minha idade. Mora em outra cidade (70 km da minha). Era tudo ótimo, ele sempre atencioso comigo com direito a mensagens inesperadas, elogios, musiquinhas, telefonemas, satisfações sem eu pedir “ Mel, não te liguei hoje pois estava trabalhando”, “ Mel amanhã vou estar em tal lugar” etc. Sempre admirei a inteligência dele, é do tipo de cara nos faz querer evoluir, aprendi muito nesse “relacionamento”. Todavia, umas 2 vezes ele falou pra gente ir com calma pois morávamos em cidades diferentes.
Cafa > Isso é desculpa. A distância (70 km ) não é suficiente para frear uma relação.
Acontece que passei do ponto Cafa, me empolguei demais e acho que fui chatinha mandando várias mensagens, coisas de mulher apaixonadinha. Surgiu um concurso que ele se interessou. Me pediu “um tempo” para se dedicar totalmente a isso. Falou que ia dar um break na vida pessoal, entrou em um curso intensivo e cogitou sair do emprego pra estudar. Eu não respeitei o tempo dele, fiquei insegura, fiquei mais chatinha ainda e ele “ terminou” definitivamente comigo.
Cafa > Olha, pra você assumir que foi chatinha, eu posso imaginar a intensidade. Mulheres sempre dão uma suavizada nos defeitos.
Entendo que as pessoas possuem seus objetivos, mas esse lance de “dar um break na vida pessoal” me parece absurdo. O cara pode reservar um horário para estudar (e de repente até sair do trabalho), mas lazer e descanso fazem parte de uma vida saudável e que influencia (positivamente) passar em concurso. O ponto é que pelo visto você queria mais que o tempo de “lazer” com o cara e ai ele decidiu dar um break.
Mas não foi o fim, depois disso e depois da prova dele ficamos algumas vezes ano passado, pessoalmente tudo perfeito ( jantares, barzinhos, papo fluindo, tempo voando, dormir abraçados a noite toda, sexo delicioso ..) mas no whats quando eu tocava no assunto do nosso relacionamento era discussão certa. Temos 352436 horas de DR por whats e email. Me surpreende a paciência dele!!!.
Cafa > Que coisa bizarra, vocês só tinham DR no Whatsapp? Por que não conversar pessoalmente? Não acha que falta um pouco de maturidade entre vocês?
Várias vezes ele falava que não era certo a gente ficar pois isso empatava minha vida pessoal, que eu tinha valor, que não era mulher qualquer e que enquanto a gente ficasse eu não ia conhecer alguém e namorar pois estaria focada nele. Então no final do ano passado paramos de ter contato. Retomamos contato ( parece coisa mal acabada Cafa, sei lá) e fizemos uma “ despedida” agora em setembro foi tudo maravilhoso como sempre, mas depois no whats tivemos a mesma DR e ele falou que era melhor a gente ficar de 6 meses a 1 ano sem contato e a partir daí reaver se eu ainda quisesse a amizade. Estou bloqueada ( falei que era pra ele me bloquear se não eu ia acabar falando com ele sim).
Cafa > Quem lesse esse trecho, sem as devidas apresentações, jurava que são dois adolescentes discutindo.
Durante o tempo que fiquei sem contato com ele no final do ano passado conheci um rapaz em uma cidade no interior do Rio, onde eu trabalhava na saúde pública 2 vezes por semana. Ele é médico de Belo Horizonte e os dias de plantão dele nessa cidadezinha batiam com meus dias de trabalho lá. Fomos gostando um do outro e começamos a ficar sempre. Como a cidade era pequena todos ficaram sabendo, ele disse aos outros médicos amigos dele que estava namorando comigo, ficávamos de namoradinhos, mãozinhas dada nas festas da cidade. Eu recebi uma proposta de emprego melhor na minha cidade e pedi demissão, mesmo assim ele continuava a me visitar na minha cidade. Só que mais uma vez acho que fiquei chatinha Cafa, mandando muita msg, insegura, até que ele falou que não queria namorar por agora.
Cafa > Bom, se ele falou que “não queria namorar por agora” subentende-se que você sugeriu (ou intimou) uma oficialização dessa não-relação. Você sabe lá no fundo que está fazendo merda, né? Não estou defendo o cara, nem dizendo que ele é um santo, mas você tem vacilado demais.
