Como me transformei em homem sério?

Gostaria de agradecer por todas as contribuições enviadas pelas leitoras no Facebook e e-mail a respeito de temas que gostariam de ver publicados no blog. Já tenho uma boa lista para os próximos posts. Se quiser enviar sua sugestão, por favor mande aqui > cafa@manualdocafajeste.com

Um dos assuntos mais solicitados pelas leitoras foi como se deu a minha “transformação” de cafa para um homem “sério”. Eu cansei dessa vida? Foi uma mulher? Mulheres podem mudar os homens?

Foi um pouco de tudo.

Nos vinte e poucos anos normalmente estamos decolando em um monte de coisa, hormônio, sexo, corpo, carreira e intelecto. São tantas mudanças que queremos provar de tudo, ter experiência, arriscar e curtir a vida ao máximo. Em todos esses pilares, normalmente os homens colocam o relacionamento sério lá atrás das prioridades. E muitas vezes quando acontece, namorar é apenas  mais uma forma de acumular outra experiência. Comigo não foi diferente.

Somado a isso eu fui um adolescente feio e rejeitado, quando finalmente comecei a melhorar a última coisa que eu queira era me encostar com alguém. Tive lá minhas namoradinhas, mas como as leitoras antigas bem sabem, duraram pouco.

Só que essa fase de deslumbramento passou. Consegui o que quis em minha carreira, fiquei no auge da minha forma física, sai com uma penca de mulheres, e ai? Qual o sentido disso tudo? Claro, não serei hipócrita, fazia sentido na época.

Aos 30 anos de idade, assim que eu terminei com a última ex, tive o último fôlego da vida solteira. Porém, ao voltar da viagem de volta ao mundo percebi que estava na hora de desacelerar nas relações casuais, definitivamente não fazia mais sentido pra mim.

O problema é que eu não tinha ninguém em mente que pudesse tentar algo sério, era só tranqueira. Não me preocupei e fui traçando o meu plano de mudar pra Austrália e tentar a vida por lá. Foi então que aos 47 do segundo tempo apareceu a minha namorada atual e desde então estamos juntos, firmes e felizes.

Posso imaginar as perguntas: “ah, mas qual foi o segredo?”, “o que ela tem de especial?”. Não tem fórmula mágica, foi um encaixe bom, muitos pontos de vista em comum, mesmas preocupações entre outras coisas positivas. Talvez tenha uma fórmula mágica, ela é minha versão feminina (ou eu sou a versão masculina dela). Não acredito que extremo opostos se atraem.

O mais importante de tudo é que a mudança precisa vir de dentro.  Há que reconhecer que uma fase se encerrou, para não bancar o ridículo de copiar uma vida que fazia sentido há 10 anos e se fechar para um mundo novo.

E isso não é uma ode a vida de casal. Tem gente que está feliz sozinho, com seus casos e seguirá assim até a velhice curtindo a onda no baile da Saudade. O importante é buscar aquilo que faz sentido pra si. Eu cansei daquela vida, mas é possível que aquele cara de 30/35 anos que você sai não cansou. E ai não adianta o quanto você bata cabeça e dê cambalhota, dificilmente vai mudá-lo.

Dia das leitoras – A evangélica

Evito falar e escrever sobre política e religião, pois são temas que geram discussões sem fim e quando você encontra um fanático (seja esquerdista, direitista, religioso ou ateu) o diálogo vira um monólogo e nada de útil sai da cabeça quadrada dessas pessoas.

 Posto isso, recebi a história de uma evangélica, que em um primeiro momento pensei em não comentar, mas acredito que algo dentro dela ainda tem salvação e por isso resolvi dar meu ponto de vista em sua história.

“Conheci um cara numa rede social, mas não tinha foto dele, nada. Eu nem curtia muito ele, descobri q morava ao lado da minha cidade.

Enfim me chamou em privado e passamos a conversar, eu sou evangélica, ele não, mas falávamos de tudo, eu sou de ler bastante, então assunto nunca faltou.

Cafa > Me surpreende alguém que lê bastante ter uma mentalidade tão conservadora, agir com tamanha infantilidade e escrever tão mal.