Mesmo assim continuamos a ficar. Até que no inicio desse ano ele sofreu um acidente de carro grave. Quis visita-lo em BH, onde ele ficou internado, mas ele não deixou, disse que não adiantaria pelo horário apertado de visitas. Combinamos um encontro quando ele tivesse um pouco melhor quando saísse do hospital. Acontece que na outra semana ele me revelou que estava saindo com uma pessoa e que ela era da cidadezinha que nos conhecemos (?!!?!) Até hoje não entendi nadaa Cafa. Se ele estava namorando com ela, não entendo pq estava planejando encontro comigo na semana anterior.
Cafa > Mas quem disse que ele estava namorando a garota? Ele ou você supôs em mais uma onda de ciúme? Aliás, pelo que você comentou anteriormente, ele havia “confidenciado” para os amigos do trabalho que estava namorando com você. Enfim, está faltando coerência nessa história.
Depois de 3 meses ( agora em setembro) fui na cidadezinha para um casamento de um amigo em comum e ele estava com a moça, ela é técnica de enfermagem e mora e trabalha lá também. Eu não conheço a moça, mas quando questionei sobre ela, meus amigos e outras pessoas que conhecem não falaram bem, disse que é meio mal educada, um pouco sem noção no trabalho, “galinha”,entre outros adjetivos do tipo.
No casamento teve um momento que eles levantaram e foram ficar se abraçando perto da minha mesa. Não entendi nada sobre isso também. Fiquei triste e meus amigos perplexos. Ele que sempre disse que gostava muito de mim, que não ia querer perder minha amizade, que conversávamos quase todos os dias e mudar a cabeça de uma hora pra outra .. não entendo Cafa.
Cafa > Não foi de uma hora para outra. O cara é solteiro, assim como você. Provavelmente ele estava ficando com as duas ao mesmo tempo (o que é normal, quando não se tem compromisso). Talvez por você ser chatinha ou simplesmente por ele ter tido mais química com a outra garota, você acabou sendo preterida. Não tem nenhum mistério aqui ou uma mudança súbita de opinião.
Teve um momento no casamento que ele foi na minha mesa, cumprimentou todos meus amigos e quando foi falar comigo falou “ oi gatinha” era o modo que nos chamávamos carinhosamente quando ficávamos. Ele quis brincar comigo Cafa? Atualmente ele não quis mais minha amizade de ficar batendo papo no whats ( sendo que antes ele falava que não ia querer perder a amizade).
Cafa > Para com essa coisa boba de Whatsapp. Você não beija, não troca olhares, não sente a pessoa por mensagem. Ele foi moleque de te chamar de “gatinha” na festa, mas isso não tem segundas intenções.
Enfim, foi um ano só de decepção cafa, peço sua ajuda para sair desses ciclos que sempre entro. Não quero sair por aí ficando, quero um relacionamento sério. Qual postura devo ter para atrair isso e passar a mensagem certa para homens? Onde os rapazes de qualidade se escondem Cafa ? Eu não quero sair, ir pra barzinho estando solteira, estou em uma fase que gostaria de ir acompanhada por um namorado. Quando conhecer alguém legal qual deve ser minha postura ? Qual é o momento certo de transar Cafa ? Meu caso é caso de terapia ? Você veria com maus olhos alguém de 27 que nunca namorou sério ?
Cafa > Você sabe que o problema está contigo. Não tente terceirizar nomeando “ciclos” ou “rapazes de má qualidade”. Como eu disse anteriormente, enquanto você apenas se preocupar com a ponta do problema (encontrar um rapaz de qualidade e namorar), nada vai mudar.
Terapia sempre é uma boa para você entender melhor sobre seus traumas, ideias fixas e tal. As vezes a gente consegue trabalhar alguns defeitinhos sem psicólogo, outras vezes é preciso ir lá no fundo da psique para desatar alguns nós que surgiram na nossa formação (principalmente se você teve pais repressores na questão sexual).
As vezes seu discurso é confuso. Você fala, por exemplo, que não quer ir pra barzinho sozinha, pois quer ir com namorado. Porém, como você vai conhecer alguém se não for no barzinho? Tinder? No trabalho? Pode até ser, mas sair com as amigas para bares é também uma forma de conhecer homens (as vezes até melhor que o Tinder).
Não existe uma fórmula sobre quando você deve transar ou como deve ser comportar. Do contrário todas as mulheres seriam iguais e todas seriam sem graça. O que você deve evitar são os extremos, bancar a recatada ou trepar no lustre.
Pela sua narração, você tem sido terrivelmente chata, pegajosa e infantil (com essa questão de Whatsapp). Pare de cobrar oficializações de relação, exigir atenção, respostas imediatas, etc. Leve essas não-relações com mais suavidade e deixe a coisa fluir. Se o cara te curtir (e vice-versa) namorar será uma consequência e não causa (como você tem lidado).