Contou mts dos erros e acertos, não escondeu a vida de cafa dele, eu não julgava, apenas aconselhava, pq via sentimento de culpa, riamos mt,falava bem das ex mulher, da mãe e dos projetos,me falou nome e sobrenome, onde morava e o q fazia, algo q não dava pra saber na net, pq o nome dele é um nick de personagem.

Me mandou seus poemas e incentivei ele a postar, e ele fez..havia cumplicidade.

Cafa > “Sentimento de culpa pela vida de cafa” é de cair o cu da bunda. Mas tudo bem, pois também sinto um sentimento de culpa em você pelas suas atitudes infantilóides nessa história.

Quando você fala que ele usa um nick e que lhe mandou poemas eu sou tragado pelo túnel do tempo e caio no bate-papo do Uol nos anos 2000. Um assombro. Não acha uma forma um pouco tosca de conhecer alguém hoje em dia?

Com a popularidade do Tinder e demais aplicativos que você não conversa com um personagem ou um abobado escondido no anonimato, fico a pensar porque você segue nesse lugar misterioso. Será pelo medo de alguém da igreja ver que você está buscando homens amigos?

Contei de mim, q estava chateada c um cara, e então ele pediu uma chance , a qual disse não. nossos mundos são opostos, expliquei. Vou a igreja e etc, ele tentava dissuadir e me pediu 45 dias de conversas online, sem trocarmos celulares ate data especifica na qual eu deveria dizer sim ou não . Conversávamos de 6 a8 horas ate…

Cafa > Que falta de sentido isso. Se você coloca o filtro religioso para conhecer alguém, então é melhor entrar em uma rede social de evangélicos, não? Ou então fazer uma peregrinação em cultos de diferentes templos evangélicos da sua cidade e ampliar seu circulo de “amigos”.

Ele queria mandar nudes, eu não queria, nunca mandei…mas um dia em uma conversa apimentada, ele mandou e eu mandei so de uma parte do corpo e fizemos sexo virtual..algo louco pq parecia mt real.

Cafa > Hehehe.. eu gosto que você conseguiu trazer em seu texto a contradição que virou a sua vida. “Eu não queria…nunca mandei….mandei de uma parte do corpo….fizemos sexo virtual…parecia muito real”.

Você caga regra sobre conduta moralista, da culpa pela vida cafa dele e tal. Ai corta a cena e você está excitada com a foto da piroca do cara, mandando peitinho para o desconhecido e acha tudo uma delícia.

E um dos motivos pra não querer nada c ele é q não quero sexo antes de casar..deixo bem claro pra, quem vem me procurar. Tenho 37,mas aparento 30, ele 31..disse a ele q isso tb era problema, ele não concorda.

Cafa > É muito louca essa neura medieval de casar casta. Eu particularmente nunca vou entender. É como decidir comprar uma casa sem visita-la, comprar um carro sem fazer um test-drive.

Porém, se é essa sua decisão, apenas me parece uma moralidade bastante flexível (ou incoerente) casar pura, mas excitar-se com pirocas desconhecidas e enviar peitinhos pra anônimo na web.

Enfim no outro dia ele me chamou, elogiou, disse q estava feliz. Ele é bonito, já me disse q nunca, foi atrás,de mulheres, elas q vão.

Cafa > Olha só, estamos diante de um pegador que frequenta chats online e usa nickname.

Há 5 anos solteiro disse q passou máximo 1 semana c uma mulher, eu disse q não daríamos certo, mas ele dizia q queria tentar, estava cansado da vida de solteiro

Após essa ultima conversa, ele não respondeu minhas mensagens, minha consciência pesou c nudes, enviei msg lhe pedindo desculpas pelo mal testemunho e q se precisaria eu estaria sempre pronta ouvi lo.

Respondeu 2 dias dos, dizendo q nunca deveria lhe pedir perdão e q estava c mt trabalho

Eu o deixei em paz após isso.

Mas, p quem disse q estava ocupado, esteve o dia td na rede social, parou de curtir meus posts e passou a falar sacanagem c a turma online, inclusive uma q me bloqueou e que é casada, mas dá em cima dele.

Posta frases de romance, ele é melancólico.

Cafa > Hahaha. Cara, isso muito é surreal: “Passou a falar sacanagem com a turma on-line inclusive com uma q me bloqueou e que é casada”, que grupo é esse? O que você está fazendo ali?

Eu cai numa cilada ne?? Faz 3 dias q não nos falamos. Enfim, perdi um amigo, pq desde o inicio eu queria isso, mas aos poucos ele foi conquistando. Queria entender um cara q parece o fodao pra td mundo, mas em privado e’ outro totalmente diferente.

Cafa > Você não caiu, você criou essa cilada. O cara é um tosco, que faz parte de uma comunidade tosca e você se enfiou ali se tornando uma tosca por tabela.

 Como eu disse, se você quer fazer amiguinhos nos templos não faltam opções.

 Porém, pelo que você relatou, algo ai dentro quer sair, mas tem medo e você entra em conflito entre sua moral evangélica e a vontade de relacionar-se com alguém “diferente”. Acho que é o momento de você deixar a religião como apenas um suporte espiritual e assumir as suas vontades.

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Dias das leitoras – Eu ou a filha?

“Eu fui uma adolescente boba, feia, sem auto estima. Me apaixonava fácil, aceitava humilhações e assim por diante… mas comecei a ler mais sobre relacionamentos e comportamento humano. Seu blog me ajudou a conhecer um pouquinho da cabeça das pessoas, principalmente homens, além de várias pesquisas, faculdade, etc. Hoje, com 30 anos, não tenho mais aqueles problemas de auto estima. Me acho bonita, interessante, estudei bastante, tenho um emprego razoável e continuo prestando concursos, sou doutora na minha área, morei fora. Enfim, mudei muito do que eu era. Acho que passei por um período de evolução, como todo mundo passa.

Cafa > Obrigado pela parte que me toca. Fico feliz sempre que leitoras comentam que meus textos ajudaram no seu desenvolvimento. 🙂

Sobre a sua evolução, esse é o “problema” de chegar aos 30 anos solteira(o). Cada ano que passa, estudo, trabalho e experiência vão fazendo com que fiquemos mais criteriosos e aquele par de músculos ou bunda torneada é bom de ver, mas não dá pra se envolver se o sangue que circula no corpo não oxigena o cérebro. Então, é natural que ao encontrarmos alguém com as mesmas ambições e valores uma relação fixa se estabeleça e dure. Aos 30 boa parte das pessoas bacanas já encontraram seus pares e ai o que sobra são os eternos solteiros, os demasiadamente criteriosos, os sem sorte e o refugo (que lidera o grupo).

Eu achava que eu tinha me tornado uma pessoa fria. Inclusive, a primeira vez que pensei em te escrever era para falar sobre isso. Mas desisti, e depois disso aconteceu um vendaval na minha vida. Explico.

Durante muito tempo, e depois de várias decepções, eu me fechei. Só tive um relacionamento sério. Sério que eu digo é de levar pra casa, conhecer a família. Tive outros que duraram algum tempo. Nesse mais sério, eu não era apaixonada pelo meu ex, que fazia tudo por mim e que dizem que me ama até hoje. Passei metade do relacionamento, que durou 2 anos, tentando encontrar uma forma para terminar, pois a família dele me acolheu muito bem, não queria magoá-los e no fundo achava que talvez o amor que ele sentia por mim fosse suficiente, mas não era.

Cafa > O que você fez com esse seu ex é exatamente o que o seu atual caso está fazendo com a mulher (mais pra frente no texto falarei a respeito), receio de terminar por causas externas. Pergunta retórica, mas o que é mais importante, sua felicidade ou a dos outros? Enquanto você perdeu 2 anos da sua vida com medo de magoar a família e o cara, perdeu a oportunidade de conhecer alguém que desse liga contigo.

Isso já faz quase oito anos e, desde então, me decidi que jamais começaria algo sem a certeza da paixão de ambas as partes e por isso não tive mais nenhum relacionamento sério. Todas as pessoas que eu começava a sair, eu encontrava defeitos. Ou eram mais novas e eu achava que estávamos em fases muito diferentes, ou eu pegava implicância pelo jeito de falar alto, de escrever errado, de não estudar tanto… nem sei se esses defeitos eram tão gritantes, mas para mim eram motivos para não prosseguir. Eu via minhas amigas falando de amor, e até comentava que sentia certa inveja, por não conseguir me envolver com ninguém.

Mas, aqui começa o vendaval.

Sou amiga de uma pessoa há algum tempo, mas nos últimos dois anos nos aproximamos demais. Somos colegas de trabalho e confidentes. Sabemos muito da vida um do outro e quando não estamos juntos no trabalho estamos nos ligando para contar o que aconteceu. Somos cúmplices, como costumamos dizer. Temos os mesmos objetivos, mesmos gostos, nos damos bem em tudo. Acontece que toda essa ligação foi se tornando paixão, e hoje até acho que pode ser amor.

Cafa > Não é. Pode ser uma paixonite devido a tantas similaridades, mas vai ser amor quando vocês forem pra cama, quando os meses passarem e a rotina chegar. Agora você só tem o melhor de uma relação, não o viu roncar, deixar a tolha molhada na cama, não lavar louça, peidar, ter crise de ciúme, etc. Não que ela faça isso, mas os defeitos vem com a convivência na intimidade, não em um ambiente de escritório em que todos vestem uma máscara corporativa. Vai com calma nessa não-relação.

Mas é ai que começa o problema. Ele é casado. Casamento recente, menos de 3 anos, mas que nasceu morto. Casou por ela ter engravidado numa recaída do namoro que já tinha terminado, e é perceptível que ele não é feliz com ela. Sei que pode me dizer que isso é grifo meu, mas todos a volta dele percebem também. Ele já desabafou algumas coisas comigo, já vi algumas coisas que ela manda para ele, então sei que realmente é verdade. Há uns meses ele pediu o divórcio, mas voltou atrás quando o  advogado falou sobre as dificuldades de ficar com a filha, que ainda é muito pequena.

Cafa > Eu sinceramente não entendo como uma pessoa estudada e esclarecida ainda carrega consigo um conceito medieval de que engravidou tem que casar. Veja bem, não estou falando que o cara tem que dar as costas e deixar a coitada literalmente carregar o peso. Porém, se não há amor entre o casal, por que diabos precisam casar? Pra não pegar feio pra família e sociedade? É preciso manter uma relação de aparências e viver infeliz em nome da família cristã? Credo.

O cara deveria ser maduro suficiente para pagar o boleto que a vida lhe trouxe pelas decisões erradas e má sorte que teve ao engravidar uma pessoa que não gosta. Agora vai ficar com uma bola de ferro no pé para ter tempo com a filha? Ele não tem que tomar a decisão com base no que o advogado disse, mas na sua consciência e bom senso.

Quando percebi que estava envolvida com ele, tentei me afastar, mas não consegui. Ele começou a demonstrar que gostava de mim e acabamos ficando. A esposa dele percebeu que ele mudou e começou a desconfiar de mim e me ameaçar para ele. Por conta dessas ameaças, ele começou a fazer algumas vontades dela, como voltar a usar aliança.

Cafa > Veja você, que tanto amadureceu ao longos dos anos agora se vê com um cara meio borra-botas que ~ começou a fazer algumas vontades e voltou a usar aliança~. Lendo isso, você não percebe como essa situação é ridícula?

Ele diz que não quer manter isso, e sabe que eu também não quero, mas que não sabe se tem coragem de se separar agora por causa da filha, apesar de me amar. Eu não quero ser feliz às custas da infelicidade de ninguém, então penso em sumir. Mas, por outro lado, penso que se eu der tempo ao tempo pode ser que as coisas vão se ajeitando, já que aparentemente eu encontrei a pessoa que buscava todos esses anos. Tinha me decidido em dar um “ultimato”, mas recuei, sei que se fizer isso agora estarei lutando contra a filha, e vou perder”.

Cafa > Você se apegou a esse cara como se fosse uma tábua de salvação para a má sorte (ou excesso de critério) de encontrar alguém. Como eu disse, por enquanto você tem o melhor de uma relação, não pode afirmar com certeza que ele é o cara. E enquanto você fica nesse chove-não-molha, não se abre para conhecer outras pessoas.

Dar tempo ao tempo é sempre uma opção, mas quanto tempo? Até a filha fazer 5 anos de idade? Entrar na escola? Você tem esse tempo? Daqui a pouco você está com 35 e se pensa em construir uma família e ter filhos vai ficar tarde.

Você não tem que lutar contra a filha dele, esse pensamento é errado. Você precisa ter uma conversa bastante madura com ele, que entende a situação que ele passa, mas que é insustentável pra você seguir sendo a outra. Se ele prefere manter uma relação de aparências e ser infeliz numa relação para manter a proximidade com a filha, é uma decisão dele, mas a sua felicidade não faz parte desse plano.

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Quer mandar a sua história para que eu (talvez) comente e publique? É só enviar para cafa@manualdocafajeste.com; Caso queira manter o sigilo e ter certeza que sua história será comentada contrate o Cafa Responde (máx de 2 páginas / arial 12). 🙂

Reflexões para 2018

Desculpem outra vez pelo atraso, mas no último mês minha vida ficou agitada, meus pais vieram me visitar e eu tirei férias com a minha namorada na exótica Bulgária e enquanto eu não estava comendo e bebendo, curtia as atrações do país (depois faço um post na coluna “Lazer”, pois fiquei positivamente surpreso), ou seja, não tive tempo, nem inspiração pra escrever.

Nessas férias, com a proximidade do Ano Novo, é natural que reflexões ocorram sobre o ano que passou e o futuro. Um dos pontos que reflito ultimamente é que quanto mais velho fico, mais complexa se torna a busca pela felicidade. Isso porque os principais desafios já foram vencidos, a felicidade das pequenas coisas fica rotineira (logo sem graça) e pra ajudar o corpo dá sinais que a jornada de ascensão chegou ao fim e passo a flertar com a ladeira. Não pareço otimista, né? Mas vou explicar.

No começo da vida adulta, lá pelos 18 anos você é um surfista iniciante com a pranchinha na mão olhando o mar. São tantos os desafios…(faculdade, carreira, mulheres ou homens, primeiro carro, apartamento, aprender um novo idioma, MBA, etc, etc) e assim que você cai na água e começa a passar as ondas, quebrar a arrebentação e sobe na prancha, a primeira marola vencida é quase a conquista do mundo.

Nos 30 é como estar sentado na melhor prancha, no melhor mar, cheio de experiência, lá no fundo esperando uma onda perfeita que nunca vem. E é nesse ponto que vejo a ruptura sobre a felicidade nos 20 e 30 anos de idade.

Nos 20 somos um produto do ideal da felicidade que nossos pais e sociedade nos doutrinaram, aos 30 temos (ou deveríamos ter) o discernimento do que para nós faz sentido e entender que a onda perfeita não existe e deixar o ideal de felicidade dos 20 para trás.

Tenho amigos que até hoje se arrastam em um emprego de status porque mantem a parafernália de coisas que virou a sua vida (mensalidade do clube, carro, roupas, faxineira…) e passam 12 horas do seu dia no trabalho envelhecendo 2 anos em 1, mas são felizes por suas coisas. Do outro lado, conheço pessoas que abdicaram de tudo para, por exemplo, ser garçonete no interior da Suécia, vivendo uma vida simples, mas com paz de espírito, longe da pressão dos outros.

Eu passei pelas duas situações, até o começo dos 30 estava no primeiro time, depois visitei o segundo quando morei na Austrália. Para mim, a felicidade não está em nenhum deles. Hoje, o que me faria feliz é ter algo sustentável e equilibrado.

Alguns dizem que a vida “se renova” com a chegada de filhos, mas sinceramente não consigo imaginar a composição de uma família bacana sem que pessoalmente eu esteja feliz. Não vejo filho como um amuleto da felicidade, mas a consequência de uma vida equilibrada.

Sempre penso se daqui a 10 anos estarei feliz com o que faço. Com 50 anos quero aparentar e ter problemas de 70 anos porque fiquei 12 horas do meu dia com a bunda sentada na cadeira e mal ter tempo de conviver com meu filho? Com 50 anos conseguirei ter dinheiro para pagar um procedimento médico no primeiro puta-que-pariu que der nele ou ficarei na fila pública interminável do hospital vendo-o sofrer?

Ainda estou um pouco longe de chegar ao meu objetivo, mas otimista que 2018 será um ano de mudanças. Espero que seja ótimo para vocês também.

Um Feliz Ano Novo!

Amizade entre homem e mulher

Pra quem meu o livro, sabe que meu relacionamento com o sexo feminino era muito simples, qualquer mulher do meu perfil era um alvo em potencial. Só que os anos passam, as prioridades mudam e a cabeça de cima consegue controlar melhor a debaixo.

Hoje, não tenho best friends mulheres, mas converso sem segundas intenções. E essa evolução no trato feminino as vezes gera inconvenientes. Um dos casos aconteceu com uma garota no meu trabalho que a chamarei de “alemã”.

No escritório não há lugar fixo, qualquer um pode sentar onde lhe convém. Só que após algumas semanas de trabalho já é possível identificar os chatos de galochas que sempre estão fuçando o seu computador, pessoas com tiques inconvenientes (por exemplo, uma garota que coça a garganta a cada 10 minutos), as que perdem 30 minutos relatando o sonho que tiveram na noite anterior, enfim, é necessário criar um mapa mental de pessoas a se evitar e assim grupinhos se formam por afinidades. A alemã fazia parte do meu. E apesar do silêncio que durava um bom tempo no grupo, volta e meia conversávamos sobre alguma amenidade.

Ela é uma mulher bonita, com traços físicos e psicológicos bastante marcantes, sisuda e racional como uma boa alemã. Apesar da seriedade, ela tem senso de humor. As conversas no dia a dia eram agradáveis e o papo fluía. Só que ai a coisa começou a ficar esquisita.

Toda Sexta-Feira os funcionários combinam de ir ao chinês da esquina fazer um happy-hour. Nunca fui muito fã desse lugar, onde servem cerveja morna e a mesa dividida com pombos. Maria começou a perguntar toda Sexta se eu ia no happy-hour. Na maioria das vezes eu tinha combinado algo com a minha namorada e falava que não ia, pois já tinha compromisso.

Aqui talvez seja o meu “erro” na história. Eu odeio mijação de território, aquela necessidade sem fim de falar de falar do(a) namorado(a) em cada assunto. Se depois de dois convites a pessoa recusou a saída e não deu uma alternativa, desencana que dificilmente dali sairá algo.

Porém, calhou de algumas vezes eu ficar no happy-hour pra bater papo com o pessoal, e todas as vezes que a alemã me via colava junto pra conversar. Eu não via problema, pois como disse é uma pessoa agradável, mas os papos começaram a ficar intimistas demais.

Maria começou a comentar de lugares especiais e isolados para ver o pôr-do-sol e gostaria que eu a acompanhasse, em outra ocasião comentou que tinha comprado um vinho alemão fodaço e fazia questão que eu provasse. Foi então que eu me dei conta que a alemã queria me comer.

Uma das poucas vezes na minha vida que me senti como uma mulher precisando dar um fora numa pessoa sem ferir os sentimentos e comprometer a amizade. Porém, já estava uma situação desagradável e eu precisa dar um basta naquilo.

Foi o dia que ela me chamou pra fumar maconha e acampar em um lugar x pra ver o sol nascer e que não aceitaria mais as minhas desculpas. Era um pot-pourri de erros. Além de não gostar de nenhuma dessas atrações, eu namoro e ela estava em um ataque beirando o desespero. Foi então que falei pra ela que não ia rolar, pois namoro e tal. No melhor estilo constrangedor.

Ela ficou meio puta, falou que eu deveria de ter informado desde o início que namorava e tal. Só que a garota está no meu Facebook (onde há fotos com a minha namorada) e pelas 3 ou 4 negativas anteriores, já deveria ter se dado conta que não rolaria.

Nos dias seguintes, ela passou a sentar em outros lugares e nossa conversa reduziu-se à condição climática na salinha do café.

Como eu disse no começo do texto, não acreditava na amizade entre homem e mulher sem que uma das partes não tivesse interesse pela outra em algum momento. Ai vem a maturidade e nos ensina alguma coisa sobre relações humanas, mas ai vem uma alemã e me dá um nó na cabeça.